Demagogia de feira

Tem-se falado muito da "privatização" da RTP.
Compreendo que um país deva ter a sua televisão pública. Mas percebo e acredito que uma televisão pública deva ter alguma utilidade pública.
Coisa que a RTP manifestamente não tem.

Já estive no estrangeiro em sítios onde a RTP Internacional estava disponível. Ao fim de alguns minutos preferi ver um qualquer outro canal. Para lá da informação que ainda tinha algum interesse para mim, tudo o resto não me interessou. Devo dizer que sou daqueles que vivia perfeitamente se o futebol não existisse.

No caso da RTP 1, recuso-me a ver a tamanha porcaria de programação com que nos presenteiam. Recuso-me a ver programas para débeis mentais desenhados para as audiências. Concursos requentados de gente que canta e gente que dança e gente que faz na maior parte das vezes uma gigantesca figura de parvo.
Até há algum tempo ainda via o noticiário. Deixei do o fazer. O nível de qualidade da informação da RTP passou a ser igual aos outros: uma trampa que parece ser feita por estagiários espirituosos.

A RTP 2 era, ainda assim, aquela que me merecia mais respeito. Mas noto que muito poucas vezes a vejo. O seu conteúdo apesar de ser mais formativo que o resto é de fraco interesse. Os bons documentários foram dando lugar a séries que podemos ver noutro canal de cabo qualquer. Que espécie de serviço público é esse?

Como é possível que estes canais gastem 1.5 milhões de Euros por dia para nos trazer conteúdos deste calibre?

Estou seguro que a BBC gastará mais. Não me espanta. O país é muito maior e a comunidade de língua inglesa neste mundo é enorme. A BBC sempre foi uma referência de boa informação. Mal seria se até a BBC ainda conseguisse ser mais barata que a RTP.

Não vejo portanto grandes razões para se ter canais públicos que competem com os privados baixando a qualidade ao nível da indigência intelectual.

O governo, este ou qualquer outro, tem de acabar com este disparate. Racionalizar e transformar a RTP em qualquer coisa que não requeira que o contribuinte enterre 500 milhões de euro por ano para a manter a funcionar.

Seja em regime de privatização, seja em regime de concessão chegou uma altura em que, com a escolha existente, a RTP quase deixou de fazer sentido. Até já os debates eleitorais acontecem nos canais privados. Pelo interesse que despertam não há canal que não os queira. Veja-se o exemplo dos US com a quantidade enorme de debates na televisão privada.

Mal foram anunciadas as opções que o Governo vai avaliar começou a gritaria. Primeiro começaram a gritar por causa do conteúdo. Veio alguém lembrar que António Borges tinha referido que essa era uma proposta do grupo que estava a estudar as possibilidades. Começou então a gritaria por causa da forma.
Como foi António Borges que falou, começaram imediatamente a dizer que devia ser Relvas. Que devia ser Passos Coelho, o papa, a rainha de Inglaterra, Mao Tse Tung.

Alguns foram ainda mais longe. Assentando em especulações acerca do modo de financiamento, o imbecil Louçã teve mesmo a lata de dizer que o Governo ia DAR a RTP em troca de nada. Num comício com cobertura mediática quanto baste.
Um grau de demagogia e falsidade difícil de bater. Se o sucessor de Louça tiver a mesma falta de vergonha em mentir descaradamente que ele tem, o Bloco fica bem servido.

Agora até o seminarista Seguro vem dizer que quando o PS chegar ao poder volta a ter um canal público. Se for 1º ministro.
Alguém lhe explique que ele não vai ser 1º ministro. António Costa já o tem na mira e ele, pobrezinho, não se vai conseguir defender. sairá sem honra nem glória. Tão perto e tão longe.

Esta oposição vai do delírio à tolice mais completa. Desde o "pacto de agressão" e a "defesa dos trabalhadores" na qual se insere decerto a manutenção da RTP até à mais completa irrelevância do PS.

Num país falido em que a RTP mais não tem sido que um instrumento de propaganda governamental, não é possível manter uma estrutura assim em troca de milhões gastos do dinheiro dos contribuintes.

Uma televisão pública não está sequer perto do topo na lista dos serviços que devem ser assegurados pelo Estado.
Estão sim a saúde, a educação a segurança, a justiça. Televisão não está.

Se estivéssemos economicamente bem já era duvidoso que se mantivesse uma canal público assim a estafar milhões com conteúdos como tem. Num país falido isso está mesmo fora de causa.

Pode perfeitamente haver mais canais em sinal aberto a sustentar-se apenas de publicidade. A RTP não compete com armas iguais com nenhum deles. Tem a almofada do estado e compete directamente em conteúdos. É preciso decidir de uma vez por todas o que é serviço público de televisão. Não é futebol, novelas e programas "ligeiros". A produção da RTP é miserável.
Mas uma coisa é certa - a RTP não é nem de perto nem de longe a materialização desses critérios seja lá o serviço público aquilo que ele for.

À volta deste tema ainda iremos ouvir os maiores disparates. Até ao anúncio oficial e baseados apenas em suposições ainda iremos ouvir bloquistas, comunistas e socialista criticar todos os cenários e todas as possibilidades. Sem saber os contornos do "negócio" iremos ouvir de novo que o Governo vai DAR os canais enquanto um especialista vem depois falar de receitas extraordinárias (receitas por canais DADOS?).

O disparate não vai ter fim.