Um estranho conceito de dívida

Posso até soar antiquado, mas eu pensava que as dívidas se pagavam.

Até aceito que a ideia de contrair ua dívida é a de ter logo na mão todo o dinheiro necessário (para o que quer que seja) e ir pagando os juros e o capital com o tempo.

Se eu for fazendo empréstimos sucessivos, posso correr o risco de não poder pagar as prestações de cada um deles com o meu rendimento disponível. No meu caso particular com os rendimentos do trabalho. No caso de um país com a receita fiscal que em teoria vai aumentando com o crescimento económico.

Mas há um ponto nos países, tal como nas famílias em que se chega ao ponto de ruptura. E é aquele em que a soma de todos os pagamentos de todas as dívidas acrescidas do juro, excede a sua capacidade de pagar.
E aí entra-se numa espiral. Empréstimos contraídos para pagar os devidos, e por aí fora.
Num momento como esse o país ou o indivíduo começa a correr o risco de que a taxa de juro para cada novo empréstimo suba porque o credor acha que há um risco maior de o empréstimo não ser pago, agravando cada vez mais a situação ou até correndo o risco de os potenciais emprestadores dizerem que não. Quando os que são credores de empréstimos a vencer começam a pedir o dinheiro de volta, ele pura e simplesmente não existe.

E foi precisamente a este ponto que Portugal chegou pela mão da brilhante "gestão" de Sócrates.
Aquele que tal como eu acha que uma dívida não se paga de uma só vez, mas que ao contrário de mim tem um conceito de gestão da dívida completamente enviesado.

O que Sócrates fez com a gestão da dívida foi a espiral de empréstimos que muitas famílias fizeram mas a uma escala colossal. E tal como essas famílias entraram em ruptura, Sócrates pôs o país nesse estado.
E tal como muitas famílias fê-lo para ter um carro "de qualidade", "férias de sonho"  "gadgets da moda" etc etc. Agora não têm dinheiro para nada disto. E de sopetão passam por fazer vida de ricos a fazer vida de "sobreviventes". É o que o país foi condenado a fazer duma forma generalizada às mãos deste "gestor".

A noção que ele tem de que “as dívidas dos Estados são por definição eternas” deveria ser em bom rigor "a dívida de um estado é eterna". Mas o catch está no plural. Cada divida singular não é eterna. Vence-se o seu prazo e paga-se. E contrai-se outra. Até um limite em que o país as possa ir pagando sucessivamente.
Um Estado tem sempre dívida. Só que só a vai criando à medida da sua capacidade de a pagar.

O problema é que ele as fez em simultâneo e comprometendo mais que o PIB inteiro do país, caso fossem todas pagas de uma vez. E excedeu o limite de tal forma que os credores não emprestaram mais e chegou-se a uma situação de insolvência. E não empestaram mais porque as malditas "agências" de rating olharam para a dívida acumulada e para o crescimento da receita do Estado para as pagar e disseram "Hei!! Os papéis que esse gajo anda a passar a dizer que deve, não valem sequer para limpar o c@"

Este criminoso incompetente faliu um país.
Este criminoso incompetente que "estudou economia" (deve ter sido nos intervalos do "inglês técnico") verbaliza uma coisa que é infelizmente muito real para muitas empresas deste país. As dívidas do Estado são pagas quando apetece ao Estado e nas condições que ele dita. Veja-se a crónica dívida do SNS às farmacêuticas.


A chatice de se quebrar este equilíbrio é que para fazer face ao peso da dívida acumulada e da nova contraída para poder fazer face a despesas correntes (neste caso o pagamento de salários a funcionários públicos) é preciso que alguém dê dinheiro ao Estado - nós.
Impostos aumentados e redução dos gastos de Estado para ir gastando o empréstimo mais devagarinho.

Mas assim o crescimento da economia que deveria ir suportando as várias dívidas (e desejavelmente um crescimento acima das taxas de juro das mesmas) começa a não acontecer pela simples razão de que a carga fiscal e a redução do rendimento afecta toda a economia. Menos receita fiscal.

À espiral descendente de dívida junta-se a da redução da receita para a pagar.

Sócrates conseguiu aquilo que qualquer dona de casa nunca conseguiria. Porque sabe que no supermercado não traz as compras em troca de um papel a dizer que fica a dever. Sócrates fez isto em abundância. Isto para ele é "gerir" a dívida.

Porque é que alguém faz isto? Mesmo que fosse por motivos eleitorais e fosse ganhando eleições saberia que isto um dia lhe rebentaria na cara. Mais ainda num país com uma estagnação de crescimento de 11 anos.
Então porquê? Eu tenho uma teoria.

1. Ele sabia que isto não durava para sempre. Sabia que iria deixar a batata quente para alguém. Guterres desistiu e era bem provável que ele o fizesse (e fez com a demissão depois da não aprovação providencial  do PEC IV)
2. Ele sabia que tinha o suficiente para se ir embora daqui e não ter nenhuma preocupação material nem nenhuma preocupação moral com o que deixava para trás (veja-se o tipo de vida que ele leva e a forma quase obscena como manda umas "bocas" de Paris)

Sócrates sempre soube que isto ia acontecer. Mas como um burlão profissional sempre pensou que quem viesse a seguir logo fecharia a porta. "Já não é um problema meu".

No dia em que ouvi o discurso de despedida dele, aplaudido por todos aqueles acéfalos entendi imediatamente qual era a estratégia.
"F@ck the country and f@ck you all. I'm outta here bitches!!".

Mas ao contrário de um bom burlão, não consegue viver sem mediatismo. E agora que não tem conselheiros de imagem e comunicação, acha que já sabe o suficiente para gerir ele próprio esses aspectos da sua vida.
E saem pérolas como a da "palestra" que deu.
Já veio fazer clarificações e dizer que o entenderam mal. Mas a verdade é que a acção dele foi tão na linha do que disse que me parece que lhe fugiu a boca para a verdade. E a verdade é que ele tem mesmo estofo de burlão.

Só persistem na defesa activa de Sócrates, alimárias como Galamba, Alfredo Barroso, Paulo Campos e trampas semelhantes.
Foi a crise internacional, dizem eles. E pensam "se não fosse essa treta da crise podíamos ir fazendo isto mais um ou dois mandatos". Pois foi a crise, que resultou de outras belas formas de "gerir" dívida e crédito, que pôs a nu todas as tropelias que Estados e Governos como o nosso andavam a fazer há anos e anos.
Suponho que todos eles devem ter ideias muito concretas acerca de como gerir dívidas.
Até Galamba dizia no Diário de Notícias que não pode haver poupança sem dívida.
"Aliás, a própria ideia da existência de uma restrição dessa natureza é ilógica: a poupança não pode anteceder a concessão de crédito porque, no momento em que um crédito é concedido, o rendimento a partir do qual se pode poupar ainda não foi inteiramente gerado"
in Diário de Notícias

Este é o conceito "moderno" de um sistema económico na perspectiva de um Economista chamado Galamba.
Não consigo perceber porque é que ele não é banqueiro. Poderia começar a conceder  crédito antes de ter as poupanças dos clientes. Onde raio ele arranjava suporte para esse crédito é que eu não entendo.
Talvez fosse pedir ao pai. Ou a Sócrates, já que consta que ele até está "abonado".

É aterrador pensar que um dia destes, quando ele for mais velho e houver outras trocas de cadeiras, um tipo assim pode aterrar num lugar sério e de responsabilidade na "gestão" de uma país. E lá teremos outro "criativo" à laia de Sócrates a "gerir" coisas. Se ele não aprendeu até agora, também não é na política que vai aprender. Isso é garantido.

PS: Até Freitas do Amaral que foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, ousou hoje criticá-lo. Adoraria saber as verdadeiras razões da sua saída do Governo. Creio bem que as desculpa da saúde foi providencial.