Sim, não, talvez...

As SCUTS... as belas SCUTS que ajudaram a transformar um país com zonas remotas num dos países com mais Km's de auto estrada da Europa.

Lá pelos idos anos 80, ir de Lisboa ao Porto era toda uma façanha. A A1 acabava uns quilómetros à saída de Lisboa para ser reencontrada e meros quilómetros do Porto.
Não havia muito mais auto estrada do que isto.
Aparece Cavaco Silva e uma "batelada de massa" da comunidade Europeia destinada a eliminar as carências dos países periféricos.
Esses governos lançam obras de construção de auto estradas como se não houvesse amanhã.

Quando Cravinho aparece como Ministro das obras públicas (com Guterres) afirma no parlamento que o governo a que ele pertencia ia lançar ainda mais Km's de auto estradas do que os governos que o tinham antecedido. Ia ser de arrasar.
E elas desataram a aparecer.

Mas apareceu um conceito novo que se ia tornar perfeito quer do ponto de vista eleitoral quer para os concessionários que iriam passar a receber do Estado as chamadas indemnizações compensatórias. O modelo foi esticado até à exaustão.
Era quase perfeito porque como o Estado já não tinha fundos para obras desse calibre,  passava aos privados a responsabilidade da construção ficando depois a pagar milhões de Euros (contos na altura) todos os anos para compensar os concessionários da não cobrança de portagens. Garantindo ainda por cima níveis mínimos de tráfego.

O pessoal agradeceu. Nas zonas urbanas do litoral nomeadamente Lisboa e Porto a "coroa urbana" estendeu-se para dezenas de quilómetros que agora eram servidos por excelentes estradas sem portagem. E as pessoas habituaram-se a isso.

A dada altura lá perceberam que sem portagens a coisa iria azedar seriamente e resolveram cobrar algumas tendo sido a CREL a primeira vítima.


Mas num país falido em que as indemnizações compensatórias custam fortemente ao Estado, o modelo das SCUTS começa a cair aos bocados.
O Governo precisa de cobrar alguma coisa por essas vias. Mas decide fazê-lo duma forma completamente canhestra e com uma precipitação de bradar aos céus.

Quando a CREL começou a ser paga, foram realizadas obras para criar as portagens. Era preciso alargar a via, colocar as cabines e para isso era preciso investimento.
O mesmo deveria ser feito para todas as SCUTS que passassem a ter portagem, só que este Governo achou a forma ideal de não precisar de fazer nada disto.
"metem-se uns leitores a la Via Verde, obriga-se o pessoal todo a comprar um chip de identificação por decreto lei e nem de cabines de portagem precisamos".

E toma das decisões mais parvas e mais susceptíveis de gerar um sério problema. Maior do que já alguma vez teve -  Faz isto só para SCUT's a Norte.
É muito difícil explicar porque é que a carga incide apenas nesta zona, deixando para outras zonas do país o mesmo modelo sem custos.
Claro está que em muitos casos não há alternativas. No Algarve a N125 não é uma alternativa viável à Via do Infante ou no caso da A23 em que a própria auto estrada se sobrepôs ao traçado da nacional não deixando alternativa a muito boa gente.
Uma percentagem importante do total de Km's de SCUT's está em vias no interior, em zonas deprimidas economicamente e normalmente pobres. Mas numa altura destas todos vão dizer que são pobres e falar de equidade. Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.

Esta decisão não foi explicada de forma sensata e lógica. Nem seria possível esperar num momento como este que as populações das zonas onde passasse a haver portagens aceitassem isto de bom grado. Sobretudo quando se sentem descriminados em relação a outras zonas do país.
Em vez de ter dado ouvidos a muita gente que dizia há anos que o modelo tinha de ser repensado e tê-lo feito com tempo e com ponderação, decide agora numa situação de pânico atirar com a carga apenas para uma zona do país.
Idiotice total. Não é mais que uma demonstração do total desnorte em que este Governo se encontra.

Não me choca que quem use uma auto estrada pague por isso. O que não se pode fazer é cobrar quando as alternativas não existem ou foram deixadas ao abandono de tal forma que não podem suportar o trânsito que terá de passar por elas.
Muitas dessas estradas "alternativas" foram deixadas muito simplesmente a apodrecer.

No pânico de ver a medida rejeitada na AR por toda a oposição, o PS vem apelar ao bom senso e à negociação com o PSD para de alguma forma viabilizar esta medida.
Já ontem o PSD tinha desafiado o Governo a dizer se o pagamento das SCUT's ia ser alargado a todas. É que estando toda a gente habituada às aldrabices deste 1º Ministro, já sabe que o que ele diz hoje não é verdade amanhã.
O governo está de cabeça perdida. Apresenta agora uma proposta para isentar os residentes de pagar mas alargando as portagens a todas as SCUT's. Só não se percebe é como vão ser pagas. O chip desaparece? Se for com chip, vamos vendê-los a Espanha para os nuestros hermanos que dêem umas voltas por cá?

O desnorte é tanto que nada disto é firme ou concreto. Não passa de um patinhar num lamaçal que o próprio Governo criou. Espero sinceramente que se afunde de vez.