Afinal o homem mentiu ou não?
Num mundo normal em que coisas destas se resolvem com uma frase rápida e mortal não haveria muitas dúvidas."És um mentiroso do caraças, pá!"
Mas na política não é bem assim. Há muita coisa em jogo, sobretudo quando se está entre amigos. Não se pode reconhecer que se tem no grupo, muito menos quando é o líder do grupo, um mentiroso compulsivo.
Mas até os adversários políticos têm receio das consequências.
"Se dissermos que o tipo é um mentiroso, depois temos de fazer qualquer coisa... E isso mete-nos a nós debaixo das luzes e nós ainda não estamos preparados"
E fazendo slalom pelo meio destas considerações os mentirosos perpetuam-se. Mais grave ainda, ficam com uma noção de que vão poder fazer o mesmo tantas vezes quantas quiserem. E é Vê-los a fazer isso dia após dia e ano após ano.
A melhor maneira de comprometer todos no mesmo voto de silêncio (ou deveria dizer cobardia), é fazer uma comissão.
"Vamos fazer uma comissão para apurar para apurar se o nosso 1º mentiu e se tentou usar dinheiros públicos e influências para calar vozes incómodas"
Garantia de sucesso!!!
Pedem-se as transcrições das intercepções telefónicas. Já estripadas daquelas em que o nosso 1º abria a boca, ficando apenas aquelas em que os correlegionários se espalhavam ao comprido.
São enviadas para a comissão, assumindo-se obviamente que podiam ser.
Mas eis senão quando o presidente da comissão, o clerical Mota Amaral, resolve que isso era uma interferência do poder político no poder judicial. (????)
Quanto a isto tenho uma teoria mas não digo.
Então espera lá... O poder judicial que mandou as transcrições não reparou nisso e teve de ser um dos representantes do poder político a reparar em tão grave erro?
Graças a Deus que ainda temos gente competente e com a noção do que são os pilares do Estado de Direito para "apanhar o copo de cristal" quando ele estava mesmo a bater no chão.
Claro que aos meus olhos e aos olhos de muita gente, isto é uma patacoada. É a demonstração de uma cobardia sem paralelo.
Mas que se propagou pela comissão e pelo seu relator.
Pacheco Pereira ficou furioso. E consultou as transcrições. Os partidos de esquerda a navegar na onda providencial criada pelo presidente da comissão, preferiram não saber de nada.
"Olha lá, ainda ficamos a saber que o tipo é um aldrabão diplomado e um manipulador. Depois as pessoas dizem que ele é de esquerda e nós também somos e acabamos por nos prejudicar!" É melhor não ver nada (See no evil)
Na verdade a comissão só teria de confirmar aquilo que todos já sabemos, mas os políticos acham que se pode fazer um reset à realidade e convencionar uma outra qualquer através das suas decisões.
O relator, um bravo bloquista sempre pronto a desancar os abusos da direita, os devaneios dos poderosos e as maquinações do grande capital, produz um relatório pífio em que não se diz que sim nem que não e em que não tem TOMATES para dizer o que quer que seja.
Tal como eu pensava estes deputados bloquistas não passam duns tribunos vazios que quando lhes pedem para meter as mãos na massa se acobardam e se sentam como um cãozinho bem ensinado à espera de uma recompensa do dono.
É sabido que eles não gostam de sujar as mãos. Preferem que outros o façam por eles.
Foi assim em todos os regimes com que tanto simpatizaram, desde a Albânia à Coreia do Norte.
Há-de haver sempre um polícia ou um militar bem doutrinado que faz o trabalho porco por eles. Eles são apenas os ideólogos.
Do PS não podíamos esperar outra coisa.
Se alguém achar que lhes vai na cabeça alguma dúvida sobre a honorabilidade do líder nunca mais metem o "rabo" na assembleia e eles são manifestamente incompetentes para fazer outra coisa qualquer no mundo do trabalho. Proteja-se a carreira.
O jurista açoriano, representante de burlões e com problemas de cleptomania lá está na 1ª linha de defesa do patrão.
Ele tem vontade própria, não me interpretem mal.
Ela só muda em função da mão que o alimenta e isso neste mundo podre e distorcido chama-se "lealdade".
No PSD apercebem-se de repente que se fica provado (e escrito) que o homem é um mentiroso, vão ter que desencadear qualquer coisa. Uma moção de censura? Não duvido. Provar que somos governados há 5 anos por um aldrabão deve ser uma boa razão para o fazer.
Mas isso põe um problema.
O líder ainda não está firme. Acabou de se vender ao PS e veio pedir desculpas depois. Foi enrolado como um patinho e teme que ainda não tenha votos para uma maioria absoluta (sim, porque eles não fazem as coisas por menos)
Devem ter andado um bocado assustados ao pensar que o relator seria capaz de por no papel o que levou uma vida inútil a dizer.
Com uma proverbial sorte, o nosso Sem medo acobardou-se. E isso salvou o PSD de propor a tal moção de censura.
Ficam todos aliviados.
PS vota contra mas mesmo assim fica com o líder isento do carimbo de aldrabão por parte da comissão
PSD fica todo contente porque assim o PS e Sócrates ainda têm mais um tempinho para se enterrar. E já se sabe: As eleições não se ganham. Espera-se que quem está no poder as perca.
O PCP... oops, o PCP?
O CDS cheio de brio entra à leão e sai votando o relatório num silêncio meio bizarro
O BE sai em ombros. Semedo vai passar o resto dos seus dias a dizer "Eu fiz um excelente trabalho. O meu relatório demonstra que Sócrates e o governo disseram inverdades, omitiram factos e não terão porventura em algumas circunstâncias dito o que deviam dizer acerca da forma mais ou menos exacta de como as coisas se passaram..."
Um grande bem haja para eles.
Passem por aqui mas avisem antes para eu deixar fruta a apodrecer durante uns dias. Até lá vou afinando a pontaria.