Hora de voltar

Estava a começar a achar graça a isto. Já me estava a habituar a esta forma de pensar de quase todo um povo.

A forma como nos enterramos sabendo que isso vai ser a nossa perdição, como atiramos o problema para a frente na esperança de nunca o chegar a apanhar.
A forma como quando uma pequenina coisa muda pensarmos que já está tudo resolvido.

Tem sido assim nestes últimos tempos.
Gastámos e endividamo-nos até não poder mais para nos deliciarmos com inutilidades ou para parecermos mais sofisticados ou até para fazer uma certa inveja aos vizinhos e amigos.
Sabíamos que isso ia ser uma catástrofe e que as coisas não iam continuar assim. As taxas de juro variáveis variam e os carros novos envelhecem. As casas que são propriedade dos bancos precisam de obras ao fim de alguns anos e todos os problemas que chutámos para a frente vão lá estar à nossa espera com uma dimensão um bocadinho maior..

Bradamos por cortes cortes e depois berramos porque os cortes incidem não só sobre o desperdício mas também em coisas que dávamos como fundamentais e adquiridas. A curteza de vistas e a incapacidade de ouvir o que têm para nos dizer faz com que todos os avisos que foram dados há 100 dias tivessem caído em saco roto. Todos pensavam, ou quiseram pensar, que tudo tinha acabado assim que tinham posto a besta fora do poder. Auto convenceram-se e agora estão aborrecidinhos porque estão enganados.

Mas neste planeta toda a gente parece viver bem com isso. Temos jovens indignados e precários a fazer bicha para o iPhone 4 ou seguramente para o 5, que passam fins de semana fora e gostam de sair "para conviver". Basta que haja um jogo de futebol em que a equipa favorita ganhe, e esse jogo pode ser ao Sábado, Domingo, Segunda, Terça, Quarta, Quinta ou Sexta Feira, e todos ficam contentes e se esquecem do buraco de trampa onde estão metidos. Alguns cavaram-no sózinhos, outros foram arrastados para ele pelos que o abriram.

Só que hoje descobri que estou num mundo paralelo. Toda esta gente que eu pensava que era meio louca e incoerente de repente mudou. Como isto é mais ou menos impossível eu assumo que de alguma forma vim dar a este mundo paralelo.

Hoje descobri que neste universo existe alguma sensatez e percebem que um 1º ministro que nos dá más notícias e tenta pelo menos ser sério e honesto merece algum reconhecimento e apoio. Aqui apreciam a cautela. No meu mundo adoravam o optimismo cego e meio aparvalhado. Só faltava regarem-se de gasolina e acender um cigarro com a convicção optimista de que tudo corre bem.

No universo onde eu estava preferiam vigaristazecos de meia tijela, com diplomas falsificados, teimosos e incompetentes. Mas, cheios de carisma. Eu por acaso achava que estariam cheios de outra coisa, mas pronto, aceito que lhe chamem carisma.
Nesse meu universo a maioria dos jornalistas cuja função é informar, portam-se como deficientes mentais e fazem perguntas imbecis aos entrevistados à saída de um qualquer evento. São insistentes, mal educados e completamente desprovidos de ética.
Portam-se mais como peixeiras ou como arruaceiros a lançar observações provocatórias aos entrevistados.
Comentam cenários sobre especulações.
Lambem as botas ao poder qualquer que ele seja. Gostam de se sentir bem dizendo que são "jornalistas" e deixar passar a ideia de que isso lhes dá uma espécie de poder de fazer ou desfazer carreiras e vidas.

na verdade, portam-se assim também neste universo mas o povo, esse sim, parece mesmo ter andado a fingir que era estúpido.

Por um capricho qualquer da fisica vim parar ao universo paralelo errado. Tudo parece igual, mas as pessoas não. Não todas, apenas algumas.

Vou tentar voltar par o meu mundo onde o povinho vota em pessoas como Sócrates, Isaltino, Felgueiras ou João Jardim.
Onde os gestores são uma desgraça e apenas sabem despedir pessoas quando as coisas estão mal. São incapazes de abdicar das suas mordomias, mas são capazes de despedir alguém que ganhe 450 Euros por mês.
Onde os sindicalistas preferem manter a sua coerência ideológica e ver um desempregado que lhes possa dar atenção do que um empregado que se esteja a cagar para o que eles defendem.


Vou voltar para meu universo. Já não entendo nada do que se está a passar


Curteza de vistas ou tiques antigos?

Merkel vai onde nunca ninguém foi antes. E fá-lo com um atrevimento e uma arrogância que já custou à Alemanha e à Europa um sofrimento atroz.

Merkel coloca hoje a Alemanha numa posição de farol moral que não difere muito da pureza ariana defendida por Hitler e pelos ideólogos nazis.
Se uns defendiam a pureza e a superioridade da raça, Merkel defende uma espécie de pureza moral e ética que permitiria retirar a povos inteiros a capacidade de decidir os seus destinos.

Nem num estado federal as coisas funcionam assim. O grau de autonomia dos estados da "sua" Alemanha é maior que aquilo que ele pretende "dar" a quem não cumpra as normas do deficit.

A perda de soberania é talvez a proposta mais desavergonhada e evocadora dum passado terrível que a Alemanha alguma vez fez.

Não nos esqueçamos que a entrada destes países para a CEE não foi mais que a abertura de mercados enormes para a Alemanha. Estes países foram durante anos as vacas leiteiras da Alemanha. E à falta de dinheiro para comprar os bens de consumo que a Alemanha fabricava ainda a banca ganhava algum dinheiro garantindo ainda a cobrança de juros dessa dívida.
A Alemanha deslocalizou muita da sua indústria para países onde a mão de obra era mais barata e andou a saltitar com ela de país em país á medida que os salários iam subindo.
Adquiriu vários fabricantes automóveis e usou a sua capacidade produtiva para se transformar numa das maiores, senão a maior, potência industrial do sector automóvel.

O que a Alemanha subestimou foi a capacidade inata dos falidos de levar as coisas ao limite. E a Grécia assim o fez. E muito gastou com a Alemanha em comboios, automóveis, maquinaria pesada e até com a loucura que foram os jogos Olímpicos. A Alemanha reaveu uma parte do dinheiro que emprestou e ainda manteve a dívida e a cobrança de juros.

Hoje a Alemanha levanta a cabeça virtuosa e arrogando-se um estatuto de moralidade e ética que só conseguiu porque de uma certa forma toda a Europa transferiu para ela muita da sua riqueza.

No entanto a Alemanha no fim da 2ª Guerra Mundial (que ela própria iniciou com a anexação da Austria e seguidamente com a invasão da Polónia) só conseguiu sair das cinzas com a injecção maciça de dinheiro do plano Marshall. E com a não imposição de condições humilhantes como as do tratado de Versalhes no fim da 1ª Guerra Mundial. O desejo de não criar as condições de uma outra guerra permitiu à Alemanha manter a sua integridade territorial com a excepção da parte ocupada pela URSS. Livres de reconstruir uma enorme parte do seu país, a Alemanha era já nos anos 50 uma potência industrial. Renascer das cinzas de uma guerra em menos de 10 anos só foi possível porque quando precisou alguém lhe deu a mão.

Periodicamente a Alemanha tem estes tiques. São organizados, é verdade, mas são arrogantes e gostam de subordinar tudo a sua forma de ver o mundo. Em tempos foi a raça e o "espaço vital". Hoje é a maldita economia.

Como normalmente se diz - Se deves 1000 ao banco tens um problema. Se deves 1 bilião o banco tem um problema.
Espero bem que Merkel deixe de fazer figuras estúpidas e perceba que a sua bem amada Alemanha tem um problema e que precisa de trabalhar com os outros para o resolver. A não ser que a sua educação leste alemã traga à tona tendências totalitárias totalmente inaceitáveis nos dias que correm

Jardim, Seguro, Marinho e outros que tais

Nada de novo na frente Ocidental.
A não ser a ocasional notícia de um líder partidário desesperado por se fazer notar, ou de um líder regional desesperado por se fazer esquecer. Ou de um bastonário desesperado por desabafar.

Jardim parece agora num estado de total desnorte. Começou por ameaçar com a independência, depois mudou de ideias, talvez por saber que se a Madeira se tornasse independente tornar-se-ia inviável no mesmo instante, e agora já faz apelos envergonhados ao voto na sua pessoa junto de um povo que está a ver que o entusiasmo pelo seu líder megalómano vai ter de ser pago por ele.

Jardim, tal como o nosso "amigo" Sócrates e toda a pandilha que os rodeia, achou que seria possível perpetuar este estado de coisas. Duma forma realmente reveladora da sua curteza de vistas, pensaram que nada do que estamos hoje a viver se iria "notar".
Qualquer pessoa com uma noção básica das coisas percebia que esta constante fuga para a frente acabaria na banca rota. Isto era previsível desde os anos 90. Não viu quem não quis.

Jardim enveredou pela obra públicas. Auto estrada para cá e para lá, túnel, parque industrial aqui e ali, etc etc. Para uma população de 260 mil habitantes. Há qualquer coisa de louco nestes fulanos. E essa loucura é paga com aquilo que nos retiram do que ganhamos a trabalhar.

Seguro parece ser cada vez mais irrelevante. Argumenta como um tolo e inventa questiúnculas a partir do nada. Acha que Passos devia "zangar-se" com Jardim. Logo ele que nunca se zangou com o seu próprio líder que foi tão mau ou pior que Jardim. Pode argumentar-se que Jardim silencia os adversários.
Hum? E Sócrates? Listas de chamadas de jornalistas, PSP a ir à sede do sindicato dos professores, assessores de imprensa a telefonar aos jornais para calar o escândalo do seu diploma, entrevistas da RTP com a lagriminha no canto do olho a dizer que é Engenheiro com papelada completamente falsa etc etc.

Em que é que Jardim e Sócrates são diferentes? Em que é que Seguro se manifestou quando precisava da benevolência do maléfico líder? Em pouca coisa. Disciplina de voto e pouco mais. Rompe com o socratismo agora que ele não existe. Parabéns pela atitude de homemzinho. Agora qualquer um o faria.

Desprezo os dois pelo que fizeram a este país. Um erro não desculpa o outro e acho que os dois (Jardim e Sócrates) deveriam sentar-se no banco dos réus e ser julgados pela forma dolosa como desbarataram os dinheiros públicos.

Seguro está comprometido até ao pescoço com aquilo que o PS assinou ainda como Governo. Assim, resta-lhe andar a remexer na porcaria à volta destas questões patetas. Se a política já era irrelevante, Seguro ainda a faz descer a um novo patamar.
Não tardará muito terá a faca espetada nas costas. E atrás dele estará um sorridente António Costa finalmente deliciado com a possibilidade de vir a ser 1º Ministro. Seguro é um tolo. Um tolo incapaz.

Por estes dias também Marinho Pinto volta à carga. E eu tenho uma certa tendência a gostar daqueles que Marinho Pinto detesta. E ele detesta quem lhe faz frente.
Agora é a Ministra da Justiça.
E à falta de argumentação inteligente (pergunto-me quem é que quer ser cliente de um advogado assim) entra na má lingua. Segundo ele o Ministério é uma "coisa" de família e amigos da Ministra.
É curioso como Marinho Pinto não dizia isso antes. Não sei a situação presente, e ele até pode ter razão, mas no passado muito recente havia múltiplos casos de nepotismo que ele nunca referiu.
Não é que se possa justificar um erro presente com um erro passado, mas o que Marinho nunca faz é apontar casos concretos. A generalização é a sua estratégia favorita. 
Como um bom demagogo que é prefere lançar "bocas" sobre comportamentos dos magistrados ou fazer-se passar por defensor dos "probrezinhos". Ao mesmo tempo tenta a todo o custo evitar que apareça mais concorrência na classe indo ao ponto de limitar o acesso ao estágio.

Na verdade não há nada de novo na frente Ocidental.

A verdade vem sempre ao de cima

Não é por acaso que existe uma enorme desconfiança para com a classe política.
A cada dia que passa confirmam-se os piores receios acerca da forma como este país tem sido gerido desde há mais de 30 anos.

Acabada a mão de ferro e a forma rigorosa e quase obsessiva usada pelo "Estado Novo" para manter o controlo das coisas, entrou-se num período de pseudo gestão.

Periodicamente injecções de dinheiro foram servindo para ocultar aquilo que estava estruturalmente débil. Ao mesmo tempo o mau aproveitamento desses dinheiros permitiu a muitos criar fortunas enormes e rápidas.
A nossa arreigada atitude de dependência de um poder superior, inculcada por Salazar e pelo regime foi substituída pela dependência de um Estado mãos rotas que usou o que não tinha para angariar simpatia e votos.

Todos nós já ouvimos os portugueses dizer que o estado tem de fazer isto ou tem de fazer aquilo. De cada vez que há um problema lá está sempre uma carpideira a dizer que "eles" deviam fazer as coisas de uma forma ou de outra. Seja a família que acha que o "eles" lhe deviam dar uma casa, seja a senhora zangada que acha que "eles" deviam "forçar" um médico a viver num qualquer lugarejo porque há gente que precisa dum médico.

Passámos dum regime totalitário a um regime democrático com uma população com tiques totalitários. O crime que eles não gostam devia ser sempre punido com pena de morte ou prisão perpétua, as pessoas do partido em que não votam são sempre uns "gatunos" e o Estado tem a obrigação de lhes dar aquilo que eles querem, porque eles adquiriram esse DIREITO.

Num caldo de cultura destes não admira que Alberto João, ou outros como ele tenham conseguido chegar ao poder e manter-se por lá.
Os caciques cedo perceberam como podem perpetuar-se no poder usando os recursos de todos para o fazer.
E criaram dívidas enormes a fazer este tipo de coisas. Divida que o estado assumiu porque sabe que basta "sacar" mais umas massas à população para a pagar.
Na verdade os políticos dão-nos coisas que não queremos ou não pedimos para ficarem bem vistos e depois forçam-nos a pagar a conta.

É como ser convidado para um jantar de lagosta que não podemos pagar, para que no fim quem nos convida nos diga para pagar a conta. Ele fica com o "mérito" de nos "oferecer" o jantar e no fim nós pagamos o nosso e o dele. E também o dos amigos, claro...

O que é triste é que durante anos o poder central não se preocupou minimamente em acabar com estes abusos a nível local ou regional. Comprometidos por fazer exactamente o mesmo a um nível ainda mais escandaloso, ficaram calados e quietos pensando como um qualquer idiota que tudo ia acabar em bem.

A tarefa de Passos Coelho é especialmente ingrata. Ele terá de ser verdadeiramente impopular junto da população e destes caciques locais que tudo fizeram para manter os seus "pequenos poderes". Sentiam-se uns pequenos monarcas, distribuindo benesses de forma majestática aos seus amigos e ao "povo".

Não era de todo possível que se cruzasse uma ilha como a Madeira com tunéis e auto estradas dignas de um país do 1º mundo sem que tudo isto tivesse algo de muito estranho por trás.
Diz AJJ que pode explicar onde o dinheiro foi gasto. Calculo que sim. Mas a questão é se era mesmo necessário gastar todo esse dinheiro ou se era mais sensato ter ficado por soluções menos sumptuosas gastando muito menos.
É caso para perguntar se os empresários que fizeram essas obras não tiveram lucros à custa do Estado e se esses lucros não poderiam ter sido menores quer em percentagem quer em valor absoluto.
Se for lançada uma obra inútil alguém irá ganhar dinheiro a fazer algo desnecessário.

Esta tem sido a estratégia que permitiu que empresas de obras públicas vivam completamente dependentes do Estado a fazer coisas desnecessárias enriquecendo incrivelmente com esta estratégia.
Esta não era só a linha orientadora de Sócrates. É a linha orientadora de políticos pouco escrupulosos que têm a ambição de deixar o seu nome ligado a "grandes obras". É, resumindo, a forma de pensar de políticos desonestos e sem ética. Eles sabem que aquilo que estão a "fazer" não é mais que retirar o dinheiro público e "gerar" negócios para os amigos (e muitas vezes para si próprios) saindo no fim como heróis com obra feita para mostrar.

Este tipo de actuação por parte de titulares de cargos políticos é já punida por lei. Mas é preciso que alguém a aplique.
E apesar de os auditores do TC informarem abundantemente os responsáveis, parece que esta gente tem alguma dificuldade em ler os documentos produzidos pelo TC. Têm muitas páginas.
Assim todo este trabalho cai no esquecimento. Ou pior ainda, como vimos durante os governos de Sócrates, os governantes tinham um entendimento diferente do TC. Ah pois claro. Peritos como eram os ministros e secretários de Estado de Sócrates, tinham "opiniões" diferentes do TC. E permitiam-se dizer isto à frente das câmaras de TV quando estiveram em causa negócios ruinosos como o terminal de carga do Porto de Lisboa ou certas PPP's lançadas pelo Governo de Sócrates.

Para que precisamos dum Tribunal de Contas que valida a aplicação da lei e das regras orçamentais se depois temos um qualquer imbecil eleito a discordar e a desrespeitar pareceres que nem consegue perceber ou nem sequer leu?

A política em Portugal está completamente minada de gente limitada, ignorante, incompetente e desonesta. E essa gente fará tudo o que está ao seu alcance para evitar que gente com competência possa chegar a um lugar de poder.
A partir do momento em que PPC entrar por estes pequenos poderes a dentro, passará a ser o alvo dentro do partido e o alvo de todos os que estão instalados no poder.

Esperemos que ele tenha a força de carácter e a capacidade de levar as coisas avante. É mesmo preciso uma vassourada neste estado de coisas. É mesmo preciso mudar tudo de forma radical sob pena de estarmos exactamente na mesma situação dentro de 10 ou 15 anos.
Isto tem de acabar e tem de acabar já.

Cegos pelo poder

Desde há muito tempo que sou de opinião que as chantagens de Jardim são inaceitáveis para o país.

Se o homem quer ser independente, pois que seja. Que faça a gestão do SEU orçamento e trate ele próprio da SUA receita.

É intolerável que um país possa andar a pagar desvarios destes ao longo de anos sem qualquer controlo por parte da administração central. è intolerável que a banca forneça a este louco a "droga" que lhe permite sobreviver.

Claro que assim se eterniza no poder. O que a Madeira dá aos madeirenses é em grande medida garantido pela "solidariedade" nacional. Impostos mais baixos por causa do peso da insularidade, transferências da UE para a zonas ultra periféricas e mesmo assim consegue abrir um buraco de quase 6000 euros por cada madeirense num espaço que vai de 2008 a 2011. Em 3 anos este louco desvairado na fussanga de encher os amigos com dinheiro empenhou a região a um nível nunca visto.

É incrível como ele e Sócrates têm tanto em comum. A fuga para a frente sem dar atenção a uma situação previsível e catastrófica.

Não só isto retira toda a credibilidade a um país que tenta a todo o custo ser visto como capaz de se governar como é exactamente aquilo que ele criticava a Sócrates.
Se o Governo não tomar uma posição séria relativamente a este problema perde completamente a face.
Não se pode ter dois pesos e duas pedidas.

Acresce a isto o facto de o Governo Regional fazer despesa que depois omite aos orgãos de controlo. Pouco importa que venha dizer que foi porque Sócrates cortou 500 milhões ao orçamento da Madeira. Se não tinha verbas não continuava a adjudicar obras. As adjudicadas eram suspensas nem que para isso tivesse de pagar indemnizações. Isso era a única coisa decente a fazer e um mínimo básico de gestão.

Jardim é só mais um criminoso económico à solta. Num país de rastos ele consegue comprar o voto do sempre estúpido povinho dando-lhe coisas que outros vão pagar. E o povinho diz a frase tão ouvida neste país - "este rouba mas ao menos faz obra"

A ânsia de se manter no poder ultrapassa toda a prudência e honestidade. É a única coisa que interessa, pague quem pagar.
E assim se mete um país inteiro na lama num espaço de 15 anos...

A pouco e pouco chega-se lá

Andaram todos num berreiro insano (e ainda andam) por causa dos cortes da despesa. Que o PSD já sabia antes de ser eleito e agora não está a fazer nada, que afinal foi só mais subidas de preços à custa da subida dos impostos e patati patata.
Até em minha casa já estavam a perder a fé. E eu sempre dizia que era melhor esperar porque para 2011 foi preciso deitar mão do que se pôde mas para 2012 havia tempo de começar a cortar na gordura.

E a cada dia que passa mais me convenço que essa é a estratégia deste Governo.
Cedo percebeu duas coisas:
Cortar na despesa supérflua do Estado não é tão simples como parece
Que mais vale fazer as coisas com alguma ponderação do que causar efeitos perversos com as medidas

A fusão de mais de uma centena e meia de organismos em 25 já diz bem do trabalho de análise que tem de ser feito. Verificar sobreposições, excessos, inutilidades, mas sobretudo preparar o que se sucede a essas extinções. No entretanto há muito caso de chefia intermédia que era preenchido por alguém das simpatias do PS, senão mesmo nomeações por puro nepotismo.
O problema é que mesmo a impaciência de gente do PSD como Marques Mendes não traz nada de bom a esta actuação prudente e gradual. Querem tudo e querem tudo já.


Mas só com esta pequena medida poupam-se 100 milhões por ano. Provavelmente mais, se tivermos em conta muitos dos abusos e despesas injustificadas que muitas destas entidades eram pródigas em fazer.
Se se conseguem poupar 100 milhões sem perder serviço prestado havia claramente muita coisa a mais. E de certeza que ainda há mais "fusões" destas para fazer. Seria de aproveitar a cessação de mandatos de muito lugar de chefia para pura e simplesmente acabar com eles.

Vai começar agora um censo às fundações. Há MILHARES delas que serviram apenas para ter vantagens fiscais completamente injustificadas. Declaravam-se de utilidade pública e começava o regabofe.
Só em impostos não cobrados a soma deve ser respeitável. Mas ainda há aquelas que "recebem" dinheiros públicos. Algumas delas só existem para receber dinheiros públicos e fugir a regras a que o Estado está obrigado quando precisa de fazer coisas como a contratação do Magalhães.

Isto vai acabar. Pelo menos nesta quantidade absurda. Para cada organismo destes havia chefias. Directores Gerais, Sub directores gerais, assessores, amigos, primos etc etc. Tudo pago com dinheiros públicos.

Já se calculava que era mais fácil cortar 5% aos funcionários públicos todos do que terminar pura e simplesmente com estas inutilidades. E Sócrates assim o fez.

Para 2012 o deficit tem de ser 4.5%. Talvez o timming destas extinções possa ajudar o deficit de 2012.

Mas agora falta uma prova de fogo - A Madeira. Se PPC não acabar com esta pouca vergonha que é o despesismo madeirense haverá muito boa gente que não lhe perdoa. E eu sou um deles.

Se exige a todos rigor e seriedade, chegou um bom momento para o provar com AJJ.

Aliviar lastro

Os políticos são normalmente refinados no encobrimento das suas próprias aldrabices. Isto é visto como uma "qualidade" num político e uma das razões pelas quais há gente que não tem jeito para ser político. Não têm muito jeito para mentir.

Mas pelos vistos há casos em que já nem essa "qualidade" existe.

Ora veja-se o chorrilho de asneiradas que o Presidente da Câmara de Guimarães disse na ressaca do caso da Fundação Cidade de Guimarães. Estas são declarações a uma comissão parlamentar acerca da questão do vencimento da Presidente da Fundação.
António Magalhães explicou, na Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República, que a comissão de vencimentos da Fundação Cidade de Guimarães, à qual preside, tem mais dois membros, José Manuel dos Santos (Museu da Electricidade/Fundação EDP) e Nuno Azevedo (Casa da Música), e que foram estes que o fizeram "perceber que os valores eram consonantes com este tipo de fundações".
Quando há um par de anos este homem foi confrontado com o valor do salário da competentíssima Cristina Azevedo, declarou que era um valor em linha com o normal para essas funções. Pareceu mesmo agastado por terem o atrevimento de questionar a sua decisão como presidente da Comissão de Vencimentos.
Diz agora que foram os outros dois membros da Comissão de Vencimentos que o convenceram que o valor era o "correcto". Mas diz mais...
Quanto ao polémico salário atribuído à anterior presidente do conselho de administração, Cristina Azevedo, o autarca explicou que o valor (que inicialmente era de 14,3 mil euros líquidos mensais, e que foi posteriormente reduzido para dez mil euros) foi proposto pela própria, e aceite por ele. “Presumi que [a fundamentação apresentada por Cristina Azevedo] estava correcta à data".
Isto é verdadeiramente fantástico. A senhora propõe-se ganhar 14.300 euros mais outras benesses "marginais" e ele aceita perante a argumentação da mesma.
Ora ele é da Comissão de Vencimentos e não sabe  qual é o valor plausível? Decide baseado na opinião da contratada e dos outros membros da comissão?
O que está este homem a fazer na Comissão de Vencimentos? Será que não o espanta o salário em causa perante o seu próprio salário como Presidente da Câmara?
Quem nos dera a nós que isto acontecesse quando se vai a uma entrevista de emprego.
Isto só acontece porque estes senhores sabem que o dinheiro não é deles e vem, aparentemente, dum poço sem fundo. Sendo os dois companheiros de luta, se a senhora tivesse sido esperta tinha pedido 30.000. A julgar pelo nível de conhecimento da realidade ele provavelmente tinha aceite.
O presidente da Câmara alegou que não pode dar pormenores sobre a crise que levou ao afastamento de Cristina Azevedo porque todo o conselho geral aceitou um acordo para não falar sobre o passado. “É um acordo que praticamente me foi imposto”. Esse acordo, a ser violado, implicaria "uma penalização monetária". Questionado pelos jornalistas sobre por que aceitou esse acordo, o autarca respondeu que não foi o único. "Todo o conselho geral aceitou o acordo", afirmou.

António Magalhães disse também que a "penalização monetária" estaria relacionada "com o vencimento que Cristina Azevedo auferiria até 2015", sem adiantar mais detalhes. E, também sem explicar o que queria dizer, deixou, a determinado momento da audição, uma frase no ar: “Os senhores não conhecem a Drª Cristina Azevedo”. 
Sabemos agora que para se ver livre de tão insigne figura o Presidente da Câmara teve de fazer um acordo de ficar caladinho. Quem é que quer que a outra parte fique calada se diz que não tem nada a esconder? Ou qual foi o valor acordado para que a senhora saísse que possa ser tão escandaloso?
Mas o mais fascinante é que ela auferiria salário até 2015!!. A capital da cultura é durante 2012. Ficava a fazer o quê durante 3 anos adicionais? A tratar da mudança?
Começou 3 anos antes e fica 3 anos depois. 6 anos para um evento anual. A ganhar 14.300 Euros mês. Em salário apenas seria 1.200.000 de Euros. Por proposta da própria...

Deixa antever ainda que ela é mais ou menos bera e ele tem de ficar caladinho - “Os senhores não conhecem a Drª Cristina Azevedo”. No mais alto orgão político do país? Na AR? Paga pelos dinheiros PÚBLICOS exige silêncio perante a AR eleita pelos mesmos que lhe pagaram o principesco salário?

Isto diz bem da forma como esta corja se apoderou da coisa pública. E mantém toda esta gente refém e de bico calado para evitar "problemas".
Suponho que eles só têm problemas porque têm podres incríveis para esconder. Só se chantageia que está em posição de ser chantageado.

O que isto deveria despoletar era um inquérito do MP para apurar de potenciais ilícitos criminais.Esta história está mal e porcamente contada e irá perdurar sob um manto de silêncio se as coisas forem deixadas assim. Não devia ser possível, mas esta história tresandava desde o princípio. Só não via quem não queria.
Vejam aqui:

Pessimista? Céptico? Ah sim, absolutamente
E os sinais de incompetência estão por todo o lado 
Mais tarde ou mais cedo revelam-se

O legado

Fico sempre fascinado com as versões revisionistas da história que saem de cabeças que pensamos à partida ser de pessoas inteligentes.

Sei bem que em política não convém dizer verdades. Sobretudo se forem incómodas e se tivermos tido um papel relevante na criação dessas verdades incómodas. Mas andar a branquear o passado a ponto de se omitir 99% da realidade negativa e focarmo-nos só no 1% que é positivo, ou é um exercício de mentira consciente e deliberada ou é pura alienação.

Assim é com muitos dos que hoje defendem o passado recente com argumentações mentecaptas. Houve muita coisa de positivo dizem, esquecendo o fétido patameiro que criaram e o peso insuportável da dívida e da carga fiscal que subiram enquanto desbaratavam o suor de todo um povo em disparates e benesses.
Dizer que de positivo ficou algo que é uma infinitésima parte do mau que se deixou é aquilo de que a pior política é feita. É aquilo que leva todo um povo a achar que os políticos são uns miseráveis aldrabões que vivem á grande com o dinheiro dos outros. Sou tentado a concordar com esta visão da política quando se vê um congresso como o deste fim de semana.

Assis tem uma visão completamente alienada do legado de Sócrates. E do seu, já que falámos nisso.
Assis diz que não foi a dívida, a austeridade e o abaixamento do nível de vida que sentimos todos os dias.

Ora essa. O legado de Sócrates e dos seus governos foi a aposta na economia, na ciência e na educação.
Era difícil tentar escolher 3 coisas boas do legado de Sócrates. Daí que não se lhe leve a mal a escolha recair sobre exemplos que são verdaddeiramente maus.

Na economia, a intervenção estatal por portas e travessas causou distorções bizarras na concorrência e um endividamento desmesurado do país. Para "fomentar" economia em coisas como as estradas ou o parque escolar, abriram-se buracos de dimensões dantescas. Ao dar "balões de oxigénio" à economia não só se habituou todo um sector a viver na mama permanente do Estado como se endividou o país nesse processo.
Temos hoje na habitação um conjunto de fogos novos impossíveis de vender e transformamos os bancos nos maiores proprietários do país. Eles acabam a ficar com as casas de quem não as pode pagar, vendendo-as, quando conseguem, em hasta pública por preços irrisórios.
Os construtores chamam a isto concorrência desleal porque não estão para baixar os seus próprios preços. Clamam junto do Estado por medidas de "ajuda". Que se afundem e desapareçam com as mais valias brutais que fizeram a construir verdadeiras porcarias durante 15-20 anos.

Na ciência da qual tanto se orgulha Assis não há muito a dizer. refúgio de muitos que por falta de empregos enveredaram pela "investigação" com bolsas.
Mas mesmo em sectores inovadores como foram os casos das redes ATM e Via Verde, começou a perder-se toda a iniciativa e hoje nada mais fazemos a não ser comprar os equipamentos fabricados fora.
Até o famoso chip de matrícula que mais não é uma nova geração de Via Verde passou a ser comprado fora. Inventou-se uma empresa com uns quantos amigos dentro, que em troca de mais valias significativas compram tudo fora. Adeus iniciativa.
Gostaria mesmo de saber em que é que a "ciência" nacional se traduz numa melhoria da economia como um todo, ou em que é que as descobertas nacionais são mais relevantes do que as de qualquer outro país. Não podemos dizer que Portugal seja um país que se destaque neste domínio de outro país civilizado qualquer.

Na educação estamos conversados. Se houve período em que se "arranjaram" as coisas para ficar bem nas estatísticas foi com José Sócrates.
Não houve uma medida tendente a colmatar as lacunas óbvias que os alunos têm hoje em Português ou em Matemática.
A cultura do facilitismo para garantir bons números de escolaridade e de gente "formada" neste país trouxe um cenário desolador à educação. A única preocupação de Sócrates e do PS foi a de conter os gastos salariais com os professores. Toda a guerra que se lhe seguiu debaixo da bandeira da qualidade foi uma mistificação total.
Se alguma coisa há a dizer daquilo que é o conceito de educação de Sócrates e do PS, basta olhar para a sua "formação" e para a licenciatura de Armando Vara...
Não é preciso muito mais exemplos para se perceber qual o "modelo" de Educação em que estes rapazes estiveram empenhados.

Mas neste congresso o que mais saltou à vista foi um líder a renegar o passado e a ser aplaudido pelos executantes desse mesmo passado. De repente, todos os que se arrojaram aos pés de Sócrates pedindo benesses, aplaudem entusiasticamente Seguro. Só num partido isento de espinha dorsal Sócrates poderia ter subido onde subiu. Não surpreende pois que hoje esses mesmos militantes notáveis estejam prontos a renegar tudo o que ele fez mas ao mesmo tempo defendendo tudo de "bom" que a sua governação teve.

Pois existe uma diferença de opinião entre a maioria do povo português e este PS. O legado foi a subida consistente da carga fiscal e da dívida durante o governo de Sócrates. Aquilo que os impostos possam subir agora ficará muito aquém daquilo que subiram nos últimos 6 anos. A coberto duma suposta solidariedade fiscal e outras justificações completamente falsas, o estado sugou recursos da população e desbaratou em obras inúteis, excessivamente caras a coberto de contratos e jogadas verdadeiramente duvidosas.
O legado perdurará mas não é o de Seguro nem de Assis. É a miséria.

 Fonte: Henri Cartoon

Contradições bacocas

Paulo Macedo é um fulano pragmático. É um fulano eficaz. É talvez um fulano frio.

Que ontem anunciou o fim da comparticipação da pílula contraceptiva vendida nas farmácias.

Começou o berreiro. Vai haver para aí abortos até fartar, dizem alguns, é um retrocesso civilizacional dizem outros... Um Deus nos acuda.

Nesta ressaca, Helena Roseta esteve ontem no Frente a Frente da SIC. Desvairada, possessa e bastante incontida. A mulher estava tresloucada.
Sendo um resquício do "vamos queimar os soutiens, porque simbolizam a subjugação da mulher ao homem..." desatou numa preleção desvairada sobre o retrocesso das liberdades conquistadas.

Mesmo quando confrontada com o facto de a pílula ser gratuita nos Centros de Saúde saiu-se com uma conta de cabeça rápida - 120 consultas por causa da pílula ao longo de 40 anos de fertilidade na vida duma mulher.

Até aqui ainda vá.
Mas o problema foi que quando vem para discussão o facto de a maioria das mulheres comprar sem receita, logo sem comparticipação, desata a dizer que as mulheres não querem devassa da sua intimidade indo ao médico para obter a receita. Querem ter a liberdade de comprar quando querem e onde querem.
Oops.
Então espera lá... O que ela aprecia é a possibilidade de comprar sem receita e sem comparticipação. Se é assim muito pouco muda. Muda apenas naqueles casos (gostava de saber a percentagem) em que as mulheres vão ao médico para obter a receita.

Ou seja, uma gritaria por pouca coisa, aparentemente. Quiçá se repense a entrega de pílulas nos centros de saude por forma a evitar uma sobrecarga nas consultas. Plausível não? Porque não receitas anuais? Seria consistente com a intenção de seguir as mulheres em consulta de ginecologia/obstetrícia a nível Nacional.

Mas não. Agora é fazer berreiro nem que seja usando argumentação falaciosa por completo. Empolar as coisas até já não os podermos ouvir mais.
Desde o BE ao PCP anda tudo numa gritaria insinuando que isto é congeminação do CDS e da sua concepção "atrasada" de sexualidade e de família.

Não há dúvida que um país entregue a esta corja de parvos é um país destruído em menos de nada. Se com o PS já foi o que foi, com estes patetas esquerdistas de trazer por casa nem imagino no que este país se poderia tornar.

o Pol Pot do Minho

De todas as imbecilidades que li acerca da "taxação dos ricos" esta é talvez um dos maiores exercícios de desrespeito pela liberdade individual de que tenho memória.

Vi no Estado Sentido uma chamada de atenção para o texto em causa e depois do que li não podia deixar de escrever a minha opinião.

E é escrita nem mais nem menos do que por um Professor universitário. O grau académico de facto não é sinónimo de nada. Nem de inteligência nem de contenção nem de brilhantismo intelectual ou de decoro.
O artigo na integra está aqui mas achei por bem transcrever umas partes relevantes. A mente brilhante que se permite escrever tamanha trampa é um tal professor Cardoso Rosas.
Como Warren Buffet nunca se cansou de repetir, não taxar fortunas que se destinam a herdeiros que não as construíram é a coisa mais estúpida do mundo. Todos sabemos que a maior parte dos herdeiros gasta mal o dinheiro dos progenitores, em vez de o tornar socialmente útil. (Estou a pensar em casos muitos concretos, incluindo o da jovem herdeira de uma das maiores fortunas portuguesas que veio agora a público queixar-se de "perseguição aos ricos".)
Pois claro que nós sabemos que a maior parte dos herdeiros são uns devassos, desocupados e perdulários. Da mesma forma que sabemos que os professores universitários são uns inuteis pagos demasiadamente alto que desabafam as suas frustrações humilhando os alunos. Não produzem nada de relevante para a sociedade ao viver num mundo hermético incapaz de transpor o conhecimento para o mundo exterior.
(...) A razão é a seguinte: ao contrário do que acontece quando alguém constrói uma fortuna, ninguém tem qualquer mérito por ter nascido numa família rica. As circunstâncias sociais do nosso nascimento são, como se costuma dizer, "moralmente arbitrárias". Por isso os herdeiros não merecem a sua herança e, quando essa herança vai para além de um património razoável que é lícito que os pais queiram deixar aos filhos - por exemplo 500.000 euros, ou mesmo um milhão de euros -, então é da mais elementar justiça que esse património seja taxado.

Logo, pela ausência de mérito porque não retirar uma parte do espólio familiar a estas pessoas e dá-lo a outros que também não tiveram qualquer mérito na sua multiplicação. Mérito por mérito se calhar é melhor deixar aos criadores dessa riqueza a decisão de o dar a quem muito bem entendem. Digo eu...
Estamos a taxar herdeiros que não têm moralmente direito àquilo que herdaram e que, na maior parte dos casos, irão desbaratá-lo.
Este pequeno artigo é uma das maiores demonstrações de intrusão e tentativa de limitação das liberdades individuais de que tenho memória. O atrevimento em sugerir que podemos dizer ás pessoas o que devem fazer com o que têm é absolutamente nauseante.
De todo o argumentário "anti-rico" dificilmente se podia descer mais baixo.
Uma coisa é justiça fiscal outra é imbecilidade pura e simples. Quanto ao primeiro aspecto, seria bom que o capital e o trabalho tivessem cargas fiscais semelhantes.
Outra coisa bem diferente é procurar legitimidade para o confisco com argumentos acerca da forma como os receptores do dinheiro o vão gastar.

A liberdade tem destas coisas. Permite a alguém fazer uso dela para pretender limitar a dos outros.

Incontinências verbais

Um problema que parece afectar muitos dos actores da nossa vida política.

Sobretudo muitos ex qualquer coisa que não tendo feito nada de exemplar, não conseguem manter-se calados nem sequer analisar o que foi a sua actuação perante circunstâncias semelhantes.

Mário Soares parece ser um desses casos.
Muita gente lhe atribui o facto de Portugal não ter descambado para um regime comunista no verão de 75. Aceita-se. Foi um dos participantes nesse que foi um movimento nacional.
Não fosse a resistência de todo o país à comunização galopante, especialmente o Norte do país, Soares sózinho não teria conseguido nada.
Mas não nos esqueçamos de Eanes e de outros militares moderados que ajudaram a por cobro à loucura que foi o período de verão de 1975 levada a cabo por um partido que hoje se reduz a um digito percentual e que mesmo em 1975 teve 12.46% dos votos de 91.6% dos eleitores inscritos.

A não ser este contributo, não percebo o grau de relevância que se dá a Soares no período que se lhe seguiu. Negociou uma entrada na CEE com concessões graves que vieram redundar na destruição dos sectores productivos do país. Em troca de dinheiro acabou-se com a agricultura e pescas por imposição dos parceiros da comunidade. Já dessa vez negociámos de mão estendida para entrar no clube dos "ricos". Empenhámos o nosso futuro nessa altura e logo a seguir com a chegada de dinheiro fácil durante os governos de Cavaco.

O problema de Soares é o de pensar que ser político é a coisa mais importante que se pode ser na vida. Que os técnicos são uns meros executantes e conselheiros de gente de mais alto gabarito e com uma alargada visão do mundo.
Para ele técnico é um termo depreciativo. Algo muito comum mesmo nas empresas em que o tipo que garante o sustento de todos é apenas um "técnico". Sem pinta, que veste mal e não sabe comportar-se num cocktail...

Nas sua cabeça deve imaginar-se a tomar decisões para o bem da humanidade tendo obviamente recursos ilimitados. Ser um grande político assim é extremamente fácil.
Mas o problema é que não estamos assim. As decisões que um político tem de tomar na situação presente têm de ser suportadas e corroboradas por técnicos.
E Vitor Gaspar não só fala do que sabe, como tem algo que faltava antes - prudência.

Com Sócrates as coisas não eram assim. Esse era um grande "político" diziam. Teixeira dos Santos dizia uma coisa e Sócrates por questões de "compromissos" fazia a contrária.
Por isso não consigo suportar Teixeira dos Santos. Mesmo que fosse um excelente técnico nunca teve o brio intelectual de dizer que não pactuava com a loucura que Sócrates lhe impunha. Manteve o lugar até ser desconsiderado completamente por aqueles que o usaram. Tivesse sido a ajuda pedida quando os juros chegaram a 7% como ele dizia e hoje teríamos uma dívida bem menor para pagar. As empresas que no entretanto alargaram os buracos a níveis inacreditáveis teriam ao menos sido travadas nessa loucura.

O resultado dessas decisões "políticas" está à vista. Não passa um dia em que a dimensão do buraco não alargue.
Hospitais, Estradas, Transportes, Educação, tudo falido.

E quando se fala de falência está a falar-se de dinheiro. E para isso não bastam decisões políticas como se o dinheiro fosse uma coisa virtual e inesgotável. Por isso um bom economista e um político prudente são fundamentais.

Soares acha isto mal. Chama ao ministro político ocasional. Isto, no meu entender, quer dizer que ele só é um aldrabão superficial ocasionalmente. Isso é bom mas seria melhor que nunca o fosse.

Soares por outro lado é um político a tempo inteiro. Não especialmente brilhante como se quer fazer crer. Não é nenhum Churchill, Adenauer ou Pompidou. É Soares. É o Duque de Nafarros.
Esta noção que ele tem de si ao por-se ao nível dos que construiram a Europa não só é quase risível como não passa dum delírio pessoal.

Não creio que fizesse melhor do que Sócrates ou do que Passos Coelho.
Aliás, a sua passagem pelo Parlamento Europeu mais não foi do que um prémio monetário por serviços prestados. A sua actuação no PE foi absolutamente nula.

Foi sem tirar nem por um político.
Um político à maneira "antiga" rodeado de benefícios bizarros e dispendiosos. Um generoso pagamento pelos anos de serviço ao país.

Ao menos Sampaio tem tido a virtude de não falar muito. Ficou com a pensão vitalícia e com as mordomias dadas aos ex presidentes e não fala demais para que não nos lembremos que foi ele a "por" Sócrates no poder.

De todos Eanes é o que me honra mais como Português.
Um homem que se soube impôr quando foi preciso, que depois de ser presidente estudo e evoluiu fazendo um doutoramento.
Eanes sim. Foi de militar corajoso a homem de cultura.
E é sobretudo contido. Não passa a vida a falar aos media para que não se esqueçam dele.

Os media (2)

Ontem descobri um mundo que desconhecia. E vistas bem as coisas, é um mundo que passava bem sem conhecer.

Ao ver o Público Online deparei com um link directo para um artigo sobre um blog. Fui parar à secção life & style.
Era então um artigo sobre uma blogger que vive (ganha dinheiro) com o seu blog que é nem mais nem menos que um dos mais visitados do país.
Jornalista, jovem e com um blog de sucesso. Uma receita estranha para um sucesso tão grande.

E comecei a ler uns posts.
A minha mandíbula foi descaindo até já não poder mais.
Só pensava como era possível um blog assim ter 20 mil visitas por dia! Em desespero de causa comecei a procurar qualquer coisa mais substancial. Dei com uma tag que dizia "artigo de opinião". Bem, pensei, as pessoas fúteis tambem podem dizer qualquer coisa de jeito.
A opinião era sobre um produto de maquilhagem para as pestanas. Desisti. Saí.

Fiquei atónito.
Quando pensamos porque é que somos como somos, seja o país seja o mundo, seria bom que pensássemos porque é que é tão fácil sentir apelo pelo fútil e pelo efémero.
O consumo, o dinheiro. Comprar "coisas". Muitas coisas.
No caso desta rapariga é roupa e sapatos.

E faz-se um blog sobre isto, e ganha-se dinheiro. Nada de produtivo, nada de relevante. Apenas superficialidade.
Quando se pensa que existe gente que trabalha desalmadamente, em trabalhos duros e penosos que mal consegue ganhar a vida para sobreviver, é incrível pensar que alguém possa ganhar a vida a escrever sobre sapatos que custam quase um salário mínimo, roupa da marca A ou B e se tire a si próprio fotografias para que o mundo veja como lhe fica bem a roupinha que "comprou". Que encha um blog de fotos suas para sabermos como saiu à rua nesse dia.
Claro que o jornal promove isto. Tem pinta e estilo e até é uma colega de "classe".

É "tão giro" ler as atribulações de alguém que não consegue resistir a comprar MAIS um par de sapatos.

É quase ofensivo ler num mesmo jornal artigos sobre famílias que vivem numa crise extrema, e a promoção de um blog de alguém que é sem dúvida nenhuma um produto dos tempos de consumo desenfreado e sem sentido.
O contraste total.

Será feliz? Certamente que sim. Enquanto não tiver consciência da completa inutilidade do que faz e tiver comentários de gente igualmente vazia a louvar o "espaço" será feliz certamente.
Num dia um que tenha uma epifania em que o seu casamento de sonho passe a pertencer ao lado mau da estatística, em que o maridinho não ofereça sapatos, perceberá provavelmente que uma vida deitada fora a fazer isto é um desperdício total.

Preferia que a autora escrevesse sobre coisas mais sérias? Assim à primeira sim... Mas depois de ver os posts e de perceber um pouco o que vai naquela cabeça, definitivamente NÃO!
Devem estar a aparecer uns sapatos novos da colecção Outono/Inverno e não queremos que a jovem se disperse e perca as coisas "fantásticas" que vêm aí falhando na sua tarefa "informativa" na blogosfera.

Provocadores

Fiquei fascinado com o comportamento da centrais sindicais em resposta ao discurso de Passos Coelho.

É sabido que por essa Europa fora os cidadãos não são sempre pacíficos e ponderados.
Os motins em Paris de há uns anos atrás em resposta à morte de um jovem pela polícia, os tumultos bastante violentos na Grécia em resposta ao torniquete da austeridade e, mais recentemente, os tumultos em Londres que causaram fortes prejuízos materiais além da perda de diversas vidas.

Talvez por estes casos recentes, com maior incidência no caso da Grécia, Passos Coelho falou que a contestação social é algo que tem de se respeitar, sem a confundir com a escalada para o vandalismo e o tumulto puro e simples.

Não é difícil perceber que no estado em que as coisas estão esse pequeno passo é algo de possível. Não tanto em Portugal, habitado por uma resma de carneiros de notável temperamento mas mesmo assim uma possibilidade.

Ouvi e não me pareceu nada de estranho.

Estranho foi o que veio a seguir. O PCP e a "sua" central sindical começaram a acusar Passos Coelho de estar a provocar "os trabalhadores"... Quando ouvi esse pedacinho no discurso de Jerónimo nem percebi bem do que ele estava a falar. Só percebi quando Carvalho da Silva disse a mesma coisa com uma breve referência ao contexto.

Até Martelo vem a terreiro dizer que isso é uma manifestação de fraqueza. Como o homem tira estas conclusões é algo que me ultrapassa. Como as tenta fazer passar como sendo a verdade absoluta já não me ultrapassa mas pelo menos deixa-me a pensar se ele não deveria moderar o seu incomensurável ego. Era bom que Marcelo não se esquecesse que quando foi Secretário Geral do PSD foi um péssimo Secretário Geral. Uma descida à realidade seria muito bem vinda quando se põe a criticar à direita e à esquerda. Que eu saiba o manual definitivo de como se comportar em política não foi escrito por ele e provavelmente nem existe.

Provocador. Muito bem. Se um polícia nos disser - "pode estacionar ali em baixo mas atenção que aqui não!" está a provocar-me. Claramente.

Este tipo de reacção é mais própria de bullies prontos para a cacetada à procura dum pretexto para arranjar problemas do que de gente que é dirigente político e sindical. Isto sim é empolar o problema no sentido de obter uma reacção da população. Mas o problema é que a população ouve isto e até estranha que se chame a isto uma provocação. Os comissários políticos ainda não têm o talento que tinham na ex URSS.

Francamente!! Nunca nenhuma destas alminhas reagiu assim às palavras de Sócrates. Nem de perto nem de longe. Viram-no delapidar o país e ficavam-se pela "política de direita" e pouco mais.

Mesmo agora e sabendo que estamos a pagar o belo legado desse indivíduo fingem que não sabem para capitalizar potenciais ganhos eleitorais com este tipo de discursos e afirmações.
Temos a CGTP, a UGT e o PCP ao nível de Chavez.
Em suma uma perfeita imbecilidade...

Os media (1)

Desde há muito tempo que me parece que a informação que nos servem, sobretudo pela televisão, é fortemente condicionada pela visão pessoal do jornalista que "serve" essa informação.

Apesar de não ter uma memória de elefante, lembro-me claramente que a forma como a informação televisiva tratava Sócrates era bem diferente da forma como trata Passos Coelho.
Se um andou em Estado de Graça até ao rebentamento final, com comentadores a louvar as suas características de determinação e habilidade política, com Passos Coelho já eram servidas tareias diárias durante o 1º mês à frente do Governo.

Mas há coisas que ultrapassam os limites da informação e extravasam para a má vontade e para o mau perder.

A cronologia de todo este processo é bastante curiosa.
Mal o Governo tomou posse começou o blitz.

Quando é que eram apresentados os planos de corte da despesa, quanto é que o Governo iria cortar etc etc.
Uma das primeiras medidas foi a da abolição da necessidade de usar fato e gravata no Ministério  da Agricultura.
A Ministra foi chamada de tudo. Mas o mais curioso é que mesmo sendo um gesto simbólico e que devia ser tomado como tal, comentadores e jornalistas fizeram sempre questão de dizer que o que se iria poupar em custos de energia com um grau de temperatura a mais no ar condicionado era ridículo.

Seguidamente o caso dos Governadores Civis. Uma estrutura anacrónica, obsoleta e cara demais para o serviço que fornece.
Rapidamente saltaram os media a terreiro, apontando o facto de os Governos Civis se sustentarem sozinhos e não serem deficitários.
Como? Então os Governos Civis não recebem uma fatia grossa do seu orçamento do Estado central? Sim. Ficam com uma percentagem das coimas que de outra forma reverteriam integralmente para o Estado? Sim. Cobram por serviços (passaportes) que ao ser emitidos por outra entidade reverteriam também para o Estado? Sim
Façamos então uma continha rápida.
Créditos
x - dotação orçamental da Administração central
y - receitas de passaportes e outros serviços
z - percentagem das coimas

Débitos
a - Salários e ajudas de custo do Governador Civil
b - Salários e outros débitos de pessoal adstrito ao Governador Civil
c - Custos com instalações dos Governos Civis
d - Salários e custos de pessoal de restantes funcionários

Situação presente
Saldo 1 = (x+y+z) - (a+b+c+d)
Situação futura
Saldo 2 = (x+y+z) - (c+d)

Eu diria que na minha fraca matemática o Saldo 2 é maior que o saldo 1. A medida ainda que simbólica significa algum ganho para o Estado. Pode não ser muito mas o saldo é não nulo. Os media preferiram ignorar isto e preferiram dar voz a alguns que viram a sua carreira como altos funcionários do Estado ser interrompida.
Que eu saiba ainda ninguém deixou de ter passaporte. O herdeiro natural dessa função é o SEF. Estranho era que não o fosse já.

A seguir a este processo veio o caso da derrapagem orçamental e do "desvio colossal". Pelo que se veio a saber com a gravação do que foi dito no Conselho Nacional, Passos Coelho disse que havia um desvio e seria necessário um "esforço colossal".
O Ministro das Finanças explicou isto mesmo. Disse ele que entre as palavras "desvio" e "colossal" houve mais palavras pelo meio. Foi quase caricaturado por causa das suas afirmações. Dias depois a gravação confirmava que quer Passos Coelho quer Vitor Gaspar tinham dito a verdade. Ninguém ligou. Os media com o seu "amor" à verdade ainda atribuem a expressão "desvio colossal" a Passos Coelho.

Mais recentemente o caso das Secretas e do jornalista.
Esse caso passou-se em 2010 sob a tutela de Sócrates. Pelos vistos o jornalista estaria bem informado do que se passava e alguém tentou perceber quem era a fonte nos Serviços Secretos que passava informação ao jornalista.
Seja por iniciativa do chefe dos serviços com conhecimento superior ou não, a responsabilidade é de quem o tutelava à data. Este Governo NADA tem que ver com o assunto.
Só numa ocasião é que ouvi nas notícias alguém fazer esta ligação com o anterior executivo. Em vez de esclarecer esse facto, e o mais recente caso da investigação de pessoas a pedido de "gestores" de empresas privadas, preferem deixar na penumbra da informação o facto de isto ter acontecido debaixo do nariz de Sócrates que tutelava directamente as "secretas"

Chegam finalmente os cortes.
Aqui del rei que isto não são cortes nenhuns. Mesmo perante os números de redução de despesa do Estado expresso em % do PIB continua a insistir-se que não é corte nenhum.
Agora já passamos a outra fase. É um bocado impossível de dizer que não há cortes. é um bocado impossível não perceber que o Governo de Sócrates cortou precisamente nas mesmas coisas (lembram-se das Escolas a fechar e dos serviços hospitalares?) e diz-se agora que o Governo é optimista.
Pois então. Este Governo é optimista.
Estes argutos especialistas que deixaram passar em claro na altura em que foram proferidas expressões como "Portugal é um Oásis" a economia "portuguesa saiu primeiro que as outras da crise" ou expressões do mesmo tipo proferidas por uma extenso alinhamento de alienados do PS e do governo de Sócrates.

A outra diferença notável é a forma como os jornalistas se atrevem a dizer coisas que vão muito para lá daquilo que é o dever de informar.
Destaco duas situações em que uma chapada bem assente no focinho de tão notáveis profissionais não seria certamente desperdiçada.
Na TSF no fim de uma conferência de imprensa de Vitor Gaspar, num directo, o jornalista diz a seguinte frase - "Vitor Gaspar persiste em responder aos jornalistas."
Numa conferência de imprensa, o orador "persiste" em responder às perguntas que lhe fazem. Que coisa chocante e incómoda.
Ontem um "jornalista" numa peça sobre as declarações de Passos Coelho acerca da possibilidade de uma crise externa provocar novas medidas de emergência com recurso a impostos, termina com o seguinte apontamento.
"No caso de as coisas correrem mal, Passos Coelho já tem a justificação ensaiada"

Quem é que mandatou estes anormais para nos darem as suas opiniões? Quem é que mandatou estes anormais para, apesar de se referirem a um governo maioritariamente eleito pelos cidadãos, acharem que têm legitimidade para nos dizer que afinal eles (os jornalistas) é que estão certos?
Porque é que esta gente, tão orgulhosa da sua isenção se portou cobardemente, ou como cúmplice, dum Governo miserável e agora se comporta como um puto com birrinha por lhe terem tirado o doce?

Curiosamente isto acontece na estação de televisão de Balsemão. O tal que é todo liberal e de direita. Acontece com meia dúzia de idiotas que se passam por jornalistas que acham que é mais importante ser espirituoso e engraçadinho do que ser competente e saber fazer as perguntas certas.
São pessoas que estão no jornalismo para que saibamos o que elas pensam em vez de serem o veículo dos factos e das notícias.
Com gente deste calibre nos media, como podemos nós confiar no que nos dizem?

Estamos tão habituados que já nem levamos a sério

É a única coisa que se pode deduzir de tudo isto.
Passos Coelho afirmou ainda em campanha que iríamos ter de fazer sacrifícios ainda maiores antes de se poder ver uma luz ao fundo do túnel. As coisas iriam piorar antes de melhorar.
Não era fácil endireitar as contas públicas com o estado miserável em que elas se encontravam.

Assumiu o compromisso de cortar na despesa do Estado.

Quando chegou ao Governo deparou-se com as contas de 2011 a derrapar. O Governo que tinha acabado de se comprometer com o plano imposto pelos nossos credores tinha deixado as contas numa situação que tornava impossível cumprir o objectivo que tinha acabado de assinar - 5.9%

Lá veio um plano de emergência sob a forma dum imposto extraordinário a incidir sobre o 13º mês.

Começou logo toda a gente a berrar como se num mês o governo pudesse fazer alguma coisa para salvar o doente. A única solução foi a amputação. O anterior estilhaçou o membro e pedia-se agora a este que o conseguisse salvar. Aparentemente impossível.

Começou depois um longo mês de palermas a bradar pela despesa. Os do costume e ainda outros insuspeitos que como devem ter poderes sobrenaturais devem pensar que num mês se consegue fazer um plano minimamente coerente de corte numa despesa que descarrilou há dezenas de anos e subiu a níveis nunca vistos nos últimos 6.

Vêm as medidas. Cortes no estado. E na fatia onde o Estado gasta mais - Saúde e Educação.
De novo brado porque estes cortes também não estão bem. Como se porventura acabar com os organismos redundantes e com uma certa camada de gordura estatal fosse uma solução completa. Com o nível que é preciso cortar não há mais remédio do que cortar nas parcelas significativas. O próprio PS clama agora contra o facto de o Governo querer ir mais longe que o compromisso.
O PS sempre gostou de andar no limite. A noção de prevenir, de em vez de 3% ter 0%, podendo ter crescimento mais rápido é algo que não concebe.
Aliás, não concebe sequer cumprir o prometido, já que se comprometeu com a redução da TSU e depois o seu nefasto líder num debate disse que se tinha comprometido a fazer "estudos".

Maior falta de boa fé negocial e maior descaramento mentiroso é muito difícil de encontrar, mas o PS é sempre uma aposta segura.

E nem sequer se coibiu de entrar na onda psicótica anti riqueza do PCP e do BE. Logo eles que foram responsáveis pelo maior desnível entre os mais ricos e os mais pobres de que há memória neste país. Ajudaram "empresários" a criar  fortunas do nada. Em vez de lhes pedirem para contribuir, puseram-lhes o dinheiro na mão. Agora são uns moralistas que até já querem sacar umas massas às empresas que fazem mais lucros. Curioso que nas PPP garantiam a essas empresas margens de 12%-14%, mais ou menos o quádruplo das melhores taxas de juro. Menos arriscado que investir em fundos de capital garantido.
Foi esse partido que foi contra a taxação dos dividendos antecipados. Não esteve sozinho mas votou contra.

Enquanto tudo isto acontece parece que a realidade anda afastada dos portugueses. Todos choram uma lagriminha porque sem dinheiro não podem ter isto ou não podem ter aquilo. Parecem miúdos a quem negaram um brinquedo porque os pais não o podem pagar.

Abram os olhos de uma vez por todas e percebam que o Estado mal teve dinheiro para pagar os salários de Junho!!!!
Percebam de uma vez por todas que quando as medidas dizem congelamento salarial, é quase do domínio do delírio pedir 4% de aumento para a função pública. Porra!

Quando é que esta gente percebe que a subsidio dependência e a mama já não podem continuar? Quando é que a construção civil que se lamenta que tem desemprego percebe que construiram coisas demais? Que há meio milhão de casas para vender (novas) e os bancos não emprestam dinheiro para as comprar porque não o TÊM!!

Caiam na realidade de uma vez por todas. Trabalhem, sejam competentes e diligentes, simpáticos e eficazes e por amor de Deus percebem que vivemos daquilo que não tínhamos e agora vamos ter de pagar TUDO. Com juros.

Pelos vistos pensavam que bastava por o Sócrates na rua para ficar tudo porreiro. Não era assim. O legado dessa besta perdurará muito depois de ele ter perdido as eleições. Mas ao contrário de outros o legado dele é o sofrimento de 10 milhões.
Só tenho pena que não se possa impor o sacrifício exclusivamente aos mentecaptos que votaram nele. Não uma, mas duas ou três vezes.
Isso sim era justiça.

Erros intencionais? Ou é apenas burrice?

Não há uma única circunstância em que se fale de uma listagem de chamadas telefónicas revelada, que não descambe imediatamente nos media para um caso de "escutas".

E excepção parece ser o caso do famoso envelope 9. Nesse caso a PT teria fornecido em Excel a listagem de chamadas feitas por telefones da conta do Estado, com um filtro activo mas com todos os telefones dessa conta incluídos.
Assim, estava entre outros o telefone do presidente da República e os telefones de outras altas figuras do Estado.

Mas essa listagem dizia apenas o número de origem e o de destino, a duração a hora e data da chamada. O mesmo para os SMS.

Nunca em nenhum destes casos se teve acesso ao conteúdo dos SMS ou da conversa gravada, pelo que, chamar a isto um caso de escutas é no mínimo aberrante.
O mesmo aconteceu com Cavaco Silva quando se referia ao facto de um assessor seu ter sido visto a almoçar com uma figura do PSD e quando houve suspeita de intrusão no sistema informático da presidência. Mas esse caso passou a ser conhecido como o caso das "escutas".

No caso mais recente acontece o mesmo. Fala-se de escutas.
Não sei se isto é pura ignorância ou se é apenas um resquício dos tempos em que um tipo empoleirado num poste ligava os seus auscultadores num fio de telefone e escutava alegremente as conversas a decorrer.

Hoje as coisas já não são bem assim. Numa rede móvel as comunicações entre o telefone e a antena são encriptadas. Interceptar uma conversa nessas circunstância é verdadeiramente complicado e dispendioso.
Só pelo facto de ser um telefone móvel mesmo que se conseguisse decifrar o conteúdo da emissão era preciso estar ao pé ou do emissor ou do receptor.
Até na rede fixa que é hoje digital se passa o mesmo. Muitos dos operadores já usam VoIP o que quer dizer que não só é digital como a comunicação entre o telefone do cliente e a rede é encriptada e é uma comunicação de voz sobre IP. Fazendo um paralelo relativamente simplificado é como se fosse uma conversa no Skype.
Até os telefones sem fios que temos em casa deixaram de ser um mero emissor receptor em FM para passarem a ter encriptação DECT.
As intercepções têm de ser feitas centralmente. Numa plataforma especial que permite gravar as conversas entre os intervenientes.
Estas plataformas existentes nas operadoras são de acesso muito restrito e só mexidas por ordem judicial. A possibilidade de alguém (nos dias que correm) poder entrar nessa plataforma e criar um intercepção são verdadeiramente remotas. Por ter acontecido há uns anos, fechou-se a segurança dessas plataformas de maneira quase obsessiva.

A listagem de chamadas já não é assim. Está acessível nessas empresas a muita gente de forma perfeitamente normal. Uma pessoa do suporte tem acesso às últimas chamadas do cliente. Precisa de ter para o caso de o cliente apresentar uma reclamação. As próprias facturas detalhadas têm essa informação e ficam guardadas não só no email do cliente (quando enviadas em formato Acrobat) como podem ser reenviadas a seu pedido por se ter perdido a 1ª via.

Uma lista de chamadas é já de si bastante elucidativa. De tal forma que mesmo na facturação se pode pedir para mascarar número completo ou apenas um conjunto de dígitos (tipicamente 7). Isto para o caso de alguém que receba a factura em casa e não quer que o cônjuge ande a tentar perceber se há "amantes" envolvidos(as).

Da mesma forma que eu sei isto só de conversar com pessoas que trabalham no ramo, é obrigação de um jornalista sabê-lo. Uma vez que está a informar exige-se que junto das fontes habilitadas retire qualquer dúvida e informe de facto.
Mas não o fazem. Muitos porque são muito cheios de si e acham que sabem tudo. Outros porque percebem que o efeito de falar em escutas é muito maior do que se disserem "listagem de chamadas". Se a coisa ficar mais ou menos indefinida já se sabe que quem vê ou ouve irá acrescentar mais um pontinho para apimentar a coisa. 3 pessoas depois temos um caso de "escutas".
Já vi até o Prof. Marcelo dizer isto, sem sequer se preocupar em distinguir uma coisa da outra.

Não é que não seja grave obter ilegalmente uma listagem de chamadas. Mas comparar isto a escutas numa notícia é o mesmo que dar uma notícia de um acidente e dizer que houve 5 feridos com alguma gravidade ou dizer que houve 5 mortos.
Se a informação não é rigorosa e "informativa" não vale NADA. E de facto a nossa informação caracteriza-se por ser mais um chorrilho de opiniões jornalísticas do que uma informação com factos.
Mesmo quando os jornalistas não o fazem limitam-se a trazer "comentadores". São assim mais ou menos como as coscuvilheiras da aldeia. Nada sabem ao certo mas são especialistas em rumores e em "ouvir dizer". São também especialistas nas suas opiniões. O que é o mesmo que dizer que qualquer um com um minimo de cultura e discernimento poderia estar no lugar deles.
Uma opinião é uma opinião e como sabemos todos têm uma. Porque pagam a um qualquer asno com uma "agenda" pessoal par ir dizer as suas opiniões para a televisão é algo que me ultrapassa por completo. A utilidade disto é nula. Daqui retiro aquelas figuras de saber e estatura como um Adriano Moreira ou um Miguel Beleza ou os outros especialistas em Economia, Direito, Medicina etc. Mas o resto? O resto são "jornalistas" com opiniões. Vivem das opiniões. E ainda dizem que é difícil ganhar a vida neste país...

Aborrece-me especialmente na nossa informação que quando se entra em questões mais técnicas, se simplifique a mensagem porque se assume (ou se faz conscientemente) que o receptor da mensagem é burro e não merece mais qualidade. Ou pior ainda, se quer "orientar" o receptor da mensagem num determinado sentido, manipulando, omitindo, ou pura e simplesmente inventando informação para obter um resultado concreto.

Nunca estivemos tão mal informados com tanta informação à nossa volta. Perdeu-se quase completamente a seriedade e a objectividade nos media. Salvo raras e honrosas excepções ninguém parece estar interessado em ir ao fundo das coisas. É mais fácil ficar pela lambreta do Ministro ou pela mania que o Min das Finanças tem de falar pausadamente. Ou falar do caso de Sócrates a perguntar de que lado fica melhor do que analisar com algum cuidado o que foram as medidas implementadas ou anunciadas por ele que nunca deram qualquer resultado que fosse ou sequer que foram concretizadas.

Sócrates passa até ao lado desta questão da listagem de chamadas do jornalista. Foi durante o seu Governo feito por entidades tuteladas por si DIRECTAMENTE. Ainda não vi ninguém falar nisto nos media. Só os vejo tratar o caso como se fosse este Governo que tem alguma responsabilidade no assunto. Como todos os outros casos que têm vindo a lume o governo de Passos Coelho não tem feito mais que agachar-se com o saquinho de plástico na mão para apanhar a caca que os outros deixaram e não apanharam.

Aos media pede-se profissionalismo. Ética e algum trabalho de casa. Se tivéssemos que olhar e avaliar o desempenho da classe jornalística deste país nem 1% de Muito Bom se daria. Para se ser uma jornalista basta uma carinha laroca e umas perninhas jeitosas. No caso de ser homem é só necessário ser um palerma que começa por fazer exteriores e perguntas estúpidas. Qualidade do trabalho? O que é isso?

Isto parece ser extensível a todos os meios de comunicação. Foi no rádio que ouvi um jornalista dizer "o ministro das Finanças persiste em responder às perguntas". Persiste. Como se já estivessem fartos de o ouvir e queriam que ele se calasse.
Ou a mais recente campanha, aproveitando a tão proverbial dor de cotovelo nacional, para carregar os ricos com impostos.

Esquecendo-se de dizer qual é o escalão em que já estão os que ganham mais de 150 mil Euros. Em França é preciso 500 mil para pagar 44%. Cá é preciso 150 mil para pagar 49%.
Só ouvimos falar dos 2.5 ou 3.5% a mais. Ninguém diz que quem ganhe 150.000 Euros por ano, "devolve" ao Estado metade do que ganha. Não deduz um tostão. Como provavelmente já vive numa casa melhor deve ter uma continha de IMI de fazer chorar as pedras. Mas depois fala-se no património, especialmente o imobiliário, como se por acaso ele fosse isento de impostos.

Notem bem que os próprios media se referem aos muito ricos. Para eles um rico deve ser logo alguém que ganha 60.000. Provavelmente metade do que ganha um director dum canal de notícias por cabo.

Os verdadeiros ricos riem até doer a barriga com as intenções quase pueris desta corja de palermas que vai dos políticos aos jornalistas.

E se hoje temos uma classe política perfeitamente miserável, em muito se deve ao facto de a classe jornalística, ela também consideravelmente miserável, promover até à exaustão os "meninos" da sua simpatia. O caso de Sócrates é dos mais gritantes e teve as consequências que nós sabemos.

Não consigo quase ver noticiários, programas de comentário ou debates estéreis na TV. A náusea é demais.
Os órgão de informação de "massas" passaram a ser intoxicadores, manipuladores e completamente isentos de decência. Estamos a descer para o abismo Fox News. E estamos a descer a uma velocidade estonteante.