Se não fosse o WiKiLeaks...

Hoje ri-me um bocado depois de ler no Público o que o embaixador dos EUA pensava do ministro Severiano Teixeira.

No dia 13 um leitor enviou-me em texto que eu publiquei onde apontava uma falha indesculpável de conhecimento do nosso ex-ministro da defesa.

Instado a comentar a situação do Egipto na SIC Notícias, Severiano Teixeira demonstrou uma ignorância atroz acerca da história militar dos conflitos na região.
Errou datas, errou até o resultado da guerra (do ponto de vista de vitoriosos e perdedores) e errou até nas razões para a ascensão de Mubarak no aparelho militar egípcio.

Pois o embaixador Thomas Stephenson diz isto de Severiano Teixeira:

Thomas Stephenson tece comentários específicos sobre antigo ministro da Defesa Nuno Severiano Teixeira, num outro telegrama enviado a 6 de Março de 2009: “Embora seja reconhecido como um académico brilhante, Teixeira é considerado um ministro da Defesa fraco, não muito respeitado pelas chefias militares, ridicularizado pela imprensa e com pouca influência dentro do Governo português.” O embaixador diz que quando Severiano Teixeira sucedeu a Luís Amado no cargo “não tinha experiência em liderança nem experiência militar”. Por seu lado, o secretário de Estado da Defesa, João Mira Gomes, actual embaixador português na NATO, é descrito como “quase o oposto de Teixeira”. Nenhum dos dois quis fazer comentários ao Expresso.

O curioso é que com num espaço de minutos, o ministro deixou transparecer, para os mais atentos (e não fui eu porque não vi a sua intervenção), aquilo que o embaixador foi constatando. A ponto de enviar um telegrama com essa avaliação para a Secretaria de Estado.

A pergunta que me ocorre imediatamente é: E quantos mais haverá assim entre os nossos governantes?
Notem que nem sequer estou a colocar esta pergunta por ser o PS a estar neste momento no governo. Ao longo dos anos tive a oportunidade de conhecer outros "responsáveis" nacionais de outros partidos com graus semelhantes de ignorância e incompetência.
Quantos são os considerados "académicos de prestígio" que se revelam como uns incapazes em exercício de funções políticas da mais elevada responsabilidade?

Muitos. Assim de uma assentada conseguimos identificar 2 que ainda estão em funções. O que nos leva também a perguntar: E quem é que os reconhece como académicos brilhantes? Têm alguma obra publicada relevante? Dentro e fora do país? Algum reconhecimento internacional?

Não digo que não tenham, mas é estranho como é que estas qualificações de "brilhantes" correspondem muito pouco à prática real.

Na verdade parece-me que não. E há uma razão fundamental para isto. É que os académicos REALMENTE brilhantes não precisam de cargos políticos para se sentirem completos. São normalmente pessoas dedicadas à sua área de conhecimento que olham até com uma certa desconfiança para a forma como os governantes fazem as coisas.
Podem ter alguma sobranceria intelectual para com a classe política mas tendo em conta as diferenças óbvias que os distinguem destas pessoas, qualquer um sentiria desdém por gente tão "fraca".

Numa universidade acaba por ser fácil. Não há muita réplica. O trabalho até é feito pelos assistentes deixando para os catedráticos apenas uma função de ... catedráticos.
Os casos em que há guerras entre pares são muito pouco mediatizadas e raramente saem dos limites da Universidade.
Mas de vez em quando emergem do meio universitário alguns que por necessidade de reconhecimento, muito mais do que por espírito de serviço, acabam em altos cargos do estado português.

O resultado está à vista. Anos e anos de desnorte, vaidade, inoperância e incompetência.
E esse resultado não passa despercebido a países como os EUA (e seguramente a outros).