Entrevista a António José Seguro

Em várias ocasiões tem criticado o Governo pela austeridade excessiva. Caso fosse primeiro Ministro o que faria?
AJS: Nada. Não fazia nada. Na verdade ficaríamos melhor. Se este Governo quando faz alguma coisa tem a ver com austeridade, se eu não fizesse nada seria muito melhor para o povo português.

Mas não lhe parece que isso poderia ser pior? Que agravaria ainda mais o Estado do país?
AJS: Não. Pelo contrário. Repare que outros Governos do PS não fizeram nada. E não nos colocaram nesta situação de recessão. Nessa altura vivia-se muito melhor, o Estado Social funcionava perfeitamente e não tínhamos esta situação desesperante que vivemos hoje.

Mas a oposição afirma que foi precisamente por isso que a situação chegou a este ponto.
AJS: Não creio. O PSD desculpa-se com o passado. Eu prefiro olhar para o futuro. Nunca diria, se fosse primeiro ministro, que a culpa foi de quem esteve antes no poder.

Não me vai dizer que as heranças do passado não têm qualquer importância?
AJS: Claro que têm. Mas apenas se forem más. Veja o exemplo de Santana Lopes e o estado em que deixou a Economia. Se bem se lembra o deficit estava em 6.83%...

Na verdade isso era apenas uma projecção para o caso de nada ser feito até ao fim do ano, o que podia não ser verdade...
AJS: Sim, mas uma previsão de Vitor Constâncio. E não sabemos se  o Governo faria alguma coisa. Só podemos contar com o que tínhamos nessa data. E só um economista genial poderia fazer previsões a meio do ano com precisão até à centésima. Logo a seguir o esforço do Governo PS em colocar o deficit em 3% foi notável.

Mas foi precisamente nessa altura que se começou a desorçamentar a despesa do Estado. Não terá sido isso apenas uma forma de esconder o "verdadeiro deficit"?
AJS: De maneira nenhuma. Se o deficit do Estado baixou não vejo porque razão temos de estar a incluir despesas que são responsabilidades de outras entidades...

Mas essas entidades eram públicas. Criou-se quase um Estado paralelo
AJS: Mais razão me dá. Hoje o PSD não consegue sustentar UM Estado. O Governo PS sustentou dois. E com um deficit fantástico.

Que acabou por ser corrigido pelo Eurostat em várias ocasiões. Na verdade os números não eram exactamente aqueles.
AJS: Já se sabe que há sempre ligeiras correções

2% é uma ligeira correção? Então isso quer dizer que 2% é uma espécie de margem de erro que se pode desprezar? Podemos encarar  os números do desemprego pelo mesmo ângulo?
AJS: Isso não. O desemprego é uma coisa completamente diferente. Na verdade ainda deve ser maior do que os números oficiais. Deverá andar pelos 20%. Não podemos confiar no Governo.

Os números do desemprego no fim do Governo de José Sócrates já enfermavam desse mal?
AJS: De modo nenhum. Nessa altura o Governo Sócrates criou centenas de milhares de empregos. O problema é que por problemas informáticos muitos desempregados continuaram inscritos nas listas induzindo o INE em erro. O desemprego por essa altura deveria rondar os 2% ou 3%.

Então sendo 2% a margem de erro, nunca estivemos tão bem como nessa altura?
AJS: Sem dúvida. Tudo o que se disse dos governos Sócrates é completamente falso. A crise não foi culpa de Sócrates. Foi sim da forma como o ministro das finanças lidou com a crise internacional.

Tem falado muito no emprego e crescimento. Como se propõe fazer isso?
AJS: Fomentando as duas coisas...

Mas como?
AJS: Bem, isso são detalhes técnicos. Eu olhos as coisas dum ponto de vista político. A minha intenção política é que haja emprego e crescimento. Os técnicos depois encarregam-se de fazer as coisas acontecer.

E que técnicos escolheria para essa tarefa?
AJS: Há muitos. Só no PS estou a lembrar-me de uns cinco ou seis. Gente com créditos firmados como Zorrinho ou Galamba. Nas artes seria óbvio que Maria de Medeiros ficasse com a pasta da cultura. É preciso fomentar o emprego e o crescimento também nas artes. Ela sabe como fazer isso no cinema.

Inês de Medeiros?
AJS: Não, Maria de Medeiros. A Maria de Medeiros entrou num filme internacional

...mas é a Inês de Medeiros que é deputada do PS.
AJS: Sim, mas eu não olho para a cor partidária. Isso é um detalhe técnico ser ela ou a irmã.

Mas esse fomento das artes seria feito com subvenções estatais?
AJS: Claro. O Estado tem um papel fundamental em fomentar a arte e a cultura. Não é um gasto, é um investimento

Um investimento pressupõe um retorno. Qual é o retorno do cinema português por exemplo?
AJS: Enorme. Enorme. Não há um português que não tenha ouvido falar de Manuel de Oliveira.

Mas os filmes dele nem fazem na bilheteira metade do investimento...
AJS: Não podemos olhar para estas coisas com uma visão economicista. Não pode ser só dinheiro dinheiro, dinheiro.

Outro assunto. António Costa, qual a sua opinião acerca desta luta pela liderança do PS?
AJS: Não há uma luta. É um diálogo entre camaradas que se respeitam e que querem exactamente a mesma coisa.

A liderança do partido e ser primeiro ministro?
AJS: De todo. Que querem o melhor para o partido e para o país.

Então porque é que apoiantes seus o acusaram de ser desleal?
AJS: Sabe, as declarações de alguns dos meus camaradas foram feitas a quente. Estavam convencidos que António Costa não gostava de mim. Que não me respeitava. Foi nesse contexto que fizeram aquelas declarações que foram prontamente mal interpretadas pela imprensa.

Mas caso houvesse eleições no partido, as hipóteses de António Costa ganhar são mais altas do que as suas?
AJS: Não creio. Os militantes sabem a forma como me tenho batido pelo emprego e pelo crescimento. Que sou contra a Troika. Ou melhor de ir além da Troika. Só isso é prova suficiente de que eu sou perfeitamente capaz de estar à frente do partido e do Governo.

Mas isso é algo um pouco vago. Não é preciso consubstanciar essas propostas?
AJS: Se eu ganhar é isso que eu vou fazer. Para já é uma questão política.

Acusam-no de ser um líder fraco constantemente desafiado por facções dentro do PS. O que diz disso?
AJS: Isso é um problema de imagem e de comunicação. A maior parte das coisas ou se resolvem ou se destroem com imagem e comunicação. Nesta caso também. Essas facções, como lhes chamou são apenas pessoas com uma opinião divergente. E isso é muito democrático.

Mas a verdade é que, como diz o povo, se querem ver livres de si...
AJS: Essa pode ser a ideia que passa para o exterior do partido. Mas não é a realidade. A realidade é exactamente o contrário.

Que se quer ver livre deles?
AJS: Não, de modo nenhum. São pessoas muito válidas e seguramente conseguiremos encontrar lugares nos mais diversos organismos onde possam exercer o seu trabalho tranquilamente.

Então está a dizer que teriam de abandonar o grupo parlamentar?
AJS: Sendo eu um defensor da não acumulação de funções teria de ser. Mas seria efectivamente uma promoção. Veja por exemplo Pedro Silva Pereira, um excelente economista. Poderia ficar à frente qualquer das nossas empresas públicas.

...ele é advogado...
AJS: É o mesmo. Advogado ou economista, o que é que isso interessa? Acaba por dar no mesmo. Eu poderia escolher um Advogado para o banco de Portugal, ou um economista para ministro da Justiça.
O que importa é a vontade política.

Obrigado pela entrevista. Gostaria de deixar alguma palavra para os Portugueses?
AJS: Gostaria de lhes dar a minha certeza de que o emprego e o crescimento são o caminho. Que não podemos ir além da Troika como tem sido feito por este Governo. E dizer-lhes que se eu for primeiro Ministro irei pedir à Europa, pedir não, exigir que a Europa nos ajude a criar o emprego e o crescimento de que precisamos.
Não aceito na postura deste Governo que tem medo de exigir aquilo a que temos direito na Europa.

E acha que a Europa cederia a essas exigências?
AJS: Sem dúvida. O que é preciso é força e determinação. E nesse particular eu sou a pessoa indicada para o fazer.