A coisa está preta para o "lobby" do alcatrão
Não é novidade nenhuma que o sector da construção está de pantanas.Seja para habitação seja para obras públicas não só já pouco falta construir como não há dinheiro para isso. A loucura do sector esteve no centro da crise de 2008 nos EUA e por arrasto em Portugal e em proporções imensas em Espanha. O volume de dinheiro que o imobiliário envolve pode colocar um país numa situação de colapso económico. E assim aconteceu.
Construiu-se habitação em todos os cantos, vendida a valores absurdos com o conluio dos bancos que financiavam desde a compra do terreno até à venda das parcelas.
Como os objectivos eram medidos em volume de empréstimo, muita gente na banca recebeu simpáticos bónus apenas porque os bancos eram absolutamente laxistas nas avaliações. Avaliavam qualquer porcaria por centenas de milhar e os promotores sabendo disso subiam os preços de forma vergonhosa.
Hoje esses mesmos bancos têm o crédito atravessado nas goelas, um stock de casas a que não sabem o que fazer e "activos" transformados em passivos da noite para o dia.
Nas obras públicas, onde se ganhavam rios de dinheiro a coisa não foi muito diferente. Faziam-se estradas novas por todo o lado. Estradas essas que hoje por causa da introdução das portagens estão às moscas. Mas como a maior parte dos contratos de PPP's compensam os concessionários pela "presença" da estrada independentemente do seu tráfego, faz com que as compensações aos concessionários de mantenham inalteradas. Pior, foram seriamente agravadas para o lado do Estado com um tal de Paulo Campos.
As empresas do sector do alcatrão, responsáveis por cadeias intermináveis de subempreiteiros e trabalhadores a viver e trabalhar com a maior das precariedades, começaram a ter de reduzir "gorduras". Depois das gorduras foi a febra e estão num ponto em que a sua viabilidade está em causa.
E o que fazem? Ao contrário de qualquer pequeno empresário que assume o risco e as perdas, este sector ameaçando com o aumento do desemprego pede ao ministro que seja sensível. Não é que tome uma decisão, mas sim que tome uma decisão em favor deles. A chantagem mais básica que sempre resultou com ministros mais sensíveis às queixas ou a outro tipo de convencimentos.
O conceito de negociação destas empresas é ficar a ganhar com o seu resultado. Assumir riscos qualquer que eles sejam não é coisa que queiram fazer.
Não é de admirar que não o queiram. Nunca precisaram. Os ministros "sensíveis" sempre foram tão simpáticos com eles que entre obras novas e rendas a coisa sempre correu bem.
Só que esse dinheiro vem todo do mesmo sítio. Dos contribuintes. E é um bocado complicado num momento de crise explicar ao contribuinte que mais vale fazer uma estrada para lado nenhum do que manter o sistema de saúde ou de educação a funcionar sem mais uns cortes.
Até porque não estamos a falar de uma estrada ou de estradas vitais. Estamos a falar de auto estradas ao lado de estradas razoavelmente decentes.
Conheço bem as estradas no Marão e a estrada entre Sines e Beja. Nenhuma das duas se pode dizer que seja um horror. O Marão tem curvas, é certo, tem gelo no Inverno e pode ser perigosa se, tal como os locais, se lhe perder o respeito. Mas uma autoestrada não deixa de ter gelo. Num sítio como aqueles será absurdamente cara pela quantidade de viadutos, túneis e outros requisitos.
No entanto gerações e gerações de Transmontanos atravessaram o Marão e a não ser pelo fastidioso da tarefa pouco mais aconteceu. Certo que há acidentes mortais que podem ser reduzidos com uma autoestrada. Deixa de haver choques frontais. Se bem me lembro reduziram isso enormemente na marginal entre Lisboa e Cascais e não fizeram uma autoestrada . Bastou morrer um militar de alta patente num choque desses para fazerem um separador central.
Não é um túnel no Marão que vai fazer "crescer" Trás os Montes. Esse foi o argumento estafado das SCUTS que ao serem portajadas deixaram de ter trânsito. Também não foi pela sua existência que as populações se fixaram no interior nem foi por isso que a actividade económica teve algum crescimento significativo.
No caso da estrada para o "aeroporto" de Beja é outro assunto. É mesmo de duvidosa utilidade. O aeroporto de Beja é uma imbecilidade. Não faz sentido que se pense em via aérea para carga que chegou de barco a Sines!! Se chegou de barco é porque as suas características de perecíbilidade ou valor não justificam a carga aérea.
No caso dos passageiros é absolutamente ridículo pensar que um aeroporto numa cidade que tem uma ligação ferroviária miserável possa ser uma alternativa. Um aeroporto a 180 Km da capital e a uma centena e pouco de Faro. Como aeroporto de carga não faz qualquer sentido. Não há indústrias locais que precisem dele.
O aeroporto de Beja é a todos os títulos uma perfeita cretinice. E como tal nem tem staff permanente nem está aberto sempre. Aliás, não tem voos. Mas tem staff directivo permanente há uns bons anos e não ganham nada mal.
Arranjassem antes o pavimento da estrada existente que já não vê obras há mais de dez anos e ficavam com uma estrada decente para ligeiros ou pesados.
Ou melhor ainda, invistam na linha férrea que é muito mais inteligente.
Estas empresas ma "mama" pública vão ter de perceber de uma vez por todas que tal como as coisas aconteciam acabou. Os espanhóis já estão a perceber e estão borrados de medo. Tal como lá, a construção civil como a indústria de 1ª importância no país acabou. Não precisamos de mais casas novas, os bancos também não emprestam para as comprar e as pessoas não as podem sequer pagar.
Não temos dinheiro para estradas supérfluas. A não ser que se redimensionem estas empresas irão ao fundo. Tiveram 20 anos a encher o bolso e a distribuir fortes lucros aos seus accionistas. Esses mesmos accionistas têm agora de perceber se vale a pena apostar no futuro ou se não vale a pena e dissolver as ditas antes que os prejuízos se comecem a acumular.
É isso o mercado livre. É isso que o dono da pequena loja da esquina enfrenta todos os dias da sua vida. Esse não faz chantagem barata com o Governo para receber uma tranche do dinheiro dos impostos dos cidadãos.