O que choca tanto as pessoas?

As repercussões das declarações de Passos Coelho são curiosas.
Se avaliássemos o seu impacto pelo eco mediático das mesmas seríamos forçados a concluir que foi cometido um crime de lesa majestade.
Foi Seguro que chamou demissionário ao 1º ministro, foi Mário Nogueira que disse ao 1º ministro para emigrar, são os comentadores/jornalistas que se desdobram em encontrar toda a espécie de segundos significados nas palavras etc etc.

Os professores sentem-se ultrajados. Sentem-se apontados como excedente num país com cada vez menos oportunidades.
Não é de estranhar. Só não se sente quem não é filho de boa gente.

Mas sejamos realistas. Aquilo que começa agora a ser sentido pelos professores já atingiu outras classes profissionais há bem mais tempo.
A necessidade de procurar oportunidades de emprego fora do país já acontece com muitos. Perante um mercado de trabalho que paga cada vez menos por trabalho especializado muitos profissionais viram-se forçado a sair.
É quase constante ver notícias de investigadores portugueses a trabalhar fora do país. Não tinham oportunidades de enriquecimento profissional ou pura e simplesmente não tinham oportunidade de emprego.
Seja para os países de língua portuguesa, seja para outra parte do mundo, os portugueses com graus académicos elevados emigram desde há muitos anos. No início do século XXI era por uma questão de remuneração. Ganhava-se muito mais na Alemanha, Inglaterra ou US. Mais tarde foi por uma questão de oportunidades independentemente do salário.
Hoje parece ser uma escolha entre ter um emprego ou não ter.

A nossa pirâmide etária está a ficar desequilibrada. Há menos jovens, fruto duma política altamente lesiva da família. Um casal jovem tem de pensar duas vezes antes de ter um filho. A casa precisa de ser um pouco maior, e o Estado tem uma fiscalidade absurda para casais com dependentes.
Temos hoje famílias com um orçamento limitado que olham para um filho como mais um peso financeiro que não podem ou não querem suportar. Para muitos isso significa abdicar de um certo nível de vida que não querem perder. Abdicar da liberdade de não ter ninguém a cargo.
Raros são hoje os casais com 2 filhos e muitíssimo mais raros os que têm mais de 2.

Cada vez chegam menos crianças ás escolas. No interior esse problema ainda é mais agravado com a saída de gente mais jovem à procura de emprego nos grandes centros populacionais. Chegados lá, assentam arraiais e já não voltam.
As necessidades do sistema de ensino passam a ser menores nesses sítios e em todo o lado de forma generalizada. Ano após ano hé menos crianças. E isso significa menos necessidade de professores.
Por outro lado chegam todos os anos profissionais ao mercado de trabalho com essa formação. E o desequilíbrio entre a oferta e a procura começa acentua-se.

Assistimos recentemente à não renovação de contratos e muitos outros casos de gente que não é colocada nos concursos. Mas parece continuar a persistir-se num modelo completamente desequilibrado esperando que por artes mágicas haja uma solução para ele.

Segundo o PS a solução parece ser a de contratar toda esta gente quer faça falta ou não. Não existe nada semelhante com as profissões liberais nem se espera que o sector privado da educação resolva o problema até se chegar ao equilíbrio. Espera-se que o Estado o faça.

E o PS fez isso em doses maciças. E sugou uma percentagem de riqueza que nos põe a trabalhar mais de meio ano só para sustentar as suas loucuras. E quando mesmo assim não chegou, pediu emprestado e comprometeu os nossos rendimentos futuros a 10, 20 ou mais anos.
O PS sempre mostrou uma grau de cobardia considerável para enfrentar os problemas. Comelou com Guterres a querer agradar a "todos". 

Sócrates quis agradar apenas a alguns. Os que importavam mesmo. E quando chegava perto de eleições tentava agradar a mais uns quantos.

Aquilo que Passos Coelho disse é dum realismo brutal. Se deve ou não ser dito por um 1º ministro já não sei dizer. Eu prefiro alguém que não me minta do que alguém que passa a vida a dizer-me que está tudo bem até me espetar a faca. Mas isso sou eu. Haverá quem goste de ser enganado.

No sector privado em que não há almofadas. Ou partem para outra ou emigram ou então estão condenados a ficar desempregados durante uns bons anos.


Seja qual for a aposta deste governo ou doutros terá de passar por criação de emprego em sectores que não estejam sujeitos a bolhas ou situações passageiras como foram muitos dos empregos perdidos nos últimos anos.
Tem de passar por repensar as necessidades do Estado em professores, médicos etc etc.
Não se pode simplesmente dizer a toda a gente que tire um curso superior sem pensar nas necessidades do país e na sua capacidade de os absorver.

O que pode um país fazer com profissionais da área do ensino que não têm vaga para leccionar? Garantir emprego? Como? A que propósito? Se um Estado não tem capacidade de suportar os custos o que é suposto fazer-se? Mais dívida?

Não seria preciso que Passos Coelho tivesse dito aquilo. Mas também não mancha ninguém ter o realismo e a coragem para o dizer.

Uma coisa eu sei: Não é a ficar chocado e a fingir que se tem solução para os problemas que eles se resolvem.  O aproveitamento desproporcionado da situação só coloca a nú o facto de que a oposição não tem qualquer alternativa viável. Quando dizem que um 1º ministro não pode dizer coisas daquelas, não conseguem responder à pergunta: Então como se evita o desemprego na classe ?

Não têm resposta. Ela seria muito compromotedora. Limitam-se a dizer umas generalidades acerca do emprego e do crescimento.
Mas isso também eu consigo dizer. Também consigo dizer que o país devia crescer e implementar políticas que favoreçam o emprego.
E como? Aí é que está a questão.... Como? Se a única alternativa que têm é sugerir que seja o Estado a avançar com a contratação devo lembrar essa gente que foi isso que nos trouxe aqui.

Por muito que doa, esta situação económica é a correção forçada de anos de disparates. De forma dolorosa e de uma assentada. Tivessem introduzido pequenas correcções o choque não seria desta dimensão.
Só que entre inação política, incompetência, ligeireza e o mais puro dolo, o PS chegou ao ponto de falir o país. Nada do que Seguro possa dizer do fundo da sua completa irrelevância muda o facto de estar rodeados de camaradas que deram o seu contributo para afundar um país pela 3ª vez em 37 anos.

Quando dizem que nos faltam políticos sou tentado a concordar. Mas não assumam que eles existem no PS. Ser político e tomar sucessivamente péssimas decisões não é ser político. É ser criminoso. E isso foi bem demonstrado nas últimas semanas com as declarações revoltantes de membros do PS. Um deles o ex 1º Ministro.
Não há muito mais a dizer.