O mundo de faz de conta
Não é nada difícil propor medidas absurdas e impossíveis quando se sabe que elas nunca vão ser implementadas. Fica-se com os louros de propor mediadas "boazinhas" sem nunca se ser confrontado com a sua impossibilidade.
Foi o que o Bloco fez sempre. Foi o Bloco que sempre se preocupou com as questões "fracurantes" deixando completamente de lado a luta contra as verdadeiras causas do nosso descalabro.
Com a desgraça da dívida à vista de todos, com o flagelo das rendas de PPP's à frente da nossa cara, o Bloco entretinha-se em pedir ainda mais gastos do Estado.
Só quando as coisas ficaram demasiado evidentes para se poderem ocultar é que o Bloco saltou para a praça pública falando da situação. Mas paradoxalmente fê-lo ficando contra aquilo que era inevitável - pedir ajuda financeira.
O plano que nos permite manter os serviços do Estado a "flutuar" pagando pensões e salários foi qualificado pelo Bloco como uma situação inaceitável e como um empréstimo com juros de usura.
Por um lado são contra a ajuda mas por outro dizem que 78 mil milhões não chega. Por um lado querem que um Estado sem dinheiro aumente salário mínimo e prestações sociais, mas por outro querem que os impostos não aumentem (baixem) e que não se contraiam empréstimos a juros de "usura".
Querem tudo o que os torne populares junto do eleitorado mesmo que isso seja obviamente impossível.
O PCP alinha pelo mesmo diapasão. Não conseguem perceber que a realidade não é assim. Nem sei se têm noção da realidade e a escondem ou se nem sequer se apercebem dela.
Mas Louçâ deu desta vez um passo ainda maior..
Propõe que o PS que fez o pedido de ajuda e negociou o acordo com a troika, o "rasgue" e se una ao BE e ao PCP num grande governo (??) de unidade de esquerda (??).
O patético destas afirmações é enorme a uma série de níveis.
1. Para fazer um governo é preciso ganhar eleições. E pelo que me consta o Bloco, o PCP e o PS juntos não têm maioria nem nenhum dos 3 é a força política mais votada.
2. Nem o Bloco suporta o PCP nem o PCP suporta o Bloco. Talvez conviesse lembrar que o PCP se acha a "força de esquerda" e considera o Bloco um grupo de patetas elitistas e sem qualquer conhecimento da realidade dos trabalhadores. Junte-se-lhe o rancor pelo facto do Bloco ter tentado reduzir o PCP à irrelevância e percebe-se perfeitamente que BE e PCP dificilmente se podem juntar.
3. O Bloco e o PCP disseram as piores coisas do PS enquanto Governo mas ao mesmo tempo nunca se manifestaram em relação à forma criminosa como Sócrates e a sua pandilha se comportou a desbaratar o dinheiro do Estado. Se o PS o fazia por interesse próprio (dos seus membros) o PCP e o BE acreditam num mundo em que o Estado paternalista sustenta tudo e todos. De cada vez que Sócrates propunha uma benesse demagógica e eleitoralista lá estavam o Bloco e o PCP a dizer que ainda era pouco. Falam agora de pacto de agressão. Sem quererem ouvir até que ponto contribuíram para a falência do Estado.
Louçã e as suas propostas vazias ficarão para trás. Fá-lo agora para comprometer quem o suceder no Bloco.
"Depois de mim o dilúvio".
O Bloco irá reduzir-se à expressão que uma UDP teve durante anos na AR. Um deputado solitário, meio louco, debitando disparates de cada vez que tiver de falar.
E ainda bem. Imaginem um Governo com gente destes 3 partidos. Quem do Bloco poderia ter um lugar dessa responsabilidade? Quem do PCP poderia ter os destinos de um sector do país nas mãos? O camarada Bernardino? Jerónimo?
Seria digno de um filme de terror. Mas ainda assim seria preciso que funcionassem juntos e que um desses 3 partidos (e sabemos qual) ganhasse de novo as eleições.
A julgar pelo andar da carruagem o PS com Seguro nunca o conseguirá. Com o carisma de um caracol, Seguro é um incapaz profissionalmente e politicamente.
Se em cima disso o PSD conseguir colocar o país no caminho da recuperação, o PS poderá dizer adeus ás suas hipóteses durante muitos anos. Pelo menos até varrer das suas hostes todo o lixo acumulado por anos de corrupção, compadrio e incompetência.
O PCP e o BE só singram em clima de descontentamento. Mesmo assim e com o caos a bater à porta nas eleições de 2011, levaram uma sova notável.
Não lhes auguro nada de bom.