Ainda a emigração...
Passou-se da condenação bacoca e desproporcionada das palavras de Passos Coelho para uma espécie de "preocupação" pelo facto de que os que emigram são os mais qualificados.
Ora bem... Isto parece pressupor que os que cá ficam são pouco qualificados. Parece pressupor também que à saída de uma universidade são mais qualificados do que os que estão empregados e exercem há anos e anos.
Não estou a entender porque é que os licenciados e mestrados pós Bolonha são mais qualificados que os pré Bolonha. Só se for uma questão de quantidade.
Se calhar muitos dos que têm hoje uma licenciatura são francamente menos qualificados do que os que o fizeram há 7 ou 8 anos. E não é que não houvesse problemas com a sua empregabilidade nessa altura.
Desde sempre houve emigração de portugueses sejam eles com grau superior ou não. Bastou a nossa adesão ao espaço único para se assistir a uma enxurrada de gente qualificada a sair do país. Entretanto terão voltado. Querem então dizer-me que esses que já emigraram, já amadureceram e se tornaram excelentes profissionais são afinal menos qualificados que estes?
Começamos a andar aqui à volta de um erro fatal. Muitos dos que emigram fazem-no porque deitam as mãozinhas de fora e procuram outros horizontes. Ou porque o mercado é escasso para os seus skills ou porque simplesmente não há empregabilidade para todos. Mas acham que se o mercado não consegue, pela nossa escala, absorver investigadores e doutorados e mais não sei o quê vai ter capacidade para o fazer daqui a 10 anos?
Acham que com a quantidade de advogados que as universidades põem cá fora todos os anos vai haver processos e trabalho para todos? Não é só uma questão de crise. É uma questão básica de desajuste entre a formação e dimensão do país. Que agora ainda se encurta mais.
Parece que de repente estamos a perder todos os talentos que alguma vez tivemos. O que diferencia esses talentos sem experiência profissional de qualquer outro talento igual de há 10 anos atrás? Nada. Para os dois o 1º emprego é sempre mal pago e serve sobretudo para aprenderem.
E não se iludam. Já conheci portugueses com cursos superiores que trabalharam no estrangeiro e que são grandes flops e outros sem essa formação que nunca saíram e são excelentes profissionais.
Portanto vamos lá a ter alguma calma quando chamamos a esta a geração com melhores qualificações de sempre e quando estamos a dar a ideia de que o país fica entregue aos nabos. Há muitos por aí sim senhor, vão-se também embora muitos nabos. Mas há muita gente que cá fica que todos os dias faz um excelente trabalho com empenho e dedicação.
Façam lá o favor de entender que será sempre difícil arranjar emprego para um aluno brilhante com um curso de física. Ou será sempre díficil para alguém que faz um curso de relações internacionais.
À entrada para um curso desses, seja em que altura for, quantas hipóteses de emprego podem achar que existem quando saírem? Querem fazer o favor de ir a uma dependência bancária e perguntar aos funcionários do balcão na casa dos 30 anos qual é a sua formação? Aposto convosco que apanham uma mão cheia de "gestores de empresas". E isso não é over qualified por acaso?