EDP - Salários da Administração não são pagos pelos clientes

António Mexia dizia ontem na SIC que os salários a administração não são pagos pelos clientes da EDP.

Empresa curiosa esta...

Normalmente uma empresa paga a sua massa salarial, os seus investimentos os juros das suas obrigações bancárias as facturas dos fornecedores etc etc, com aquilo que vem da sua facturação. No fim sobra uma coisa chamada margem de lucro que é tributada em sede de IRC.
Na EDP não.
Existe uma parte da empresa que funciona assim, mas uma outra que vive num mundo paralelo em que os salários do conselho de administração caem do céu. E caem em grandes pacotes de notas e entre elas vem um envelopezinho com um cartão de crédito platina com um plafond razoável (sim, porque esta gente tem de manter o nível e não se lhes pode dar um plafond de 1000 euros por mês. Isso seria degradante).

Ao perceber isto cheguei à única conclusão possível. A administração é paga por Deus. Em Euros.
Assim se explica o bónus que Mexia recebeu pelo trabalho que os outros fizeram, ou até pelo simples facto de os consumidores não poderem trocar de fornecedor. Ao cair de céu, este dinheiro não é gasto por ninguém.

Isto contraria completamente o que eu meu pai me dizia: O dinheiro não cai do céu

Esta revelação não só pôs em causa todas as minhas convicções do tempo da juventude, como me coloca num sério dilema:

Devo eu educar os meus filhos da mesma forma que o meu pai me educou?
Ou devo ensinar-lhes o que agora aprendi?

Afinal António Mexia está numa posição da escala social que o meu pai não atingiu e portanto deve ter razão.
Por outro lado, ao contrário de Mexia, o meu pai sempre se pautou pela honestidade intelectual (e não só) e sempre lutou pelo que teve. Eu a seguir a ele também acabei por perceber que o dinheiro para mim não cai do céu.

Concluo que o que pode ser, e isto é de certeza o que se passa, é que os salários mais baixos não caem do céu. Deve haver uma espécie de limite celestial a partir do qual o dinheiro cai lá de cima.

E a julgar pelo que se passa em muitas empresas, deve haver de facto um limite a partir do qual o dinheiro cai do céu.
Assumindo que as facturas dos clientes já são tão baixas quanto possível e que delas não sai nadinha para pagar os salários mais altos, então esse dinheiro cai do céu.
Penso mesmo que a culpa de muitos salários nestas empresas serem baixos é nossa - dos clientes.
Se nós pagássemos mais pelos serviços, as empresas já poderiam pagar mais aos trabalhadores que ganham menos. 

Assim em vez de bradar contra as injustiças que acontecem com as diferenças salariais nas empresas, devíamos propor-nos a pagar ainda mais para suportar melhores salários para aqueles que ganham pouco dentro dessas empresas.

O resto, os salários altos das administrações, já vem do céu.
Este sistema de gritar para o céu a pedir "notas" explica os aumentos e os bónus que acontecem sem ninguém saber porquê. Os caminhos de Senhor são insondáveis...

Uma vez que existe intervenção divina neste processo e em face desta verdade insofismável só me resta deixar um pedido:

Deus,
da próxima vez que mandares um fardo de notas para pagar à administração da EDP, por favor afina a pontaria e vê lá se acertas com o fardo de notas nos cornos de algum. Pode ser o Mexia. Sugeria até que, em vez de notas, mandasses um saco grande com moedas de 50 Cêntimos. Ou vários. Um por cada membro do conselho de administração seria excelente.

PS. A juntar ao salário junta também as moedas correspondentes aos bónus. Nunca é demais assegurarmo-nos que os sacos têm o peso adequado...