O mais completo desprezo pelos utentes
Não será certamente generalizado a todas as pessoas que trabalham na empresa, mas o resultado sentido por todos é inegável.
Há dias atrás a CP fez greve. Estava contra a austeridade, contra a redução das horas extraordinárias etc etc. Basicamente contra tudo o que possa significar um sacrifício para que a empresa não se afunde completamente.
Foram decretados serviços mínimos que não terão sido cumpridos. Foram abertos processos disciplinares a alguns funcionários (maquinistas, creio) por causa do incumprimento destes serviços mínimos.
Em solidariedade com estes trabalhadores os maquinistas vão fazer outra vez greve.
O desrespeito pelos utentes que já pagaram os seus passes e dependem destes serviço todos os dias é total. Seja por que razões for, na CP usa-se a greve quando se precisa de tempo para ir "mijar".
Esta gente sabe que se a empresa estiver no fundo do buraco há-de vir mais uma mala cheia de dinheiro dos contribuintes para que tudo continue a funcionar e que os salários sejam pagos.
A greve é um direito que está associado a um dever. E o dever é usar esse direito com razões legítimas e de força maior.
Com este hábito peregrino de fazer greve por solidariedade, ou porque queremos forçar a que a administração faça uma coisa qualquer, haveria todos os dias milhares de empresas em greve neste país.
É totalmente inaceitável que o dinheiro dos contribuintes seja usado para sustentar este tipo de atitude de gente que pensa que haverá sempre uma mãozinha do estado a colocar lá dinheiro que eles decidiram deitar pela janela fora.
O nível de acountability desta gente é nulo. O respeito pela sua função (servir o utente) não existe. Estes grupos parecem pensar que a CP existe para eles se servirem.
O mesmo se pode dizer dos miseráveis gestores que a empresa foi tendo ao longo dos anos. Se calhar ainda em maior escala.
Mas a verdade é que a CP causa a ela própria enormes prejuízos, e por atacado ao Estado. E o Estado somos nós.
De cada vez que esta corja faz uma greve por porra nenhuma, o dinheiro dos passes já lá canta.
Mas a receita dos bilhetes vai pela borda fora.
Podem dizer-me que essa receita não cobriria os custos. Mas pelo menos cobriria uma parte.
Se for óbvio que se não andarem há menos prejuízo, é legítimo pensar que então não são precisos maquinistas para comboios que não se movem. E como tal é melhor fechar a CP e por um cadeado na porta.
Depois podem ir fazer greve para a porta do IEFP só para ver se chateiam alguém.
Este tipo de impunidade acontece porque estes indivíduos estão habituados a trabalhar num sistema em que é impossível serem responsabilizados pelo que fazem. Nada lhes acontece. Basicamente têm as empresas em que trabalham reféns dos seus caprichos.
Quando os maquinistas decidem que vão fazer greve em solidariedade pelos colegas alvo de processo disciplinar a CP pura e simplesmente fica vazia da sua função - ter comboios a andar. Acabou a festa.
Estes trabalhadores têm uma responsabilidade acrescida em relação a todos os outros colegas. Se eles decidem não trabalhar, todo o esforço de todos os trabalhadores da empresa é deitado por terra. São forçados a ver a empresa enterrar-se um bocadinho mais porque aqueles que se sentem imprescindíveis e impunes na empresa decidiram desrespeitar todos os outros.
Sou apologista de que existam serviços num país que devem ser assegurados com um máximo de eficiência e com um mínimo de prejuízo. Os transportes caem nessa categoria. Aceito que os impostos que pago sirvam para custear o deficit dessas empresas. Mas isso apenas e quando as pessoas que trabalham nessas empresas têm sentido de responsabilidade e respeitam o esforço alheio.
O esforço que lhes paga os salários (pelo menos em parte).
Quando acham, que lá por o dinheiro que os sustenta não ter cara podem cagar olimpicamente no esforço de todos desde os colegas aos utentes ,eu começo a pensar se não é mesmo melhor privatizar e deixá-los ao sabor do mercado.
Aí talvez aprendam a respeitar toda a gente que paga o bilhete. Porventura menos gente porque os bilhetes ficam mais caros, o que levará inevitavelmente à dispensa de alguns deles.
Têm uma oportunidade de ouro para nos fazer perceber que o serviço público faz sentido. Ainda que deficitário (não na amplitude que tem hoje) é algo em que um Estado tem um papel a desempenhar.
Quando fazem gracinhas destas a única coisa que conseguem do cidadão contribuinte é o apoio da privatização da empresa.