o Tuga e a mania das generalizações
Hoje por causa de um cerco a uma casa onde se encontrava um foragido à justiça, um comentário prontamente dizia que se tivessem de esperar pelo mandato assinado por um juiz, teriam de esperar dias porque eles, os juízes, não trabalham nada.
Este tipo de mentalidade é algo de muitíssimo comum. Tal como é comum encontrar agora quem diga que bastava cortar nas mordomias de certos funcionários públicos para não ser preciso cortar nos subsídios de férias e de Natal.
Nada mais absurdo, porque mesmo que cortassem TUDO não chegava para pagar o buraco que o desbarato de dinheiros públicos causou. São negócios ruinosos de milhares de milhões de Euros que levaram a esta situação. Não é com este tipo de "cortes" que se consegue tapar o buraco.
Chego a ver bacoradas como por exemplo substituir os carros de alta cilindrada por carros do nível do Citroen C1. Isto vindo de gente que se empenhou para poder ter um BMW quando podia ter o mesmo C1 sem se ter endividado até ao pescoço.
Falo perfeitamente descansado porque não tenho nem nunca tive carro pago pelo empregador. Mas custa-me aceitar que gente que não prescinde disso, e torce o nariz a carros mais modestos, se ponha agora em bicos dos pés a dar lições de moral aos outros.
A generalização abusiva de que todos os funcionários públicos são maus e de que os do privado são bons e precisamente isso - abusiva.
Nem uma coisa nem outra são verdade. Certo é que muitos se habituaram a fazer o mínimo possível, mas outros matam-se a trabalhar e são dos mais insatisfeitos por constatar que alguns colegas levam uma vida fácil. E isto é exactamente igual ao que se passa no privado.
Tipos a viver encostados, a fazer cera nas horas normais e depois fazer horas extraordinárias são ao pontapé. E não são as avaliações de farsa que existem no privado que fazem a triagem ou recompensam os bons. As avaliações só servem para justificar um aumento ou para justificar a sua não atribuição.
Servem fundamentalmente para que chefias sem tomates se desresponsabilizem de tomar decisões. Dizem que é da avaliação e das directivas superiores.
O mal endémico deste país e que somos mais ou menos incapazes de mexer um dedo para conseguir um objectivo comum para todos. O português mexe-se se isso o beneficia a ELE. Se for exclusivamente por outros então diz "que se mexam eles".
O nosso egoísmo bacoco, a nossa ignorância tornada arrogância e a natural estupidez de quem só pensa as coisas com superficialidade, leva a que sejamos peritos em generalizar.
Se a justiça está mal, são os juízes nababos e principescamente pagos que não fazem nada
Se os nossos filhos são uns nulos incultos, a culpa é dos professores absentistas e desleixados
Se o país torrou milhões de euros dos dinheiros públicos então temos uns políticos miseráveis
Não pensa é que provavelmente tem culpas no cartório.
Se a justiça está mal será talvez pelo disparar da litigância. Talvez porque tenha deixado de pagar a conta do telefone ou do condomínio. Talvez porque interprete a lei sempre a seu favor, incapaz de pensar que não tem razão. Fazendo perder horas e horas a um tribunal que poderia estar a tratar de assuntos bem mais importantes.
Se os filhos são umas nulidades incultas talvez seja porque se estão marimbando para os educar em casa ou porque são incapazes de os incentivar para a importância do saber, ou apenas porque preferem resolver os problemas olhando para o lado e esperando que passe.
Se os país torra milhões de dinheiro público talvez seja porque se olha quem tem dinheiro com toda a reverência sem questionar a sua origem, porque provavelmente gostaria de se beneficiar de uma pequena fatia. Talvez porque no fundo desejariam estar no lugar desses larápios afundados em mordomias.
Lança suspeitas, acusa, julga e castiga com uma precipitação de fazer andar a cabeça à volta.
É burro e ignorante.
Vive de sound bytes como fonte de conhecimento.
É calão e potencialmente corrupto.
Foge aos impostos sempre que pode e fica chocado porque os outros também fogem.
Adora mordomias e gastar o dinheiro dos outros mas passa-se quando querem gastar o seu.
Acha que todos são incompetentes e ganham demais. No seu caso particular isso obviamente não se aplica. Também não se aplica a alguns amigos mais chegados
Acredita que aquilo que os outros têm são mordomias e que aquilo que ele tem são direitos.
Generalizando, é uma besta.