E Viva Portugal

A assembleia-geral da Associação Sindical dos Juízes Portugueses decidiu apresentar queixa contra o Governo português ao Conselho da Europa pela alteração do Estatuto dos Magistrados Judiciais.

De cada vez que uma noticia sobre os magistrados do MP ou Judiciais aparece num jornal on line, logo começa uma enxurrada de comentários mais ou menos dementes a desancar na arrogância dos juízes, nos seus principescos ordenados ou na sua "manifesta" preguiça.

Começo a ficar farto deste imediatismo aparvalhado, e triste com a constatação de que o nosso povo é realmente estúpido e impeditivo de que este país seja algo de jeito.
E não estou a falar do simplório inculto, porque esse ainda é respeitador, mas do chico esperto que embarca em toda e qualquer campanha de propaganda que lhe queiram servir pela garganta abaixo. Que do fundo da sua profunda ignorância acha que sabe tudo e que pode permitir-se opinar sobre tudo.
O típico espertalhoco que arranja esquemas para não pagar IVA e que brada porque os outros fogem aos impostos. O tal que trabalha o mínimo possível nem justificando o salário e que acha que os outros todos ganham demais. O palerma que começa a discutir a bola ao sábado, faz uma pausa na terça feira e continua até à quinta feira seguinte. O palerma que era um calão na escola e foi passando pela alergia que o ministério tem às reprovações e que não concebe que haja gente mais esperta, capaz esforçada e inteligente do que ele. É desse "palerma" que estou a falar. O que comenta os artigos de jornal e diz coisas como "deviam era ser todos mortos" o que revela não só limitações na gramática, mas também o perigo que seria ter gente dessa no poder.
O tipo de palerma que acha que se é testemunha de uma das partes (não da verdade). Que mente em tribunal com todos os dentes que tem na boca e que fica fulo se o juíz o expõe como um mentiroso e que acha que os do seu "partido" são todos umas flores e os do outros partidos são todos uns criminosos.
E que é tão palerma ignorante e estúpido que vota num partido sem fazer ideia do que ele defende. Para ele a política é como o futebol. E como é estúpido até ao osso em relação ao futebol, claro que também o é no que diz respeito à política.

E, infelizmente, há uma quantidade incrível deles neste país...

Este governo e este partido tiveram como alvo preferencial, desde que chegaram ao poder, a justiça. Por uma questão de vingança e por precaução em futuros casos, resolveram despojar o estado de direito de um dos pilares fundamentais - a justiça.
E com o aplauso destes acéfalos facilmente manipuláveis, teve um apoio calculado desde o primeiro momento. A campanha de desinformação acerca das férias judiciais foi o primeiro passo. Nunca os juízes e funcionários judiciais estiveram em pé de igualdade nesse debate. Insinuou-se que eles tinham 3 meses de férias e foi ver o povão a bradar pelas suas cabeças. Sócrates deve ter ficado com um sorriso de orelha a orelha e com a sensação (confirmada) de que podia usar esta estratégia até à exaustão com o povo estúpido que se lhe oferecia de mão beijada.

Veio depois o ataque à independência dos juízes e do MP. A sua subordinação factual (não formal) ao poder executivo. Assim, casos "delicados" como os que envolveram Sócrates acabam por nunca ver um devido castigo.

E é aqui que a dualidade dos estúpidos me deixa estupefacto. E confirma as minhas suspeitas - São realmente estúpidos.

Por um lado criticam os juízes e magistrados do MP (a maior parte nem distingue, só pensa na figura do juiz) por deixarem à solta "estes criminosos" mas por outro lado não percebem que estes actos do governo visam precisamente coartar aqueles que ainda têm alguma independência e rectidão e evitar que eles possam por estes "criminosos" por detrás das grades.

O governo trata a justiça como algo de secundário dando sempre a entender que o problema está nos agentes últimos da justiça (os magistrados) ao mesmo tempo que às claras lhes limita a independência de todas as formas possíveis, que os faz trabalhar em condições que levariam a Inspecção Geral do Trabalho a fechar uma fábrica nas mesmas condições, nem sequer assegurando os mínimos serviços dum tribunal (falta dinheiro para pagar telefones mas compram-se blindados para "malhar" nos "eventuais" manifestantes da cimeira da NATO).

As prioridades são claras. E o facto de a justiça não ser uma prioridade demonstra qual é de facto a prioridade em relação à justiça.

O povão estúpido embarca depois na demagogia e populismo fácil de um governo que tem nos juízes um alvo fácil.
Ninguém gosta do poder. Ninguém gosta de um chefe que lhe dê ordens ou de um juiz que exponha uma testemunha mentirosa ou que imponha uma sentença a um vigarista. E acreditem que vigaristas há aos milhares. Os que não pagam o que devem, os que interpretam contratos de maneiras muito sui generis, os que vivem de esquemas etc etc.
Mas ao contrário do médico que tem "poder" e que é visto como um salvador, o juiz é um malandro que obriga as pessoas a fazer aquilo que não querem fazer de livre vontade ou a fazer cumprir a mais básica ética e educação.
Os juízes são um alvo fácil e a crise é um excelente argumento para fazer aquilo que em condições normais seria impossível de fazer. Subordinar um dos pilares do estado de direito ao outro do qual seria supostamente independente.
E a Assembleia da República? Bem, essa faz o que sempre fez - nada. Fica a ver. A maior parte dos deputados nem percebem o que está em jogo e os que percebem precisam do ganha pão.
Gente com alguma rectidão moral como o Secretário de Estado da Justiça saem por não querer pactuar com isto. Outros, como José Magalhães (o tribuno mercenário digital), ou o arremedo de anti fascista que é o Ministro da Justiça, ficam a fazer o que sempre fizeram - porcaria e perpetuação no aparelho de Estado.

O que é triste é vermos depois generalizações e insultos a toda uma classe e a aprovação do "povo" de todas as tropelias que se possam fazer com uma classe profissional de elevada formação, capacidade de trabalho e sobretudo reservada e consciente das suas obrigações.

Repugna-me pensar no povo que temos. Que se deixa levar como um rebanho de carneiros em troca de uns minutos de satisfação por ver os "poderosos" ser achincalhados publicamente. E não os poderosos que merecem, mas sim uns quaisquer. Pensa estupidamente (como só os estúpidos conseguem) que sai a ganhar alguma coisa com a situação. Na verdade vai perder. Vai perder quando uma acção "dele" contra o amigo dum qualquer membro do partido de circunstância, for decidida em favor da outra parte de forma incompreensível. Ou quando mais um politico corrupto mandar destruir provas incriminatórias. E aí vai culpar quem? Os juízes, pois claro. É como culpar um tipo de mãos amarradas e com uma pedra presa aos pés de se ter afogado.

Estupidamente vingativo, estupidamente gastador, estupidamente incapaz de fazer um raciocínio, estupidamente estúpido.

Aí tens povo... Tu que votaste em Sócrates por duas vezes, que bradaste contra a justiça quando Carlos Cruz foi preso, que berraste quando o caso Freeport veio a lume, que achas normal que se passem diplomas ao Domingo em papel timbrado com telefones que só se usaram anos depois, quando Ferro Rodrigues disse que se estava a "cagar" para o segredo de justiça, aí tens a porcaria que fizeste.
O meu bem haja e o bem haja do Portugal que ainda usa o cérebro.

PS: É gente integra como esta que tutela a justiça em Portugal. O que acham vocês que este Sr. secretário de Estado pensa do tribunal que ordenou a demolição? I rest my case

Arrábida. Mulher de José Magalhães surpreendida com demolição