Pessimista? Céptico? Ah sim, absolutamente

Não gosto de embarcar na onda fácil e superficial e pensar que todos os que ganham uns milhares de Euros por mês não os merecem.
Há certamente gente competente que cria valor para as suas empresas e que indirecta ou directamente contribui para os salários dos seus colegas, para a receita fiscal, para a criação de emprego e para todas essas coisas que achamos meritórias. Num caso desses paguem lá o que essa pessoa merecer se faz favor.
É certo também que nalguns casos começam rapidamente os exageros. Os carros caríssimos em ALD pagos pela empresa, os cartões e crédito que são usados para despesas pessoais, o usar dos recursos das empresas em benefício pessoal etc etc.
Alguns diriam que em face do valor criado se deve fechar os olhos a tudo isto porque não é mais que uma gota no oceano.
Eu não fecho. Porque acho que se um indivíduo já é bem pago, é-o para poder sustentar esse nível de vida com aquilo que recebe pelo seu trabalho. Acho também que todos esses benefícios injustificados seriam bem melhor empregues em premiar outras pessoas nas organizações que também contribuem, mas que vêm muitas vezes um magro aumento anual ou uma melhoria de posição negada apesar de a merecerem, porque... não há orçamento.

Mas isto é no mundo das empresas privadas que ainda assim criam riqueza e de alguma forma a distribuem. Não tanto como deveriam, mas fazem-no.

Já me custa mais entender como há situações destas em entidades que não criam NADA. Não geram riqueza, não têm responsabilidades para com ninguém mas têm no seu seio indivíduos que esbanjam igualmente sem haver nada que se lhes possa apontar de trabalho produtivo ao longo de anos e anos.
É isso que acontece com fundações e Institutos que teríamos muita dificuldade em saber o que fazem.

Hoje uma notícia no Público dava conta de um corte salarial de 30% para os membros do Conselho de Administração da Fundação Cidade de Guimarães.
Fiquei com uma certa curiosidade e até uma certa pena dos pobres que irão ver o seu salário cortado num terço. Uma flagrante injustiça, quando sabemos que os maiores cortes foram no funcionalismo público e se ficaram por uns "meros" 10%.
Mas a primeira dúvida que me assaltou foi: Quanto ganhariam as pobres almas? Que trabalho fazem?
Bem, A presidente do Conselho de administração ganha 14.330 Euros... mensais. E os Vogais 12.500.
E o que faz a Fundação? Bem, a entidade "gere" a capital Europeia da Cultura 2012.

Ok, houve planeamento. Começam a preparar-se com 3 anos de antecedência para torrar uma pipa de massa em "cultura". Não está mal. Mas por estes salários se calhar podiam te começado apenas com dois anos de antecedência, ou até (e Deus nos livre) ganhar uns salários um pouco menos pornográficos.
Digo isto porque tenho a "leve" suspeita que o trabalho da Presidente e dos vogais não deve ser uma coisa de rebentar de suor. Não sei, especulo apenas.

Faz-me uma certa confusão como é que com dinheiros públicos se criam estes organismos, pagando bem mais do que o currículo destas pessoas aparenta merecer, durante 4 anos e cujo objectivo é - gastar ainda mais dinheiro. Ao mesmo tempo tem-se o topete de cortar abonos a famílias com 4, 5 ou mais filhos.

Do que me lembro as iniciativas de Capital Europeia da Cultura em Portugal acabaram com saldos negativos.
Lisboa, Porto (a Casa da Música... lembram-se) e seguramente esta iniciativa irão redundar no mesmo.
Sou pessimista? Talvez, mas tenho uma memória do caraças.... e tendo a pensar que sou mais realista que pessimista. Um realista não é mais que um pessimista com memória.
E em Portugal isso é canja.
O efeito económico multiplicador destes eventos ainda está por comprovar. Euro 2004, Expo 98, Lisboa 94, Porto 2001.
Em qual destes eventos houve um retorno com ganhos para o investimento realizado que tivesse beneficiado os cofres públicos? Digam-me um. Não porque eu diga que todos deram prejuízo, mas porque pura e simplesmente não sei.
Deram dinheiro a alguém certamente, lá isso deram. E neste caso darão 800.800 em salários à Presidente do Conselho de Administração desta instituição em 4 anos, mais do que um licenciado na casa dos 30-35 consegue ganhar em 10-12 anos a produzir riqueza numa empresa que paga IRC e quiçá até exporta.
A cultura é importante sem dúvida. Mas assim sendo e cabendo ao Estado promove-la, façam lá o favor de ser contidos e perceber que não se pode criar uma Fundação fajuta que paga 3 vezes mais a um vogal do que paga a um magistrado ou a um médico ou a um quadro técnico superior do Estado no fim da carreira. Ou o triplo do que o sector privado paga a um bom técnico ao fim de 25 anos de trabalho e com responsabilidades bem reais e palpáveis.

Não cortem 30%. Cortem 60% e vejam se algum deles tem currículo e estaleca para ser contratado pelo sector privado com o salário que lhes pagam.
Aí sim, vergo-me perante as evidências. Mas há qualquer coisa que me diz que esta gente fez toda a sua carreira beneficiando do clássico nepotismo português a saltitar de organismo público em organismo público, gastando porventura mal, os orçamentos de que dispõe.

Comecemos então à caça de evidências que corroborem a minha suspeita...


Dra. Cristina Azevedo
  • Licenciada em Relações Internacionais Económico-políticas pela Universidade do Minho
  • Possui uma Pós-Graduação em Análise Financeira pela Faculdade de Economia do Porto, bem como um PDE - Programa de Direcção de Empresas pela Escola de Direcção e Negócios (AESE).
  • Integrou a Direcção de Marketing da então Bolsa de Valores de Lisboa e Porto.
  • Ao longo do seu percurso profissional, destacam-se as funções de Assessora da Direcção Financeira do Banco Borges e Irmão, hoje integrado no Banco Português de Investimento.
  • Actualmente, é regente da Cadeira de Economia Política na Universidade Moderna do Porto, e docente na Universidade Fernando Pessoa e na Universidade de Aveiro.
  • Já foi Vice Presidente da CCDR-N onde assumiu, interinamente, a Presidência no ano 2003.
  • Participou em inúmeras iniciativas e manteve na RTPN, até Julho de 2006, o programa “Choque Ideológico”.
  • Actualmente é Presidente de “Guimarães – Cidade Europeia da Cultura”

Ora isto sim é um CV digno de 14.300 Euros por mês.


Mas num outro CV há uma "ligeira" diferença. Descubram-na (tá bem, fiz batota, sublinhei e pus a bold)

  • Licenciada em Relações Internacionais Económico-Políticas pela Universidade do Minho em Braga
  • Pós-Graduação em Análise Financeira pela Faculdade de Economia do Porto e um PDE - Programa de Direcção de Empresas pela AESE - Escola de Direcção e Negócios.
  • Assume funções como Assistente de Direcção, da Direcção Financeira do BBI - Banco Borges & Irmão, hoje BPI
  • Direcção de Marketing da então Bolsa de Valores de Lisboa e Porto.

  • Nos últimos seis anos a sua actividade profissional está ligada à CCDR-N onde inicia funções como Vice-Presidente, função até 15 de Outubro de 2007, onde é nomeada como Vogal Executiva da Comissão Directiva do PO Norte 2007-2013.

Quando vejo estas subtis diferenças começo a ficar com comichão. Um tremor suave, uma leve subida da tensão arterial e uma suspeita de que a dada altura alguém começa a "injectar esteróides" no CV para ganhar respeitabilidade.
Um assessor é (ou devia ser um perito), um assistente é outra coisa.... um bocadinho diferente.
É meritório subir na vida. O que já não fica nada bem é dar a sensação que se aldraba sobre o passado.
Mas encontrei ainda outro CV:

Experiência profissional

  • De 15/01 a 30/09/03   CCR-N     (Porto)  - Presidente, em regime de substituição 
  • De  23/10/00 a 14/01/03   CCR-N    (Porto) - Vice - Presidente
  • Desde 30 /05/00   CCR-N     (Porto) - Gestora Eixo Prioritário II – PO Regional Norte (QCAIII)
  • 1996 - 2000 BDP – Bolsa de Derivados do Porto  (Porto) -Directora de Marketing
  • 1989 - 1996   BVP – Bolsa de Valores  do Porto  (Porto) - Directora de Relações Externas

  • 1987 - 1989   Banco Borges & Irmão    (Porto) - Assistente de Direcção – Direcção Financeira

  • 1986 - 1987   TGF - Téchniques de Géstion Financière (Paris) - Estagiária 
Experiência profissional complementar


  • 2000 Escola Superior de Jornalismo    (Porto) - Regente da cadeira de Globalização (4º ano Curso Superior de Jornalismo)

  • 1995 – 1998 ESF – Instituto Superior de Estudos Financeiros e Fiscais (Porto) - Regente das cadeiras :  Análise de Marketing e Complementos de Marketing
  • 1994 – 1995 Universidade Fernando Pessoa   (Porto) - Regente da cadeira de Marketing Financeiro

  • 1991 – 1993 Universidade Moderna    (Porto) - Regente da cadeira de Economia Política 
Formação Académica

  • AESE – Associação de Estudos Superiores de Empresa (Porto) - XIII PDE – Programa de Direcção de Empresas 
  • 1990        (Lisboa) - Kotler on Marketing (ministrado pelo Prof. Kotler) 
  • 1988 – 1989 Faculdade de Economia da Universidade do Porto - Pós-Graduação em Análise Financeira 
  • 1983 – 1986 Universidade do Minho (Braga) - Licenciatura em Relações Internacionais Económico – Políticas 
Línguas
  • Inglês    Fluente Proficiency C – British Institute 
  • Francês   Fluente Diploma 5º ano – Alliance Française 
  • Alemão    Conhecimentos Médios Frequência Göethe Institut

Outras habilitações

  • 1974 – 1986  Conservatório Regional de Braga – Fundação Calouste Gulbenkien - Curso completo (educação musical, acústica, história da música, composição musical e piano – diploma  curso geral)

Distinções

  • 1987  Melhor média final do curso de Relações Internacionais  Prémio Associação Industrial do Minho
  • 1988  Melhor média final do curso de Relações Internacionais Prémio Fundação Eng.º António de Almeida
Filiações
  • ANPRI – Associação dos Profissionais de Relações Internacionais - Associada e Presidente do Conselho Fiscal
  • APAF – Associação Portuguesa de Analistas Financeiros - Associada

(Suspirando) Yep, pelos vistos tinha razão. Organismos públicos, leccionar em universidades etc etc.
Então, sou pessimista? ou realista? Por uma vez na vida queria ter descoberto um CV que não fosse sendo aldrabado ao longo do tempo, com inconsistências de datas e posições. Queria mesmo ter encontrado algo que me provasse uma vez na vida que o meu pessimismo céptico não tem fundamento.
Depois de tanto traquejo a leccionar sobre Marketing estava à espera de ver uma posição de Directora de Marketing de uma empresa. Mas é da Bolsa de Derivados do Porto ... É mais ou menos como ser director de Marketing do Hospital de S. João... Ou da prisão de Alcoentre.


Tenho mesmo de arranjar os amigos certos.

Só não percebo como se acaba um curso em 86 e se recebe um prémio da melhor média em 87 e outro em 88, mas posso ser só eu que sou mal intencionado. Ou os tipos estavam baralhados e continuaram a dar o prémio à mesma pessoa porque em 87 e 88 não houve notas mais altas ou então há qualquer coisa de errado nesta atribuição de prémios à nota mais alta.
Também tenho a leve suspeita que falta uma filiação na lista, mas lá estou eu...
Deixo ao vosso critério qualquer consideração acerca da "carreira" que leva uma pessoa 24 anos após uma licenciatura de 4 anos (numa altura em que eram quase todas de 5), uma pós graduação de um ano (mestrado? não me parece...) a auferir um salário de 14.300 Euros por mês, mais benefícios. Deve ser por saber tocar piano... (Eu sabia que a porcaria da viola não me levava a lado nenhum)
E nem quero escavar para saber os CV's dos vogais... é que almocei há pouco tempo e receio vomitar...

Actualização
Não resisti. Fui escavar. Aqui está um documento sobre um dos vogais executivos. Nada mais nada menos que um documento da EDP a cujo Conselho Geral de Supervisão pertence

http://www.edp.pt/pt/aedp/governosocietario/orgaosgovernosocietario/conselhogeraledesupervisao/CV%20CGS%202010/MMonteiro.pdf

Transcrevo aqui o conteúdo desse documento

MANUEL FERNANDO DE MACEDO ALVES MONTEIRO

  • Nasceu em 12 de Abril de 1957.
  • Licenciado em Direito.
  • É Administrador das sociedades CIN, Novabase e AICEP.
  • É Membro do Conselho Coordenador da SEDES.
  • É Presidente das Comissões de Vencimentos das sociedades AICEP – Global Parques, SA, AICEP Capital, Douro Azul, SGPS, SA e Sardinha & Leite, SGPS, SA.
  • É Membro dos Conselhos Consultivos da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica – Porto e da Porto Vivo, Sociedade de Reabilitação Urbana - Porto, SA.
  • É Membro do Conselho Geral e de Supervisão da EDP desde 30 de Junho de 2006, tendo sido reeleito em 15 de Abril de 2009.

  • Foi Administrador não executivo da Jerónimo Martins, SGPS, SA, Presidente da Euronext Lisbon e Membro dos Conselhos de Administração das Bolsas de Paris, Bruxelas e Amesterdão e da Euronext NV; Foi CEO da BVLP-Bolsa de Lisboa e Porto e da Interbolsa. (eu diria que o link está aqui...)
  • Foi Presidente da Direcção do Instituto Português de Corporate Governance, Presidente da Associação
  • Portuguesa de Analistas Financeiros, Vogal do Conselho Consultivo da CMVM, Presidente da Casa da Música / Porto 2001, S.A..
  • Desempenhou cargos em órgãos executivos de organizações internacionais ligadas ao mercado de capitais (Executive Board da FIABV - Federação Ibero-Americana de Bolsas, da ECOFEX - Federação Europeia de Bolsas de Futuros e Opções, do IFCI – International Finance and Commodities Institute e ECMI – European Capital Markets Institute).
  • Agraciado com a distinção “Chevalier de L´Ordre Nacionale de la Legion d´Honneur”, por Decreto do Presidente da República Francesa.
Este homem mata-se a trabalhar caramba! Com tanto trabalho ainda nos morre a meio do mandato. Como é que ele sabe a uma dada altura em que reunião está?
Nada mau para uma pessoa com uma licenciatura em Direito. Meninos ponham aqui os olhos. Quando o Marinho Pinto não vos quer a fazer o estágio, podem sempre enveredar por aqui.

Mas há ainda uma vogal executiva. Carla Maria do Nascimento Morais.
E se a informação que se encontra me espanta sempre, espanta-me ainda mais a que não se encontra.
A única referência que encontro é uma publicação em Diário da Répulica de 2008 (http://dre.pt/pdf2sdip/2008/07/135000000/3120931209.pdf). Um nomeação do Gabinete do Ministro de Ambiente em 2008 como coordenadora do Eixo Prioritário 2. Aposto que foi lá que a Carlinha conheceu a Tininha que por essa altura estava na CCRN.
Mas não encontro NADA. Nem uma nomeação, nem um CV (ainda que aldrabado... claro que seria aldrabado).
E isso, nos dias que correm, é bem mais sinistro do que encontrar alguma coisa. Nem a indicação de uma licenciaturazinha em Relações Internacionais nem nada... Às tantas tirou uma licenciatura em coordenação de eixos regionais (aposto que as há).

Nil desperandum! Consuetudinis magna vis est e "eles" deixam sempre "rasto". Não vou lá de Google, vou lá de Baidu