Dois pesos e duas medidas
Quando Isabel Jonet abriu a boca cairam-lhe em cima. Como se o que ela dissese fosse tornar o mundo pior. Como se a manifestação da ideia de que se deve ter alguma contenção nos tempos de abundância para passar menos mal nos tempos de escassez fosse algo de extraordinário ou digno de crítica.
Crítica essa que foi ao nível do insulto. Por parte de gente eleita com graus académicos elevados e que se esperaria que tivessem algum pingo de inteligência. Mas infelizmente a formação e a inteligência conseguem ser ultrapassadas pela demagogia, pelo insulto fácil e pela mais pura falta de vergonha e igualdade de critérios.
Aconteceu o mesmo com Fernado Ulrich. E duas vezes.
O que Fernando Ulrich diz é algo de óbvio. Não manifesta um desejo de que amanhã estejamos a dormir debaixo da ponte. Mas diz algo que é perfeitamente possível - Não sabemos o que se pode passar amanhã. Por uma desgraçada volta da vida poderemos estar numa situação de total indigência. E isso não mata ninguém.
Nem sequer percebo a indignação destas criaturas politicamente correctas quando não são capazes de dar um passo para o lado para ajudar alguém que necessite. Para ajudar alguém que por uma volta do destino tenha ficado numa péssima situação. Precisamente aquilo em que Isabel Jonet atinge níveis de excelência - Ajudar quem precisa.
Ulrich tem razão. A Grécia aguenta. Não tem outro remédio senão fazê-lo porque a realidade é o que é e não basta manifestar que não devia ser assim para tudo mudar.
Veja-se Louçã que chamou de tudo a Isabel Jonet mas que diz que o "Estado" é que devia ajudar. Esta ideia de nos desresponsabilizarmos pelos outros e de colocar uma entidade mais ou menos abstracta a fazer esse papel é extremamente cómodo. Louçã diz, está dito. Nada acontece, mas ele disse e a sua consciência social fica apaziguada.
O que Ulrich diz é o que tem estado a acontecer a milhares de pessoas neste país. Porque deram muitas vezes passos maiores que a perna, porque ficaram sem emprego e não conseguem sair do buraco. Passam mal, muito mal mas pelos vistos aguentam.
Como aguentaram as vítimas da guerra. Com o racionamento, com a escassez com o medo.
Não tinham outro remédio.
Há um certo pavor de ouvir a verdade. Se alguém diz uma coisa que ainda que chocante é uma verdade insofismável salta-lhes a tampa. Este tipo de afirmações são convertidas em títulos e sound bytes que quase faz parecer que Ullrich disse que se formos todos sem abrigo não faz mal (e que era o que ele queria) ou que Isabel Jonet prefere pobrezinhos para poder "mostrar" aos utros como é caritativa.
Este tipo de atitude é nojenta. Parece que só se tem legitimidade para falar se formos miseráveis. Se por acaso for alguém bem na vida, por muito solidário e compassivo que seja, será sempre apontado a dedo "porque está desligado da realidade".
Por outro lado temos um camarada de esquerda que se refere a alguém distinguindo-o pela cor da pele e não se passa nada. Tem até o apoio de gente abjecta como João Soares veja-se bem.
O que seria se Ulrich tivesse dito que os "escurinhos em àfrica passam mal mas aguentam"?
O que seria se alguém que não fosse completamente conotado com a esquerda dissesse o que disse Arménio? Era conversa no jornal para uma semana. parvalhões a fazer páginas no facebook e a bloga toda, desde a rosa à vermelha, a bater nesse hipotético alguém com os insultos típicos de quem não tem nada de útil para dizer ou fazer.
Ser de esquerda não quer dizer que não se seja racista. Se não acreditam nisso olhem para a história do povo cigano debaixo do regime de Ceausescu. Acham que não eram descriminados? Que não eram miseráveis e maltrapilhos? Que podiam aceder ao que os não ciganos tinham?
Arménio não é racista, dizia um dia destes um camarada dele na SIC notícias. Pois não. Para Arménio há os "pretos" que ele gosta e os "pretos" que ele não gosta.
Porque é que ele teve logo de fazer a distinção pela cor? Porque é que na TV não se pode dizer que um detido é negro ou brasileiro, mas Arménio pode fazer esse tipo de distinção sem ter nada de "racista"?
As declarações "polémicas" como as de Ulrich ou Jonet só são polémicas por aproveitamento político. Como o foram as de Ferreira Leite ou outros casos semelhantes.
A cartilha esquerdista de fazer ruído mediático é assim desde o início do século 20. Seguem-na à risca desde essa altura. Usar tudo, seja substancial ou não, para atacar o adversário. Conhecem bem a sua audiência. E sabem bem que para falar para estúpidos convém usar os seus baixos sentimentos de inveja (neste caso para com um banqueiro) para levar a água ao seu moinho. Sócrates elevou esta técnica ao mais alto nível a que já se assistiu neste país. E esse nada tinha de esquerda. Só aprendeu a usar os métodos comunistas para o que lhe convinha.
Se já não conseguia suportar o tipo de sociedade preconizada por esquerda potencialmente genocida, é cada vez mais insuportável para mim ter de conviver com o constante eco que dão a este tipo de coisas. Coisas sem importância e sem consequência. Como se fosse preciso esquartejar mediaticamente e periodicamente uma qualquer personagem não conotada com a esquerda.
A minha rotina passa agora por ver cada vez menos noticiários, ouvir cada vez menos rádio e ler cada vez menos imprensa. É um antro de pulgas e ratos. É algo de completamente insuportável.
Este país precisa mesmo de uma mudança de fundo. Podíamos começar por deixar os media ir à falência e começar tudo de novo. Com gente séria, com gente isenta. Com gente com um mínimo de qualidade. Isto é totalmente intolerável.