Perspectivas

Vivemos dias complexos.
É nestas alturas que o populismo vem ao de cima. Que a caça às bruxas é irresistível.
Isto não é novo. Aconteceu várias vezes ao longo da história e foi sempre aproveitado habilmente por alguém.

Em Portugal aconteceu a seguir ao 25 de Abril. Quem tinha um nível de vida um pouco melhor, um negócio próprio ou simplesmente não se revia no disparate revolucionário em curso, era um fascista. Alguém a abater. E gente como Otelo e outros "camaradas revolucionários" tudo faziam para o conseguir.

Sanearam-se professores porque eram rigorosos. Ou mais mal dispostos. Ou simplesmente porque detinham o poder na sala de aula.
Hoje andamos à caça de quem ganha 1000 Euros. Quem discorda das "massas" está a "viver à conta" é um "mamão" e um explorador capitalista.
Pouco importa que 1000 Euros seja um salário de treta para alguém com qualificações, ou que o objectivo de um país era de que todos vivessem bem e não aquilo que agora se quer. Que todos vivam mal.

Mas o que mais me espanta é a discrepância entre aquilo que é a opinião das pessoas e aquilo que nos chega pelos media.

É muito difícil encontrar alguém que diga claro e bom som que a culpa do que estamos a viver é de PPC. As pessoas votaram para por Sócrates fora há menos de 6 meses. Acham duma forma bastante generalizada que Seguro é um idiota, debitador de infantilidades e um cúmplice incontestável da era Socratista.

É óbvio para a maioria dos Portugueses que esse grupo criminoso que foi o Governo e que rodeou o Governo está na origem do problema. Foi responsável por acção e por inacção.
Havia a ideia de que bastava fingir. E adoptaram esta estratégia até à auto destruição.

Acho fantástico que alguém espere que um Governo tome posse, constate o estado das coisas (salários em risco de não ser pagos, banca em situação de pré colapso, orçamento com uma derrapagem óbvia) e não tome medidas para conter o problema.
Esse alguém defende que o Governo deveria ficar-se por respeitar estritamente um conjunto de afirmações eleitorais (proferidas bem antes de conhecer realmente a situação do país) e ficar quieto a assistir à derrocada de um país inteiro.

Existem aqueles que dizem que a oposição sabia exactamente como estava o país.
Não creio. Nem o governo cessante sabia como ele se encontrava. Há por esse país fora gente em auto gestão a desbaratar dinheiro público. Nem sequer é possível saber exactamente para onde vai todo o dinheiro ou sequer saber quantos médicos trabalham no SNS.
Acresce a este desconhecimento do anterior Governo, tudo aquilo que ele ocultava.

A matriz ideológica do PS de Sócrates era a mentira, a propaganda, a incompetência e a má fé. Esperar que a oposição soubesse exactamente aquilo que nem Sócrates sabia é no mínimo fantasioso.
Sócrates negociou com a troika algo que não esperava cumprir se ganhasse e que deixava uma valente chatice nas mãos de quem ganhasse em vez dele.

O que é repugnante é ver um Paulo Campos dizer que poupou dinheiro ao Estado, ou uma Ana Jorge dizer o que diz. Um foi um vigarista encartado e a outra foi uma incompetente total. Um criou divida nova e a outra deixou acumular milhões de Euros por pagar, pondo em risco os fornecimentos da industria farmaceutica.
São criaturas destas que hoje se permitem apontar o dedo a este Governo.

Infelizmente o que vem para a comunicação é o facto de PPC ter falado em excedente (de liquidez). Imediatamente aproveitado por imbecis encartados da estirpe de Seguro ou Galamba que prontamente defendem que em vez de se pagar dívidas com 3 anos, se devia evitar cortes.
Não consigo perceber como é que para estes cretinos o dinheiro público é uma entidade autónoma que aparece por magia.
De onde acham estes indivíduos que vem o dinheiro do Estado? Quando Seguro ou Barroso diz que são os tabalhadores que vão pagar, o que é que eles acham que acontece normalmente?
É óbvio que o que o Estado usa para pagar as suas contas é sempre dos impostos. E uma enorme fatia dos impostos sobre os rendimentos do trabalho. Ou se paga agora ou se paga amanhã. Mas paga-se.

Eles acham que não. O dinheiro público é uma coisa, e os impostos cobrados aos trabalhadores são outra. É fácil perceber como esta gente se enterrou em dívida a ponto de quase destruir um país.

Tatcher disse isto num discurso:
O estado não tem outra fonte de dinheiro que não seja o dinheiro que as pessoas ganham.
Quando o estado precisa de dinheiro usa as poupanças das pessoas, ou aumenta os impostos.
E não pode haver a noção de que outros irão pagar. Esses outros são as pessoas que pagam os impostos.
Não existe uma coisa que se possa chamar de dinheiro público. Existe apenas dinheiro dos que pagam impostos.

No PS parece haver esta noção de que  o dinheiro público não é de ninguém. Talvez por isso ache perfeitamente normal desbaratar (e roubar, ou dar a roubar uma parte) algo que não é de ninguém. Não se está a prejudicar ninguém, costumam pensar os corruptos para se confortar a eles próprios.

O socialismo acaba quando se acaba o dinheiro dos outros. E o PS fez um excelente trabalho em acabar com o NOSSO dinheiro. E foi ainda pedir emprestado e comprometer o NOSSO dinheiro por uns bons anos.

Vir agora assacar responsabilidades a quem tenta retirar este país dum colapso iminente é tão criminoso e despudorado como tudo o que aconteceu antes.
Não foi este governo que nos fez passar por isto. Foram eles que nos meteram no problema.
É como um tipo que leva um tiro numa perna que tem de ser amputada para o salvar. Quem é o culpado? O que deu o tiro ou o médico?
Na opinião deste grupo inqualificável, o culpado é o médico.
Na opinião da maior parte dos portugueses é o atirador.

Na minha opinião, acho que o atirador devia ser preso, julgado e deixado a apodrecer numa cadeia tão funda que não conseguisse ver mais a luz do sol.
Condenar 10 milhões de portugueses a este calvário, a este retrocesso, é uma coisa que não pode ter perdão.
Não pode.