Vamos torturar números e já agora tortura-se um país também

Mais uma greve, mais um braço de ferro acerca da adesão.
Os sindicatos dizem que a adesão foi esmagadora e o governo diz que na Administração Central a adesão foi de 10.48%.

A coisa resume-se a números. Os sindicatos querem números. Que realcem o seu poder de mobilização e que não deixem dúvidas acerca do seu ascendente sobre os trabalhadores.
No fim o que se ganha com isto? A mim parece-me que se ganha pouco e se perde muito.

Os trabalhadores manifestaram a sua indignação e fizeram saber que não estão contentes. Incrível. É preciso proporem-se a paralisar um país para que se saiba que estão descontentes? Não será por acaso algo que nós não soubéssemos já?
Perderam um dia de salário e causaram uma disrupção enorme em Lisboa pelo menos. Mas não conseguiram nada mais.
O país continua a viver do dinheiro emprestado pela Troika e se não cumprirmos as metas estabelecidas não vem mais tranche nenhuma.

Parece que ninguém entende que todo o funcionalismo público está neste momento a viver de um empréstimo que dura até 2013 e que chegada essa data, terá de ser continuada a política do empréstimo nos mercados de capitais.
Talvez nessa data, coisas aberrantes a que se assistiu durante anos neste país tenham sido pura e simplesmente eliminadas. O desperdício, o nepotismo na função pública especialmente nos cargos dirigentes, a invenção de incontáveis instituições que nada fazem e vivem dos dinheiros públicos etc etc.
Mas não confundam isso com pagar uma miséria a um médico ou a um juiz ou a a um quadro técnico superior.

É que no meio de toda esta confusão até parece que se quer eliminar todo e qualquer lugar na administração pública que ganhe um pouco melhor. O português, parvo como só é possível a um português, parece achar que a solução para os problemas do país é fazer a média e por todos a ganhar essa média.

Até lá toda esta gente descontente espera que o escolhido para ser "lixado" seja sempre o "outro". Pode não ser.

O resultado desta greve foi apenas mais um número que Carvalho da Silva e os seus camaradas irão lembrar, sempre que precisarem de evidenciar a sua capacidade de mobilização para a luta.
A luta pela luta. A luta sem resultados. A luta por uma utopia impossível pelas piores razões. E as razões pelas quais é utópico esperar que tudo fique como estava, chamam-se Sócrates e PS.

Tudo isto é ridículo e tem exactamente o mesmo resultado que tem na Grécia. Fazem um espalhafato do "catano" e no fim dizem-lhes que se não fazem o que eles querem acaba-se o dinheiro.
Pronto. Desabafaram e ainda estão mais pobres.

Não é por acaso que muitos estão como estão. Foram burros como ninguém e continuarão a sê-lo sem perceber que o que fizeram fez o país também em larguíssima escala. Aparentemente querem que o país continue a fazer o mesmo em seu benefício.

Irritam-me profundamente  aqueles que passam a vida a dizer que isto vai pelo caminho da Grécia. Quase parecem satisfeitos com isso. Depois põem-se a dizer que o crescimento económico não vai acontecer. Para já isso é óbvio. Logo a seguir é caso para perguntar como é que eles o faziam se estivessem nesta posição? Não faziam? Ahhh, que estranho. Então estas alternativas todas a uma situação inevitável são apenas retórica da treta?

O PS não sabia que ao assinar um acordo que prevê 2/3 de corte da despesa do Estado iria impactar os salários dos funcionários públicos? Não sabia que tinha escondido os números da dívida das empresas do sector Estado e que ela viria à superfície? Ora, não me lixem.

A solução para o debate dos números da greve é fazer outra greve? Mas esta gente o que é que tem na cabeça? Merda? Viraram profissionais da greve?

Quando toda esta gente diz que isto vai pelo caminho da Grécia parece nem perceber que eles próprios estão a fazer parte desse caminho. Com o raio que os parta.

Numa altura em que é preciso trabalhar afincadamente para ajudar o país a sair do buraco fazem o tipo de coisas que o afunda ainda mais.
Façam uma mega manifestação num fim de semana. Façam comícios todos os dias, Manifestem a sua irritação, mas ao menos trabalhem caramba.

Numa altura em que a função pública está a receber salários de um empréstimo vir para a rua a reivindicar mais direitos é no mínimo de gente completamente alienada.
Sabendo muita desta gente que o seu lugar está assegurado e que o sector privado leva com todo o impacto de desemprego.
Há muita gente competente no sector público, mas também há muita gente que não faz nenhum anos e anos a fio.
Gente que se fizesse isso no sector privado recebia imediatamente um convite a rescindir o contrato ou, muito pior, levava com um processo disciplinar para um despedimento sem indemnização.

Fico banzado com a forma que estes supostos defensores dos trabalhadores escolhem para os defender. Enterrando-os um pouco mais para satisfazer as suas necessidades de protagonismo político e para esconder que a sua expressão eleitoral não vale um tostão furado.
O PCP terá mais uma vez um digito nos próximos resultados e tudo será como dantes. Este governo viu a greve e continua a ter de provar que consegue chegar aos 5.9% este ano e aos 4.5% no próximo. Nós vamos pagar esses "números" e toda esta gente fica toda contente porque pensa que ainda vive nos anos 70 em que o Estado Social se começava a construir.

Vivemos de facto num país de gente completamente parva, que se acomoda e prefere viver da mama do que ser alguém por mérito próprio.
Os jovens preferem viver da mama paterna (ou materna) com o seu iPhone todo pipi do que deitar as mãozinhas de fora e procurar emprego num mercado de trabalho que abrange toda a Europa. Ficam chocados quando alguém fala em emigrar.
Os adultos gostam de viver da mama estatal em todas as suas vertentes. Desde o empresário ao mais modesto cidadão.
Criaram um monstro em mais de metade do país vive daquilo que o resto paga. Disso e de empréstimos.