A dívida

Muito se diz acerca do tema. Uma das cassetes mais recentes é a de que a nossa dívida aumentou ainda mais e este governo "não fez nada"

Antes de mais nada é conveniente ver um gráfico. São dados do PORDATA e mostram o valor bruto absoluto da dívida e o seu peso em relação ao PIB


A primeira coisa que salta à vista é a subida desmesurada em valor absoluto a partir do ano 2000. O declive acentua-se claramente a partir deste ano, mas a percentagem do PIB não cresce à mesma razão. Obviamente porque houve um crescimento do PIB e atenuou esta subida percentual.

Mais curioso é notar a subida em valor absoluto depois de ter sido levantado o limite de 60%. A subida percentual a partir de 2006 é notável. Em 2009 tinhamos passado de 63% em 2006 para 83.7%. Vinte pontos percentuais em 3 anos. Mas ainda assim menor do que a subida até 2011 que se cifrou em 108.3%.

Não nos esqueçamos que é em 2011 que o pedido de ajuda é feito e que começam a chegar os 78 mil milhões de ajuda.

Numa circunstância destas é óbvio que a dívida tem de subir. Não subirá os 78 mil milhões porque há divida que vai sendo paga entretanto, fazendo com que o crescimento da mesma em valor absoluto não suba na razão directa da chegada das novas tranches.
O que isso quer dizer é que não só se conteve a dívida a contrair como se foi pagando dívida existente. Se pensarmos que há bem pouco tempo subíamos a 19.000 milhões ao ano e que em 2013 vamos descer 3.000 milhões, isso quer dizer que a subida de dívida anual consegue ser 22.000 milhões de Euros mais baixa do que no final de 2011. O apogeu da era socialista.

Mesmo assim, e com um decréscimo do PIB, a dívida sobe para 123.6% do PIB em 2012. Um aumento de 15 pontos percentuais num ano.

Dirão alguns que em 2011 e 2012 já estava este governo em funções e que portanto o aumento da dívida se deve exclusivamente a ele e às suas políticas.
Nada de mais falaccioso. É sabido que as única cisrcunstâncias em que este Governo fez emissão de dívida desde 2011 foi há muito pouco tempo e num valor destinado a testar a procura dos mecados. A expressão da dívida fora dos 78 mil milhões do plano de ajuda é inexpressiva percentualmente.
A subida de 15% entre 2011 e 2012 é consequência directa do plano de ajuda.

Plano esse acordado em valor e em prazo pelo Governo de José Sócrates. Ou seja, no fim do seu mandato o seu Governo identificou uma necessidade de financiamento de 78 mil milhões para 3 anos e foi esse o valor que pediu.
Pouco depois passou o poder ao PSD e PP que passaram a ter a responsabilidade de implementar as medidas acordadas e receber as tranches de ajuda.

É no mínimo desonesto assacar a responsabilidade da dívida a este Governo como se por acaso a trajectória suicida de financiamento fosse a mesma seguida por José Sócrates.

Curiosamente é em 2013 que se terá uma baixa de dívida em valor absoluto. Pela primeira vez desde 1991. Isso nunca aconteceu e parece poder acontecer 21 anos depois.
Está ainda para se perceber qual será a sua expressão em relação ao PIB mas tudo aponta que haja crescimento negativo em 2013 e portanto essa queda em valor absoluto poderá não se ver reflectida no ratio Dívida/PIB.

Vem isto a propósito de uma post no Arrastão de Daniel Oliveira, que fazendo uso da sua afamada desonestidade intelectual a par com alguma incapacidade de digerir números, levanta o fantasma de um crescimento de dívida mensal de 131 milhões de euros por mês!!!

Estes são os números de crescimento mensal  desde 2006

2006 - 497.6 milhões
2007 - 1095.6 milhões
2008 - 642.9 milhões
2009 - 1479.4 milhões
2010 - 1784.9 milhões
2011 - 1897.3 milhões
2012 - 1603.7 milhões
2013 - -281.1 milhões

Só há duas hipóteses perante tamanha falta de capacidade de perceber números:

1. Daniel Oliveira é um ignorante na matéria e tenta esconder debaixo de uma capa de palavreado mais ou menos elaborado a sua mais que óbvia incapacidade de percber números ou fazer contas
2. Daniel Oliveira não é assim tão ignorante mas por razões de pura chicana política ignora por completo que o seu extraordinário número é 1/10 do valor de endividamento médio mensal dos governos anteriores. E isso faz com que Daniel Oliveira não seja ignorante mas sim totalmente desonesto.

Lançar um valor absoluto para o ar (131 milhões ao mês) sem contextualizar é obviamente calculado. Ele sabe, ou pelo menos devia saber, qual era o valor de subida da dívida antes de nos vermos debaixo do plano de ajuda.
Ele devia saber que o resultado miserável de 2012 é o resultado directo do plano de ajuda, já que Portugal não tem outras fontes de financiamento.

Enquanto a esquerda brada por menos austeridade esquece-se que este endividamento mensal é o que tem mantido o "estado social" a funcionar. É o que tem mantido os salários e as pensões a ser pagas.
A menos que haja quem nos empreste dinheiro a troco de nada e sem juros, não há outra forma que não seja cortar nos gastos. E isso significa infelizmente austeridade e uma elevada carga fiscal.


Claro que no "tempo" mediático ninguém se vai perder nestas explicações. Não há tempo.
E na maior parte das vezes não há interesse. O que interessa são chavões, cassetes, sound bytes.
Nem há jornalistas sérios que se deem ao trabalho de ir ao PORDATA, exportar etes dados para Excel e ver as coisas com a frieza dos números. Porque não lhes interessa.
Aos media e aos políticos interessa-lhes apelar a sentimentos mais básicos. A pena, a indignação, e inveja.

Isso move as massas e pode dar votos. Não interessa informar. Interessa deformar.

Mas o mais grave é que não são só os cidadãos a enfermar desta interminável cadeia de desinformação e mal entendidos. Já são os próprios políticos e denotar uma falta de conhecimento dos factos que é preocupante.

Mesmo os mais engajados politicamente papagueiam estas questões. Pergunte-se-lhes um valor e começam imediatamente a patinar.
Experimentem contrapor com valores falsos. Inventados. E verão a outra parte a esbugalhar os olhos e a dizer "mas, isso não interessa nada... o que interessa é que as pessoas estão a sofrer..."

Já o fiz e terminei a discussão a dizer-lhe "Sabes, eu inventei estes números só para ver se sabias do que estavas a falar. Os números verdadeiros são x e y. Pelo menos deu para perceber que não vale a pena discutir com alguém que apenas repete o que ouve dizer. Obrigado por esta conversa. Foi muito elucidativa"

O que a esquerda não gosta é de números. Porque os números são objectivos e isso não serve os propósitos de uma discussão em que a subjectividade é omnipresente. Quando dizem que é preciso mais dívida para sair da crise e ao mesmo tempo criticam o seu aumento, ainda que pálido quando comparado com um passado recente, estão a afirmar uma questão de fé.
E tem uma arte especial em distorcer a realidade.
Ainda me lembro que quando as exportações começaram a subir em valor, o PCP saiu-se primeiro timidamente com o argumento do ouro. Passado pouco tempo todo e qualquer comunista que se prezasse iria retorquir com o argumento do ouro para desvalorizar o aumento das exportações.
O problema era quando numa discussão se dizia a uma dessas pessoas qual era o peso percentual das exportações de ouro no total exportado. Rapidamente a "cassete" foi substituida por outra.

Quando por exemplo Seguro diz que as suas medidas iriam injectar 12 mil milhões na economia fá-lo da mesma forma que eu digo que se for a um casino com 1.000 Euros e apostar na roleta e ganhar um pleno, saio de lá com 36.000 Euros.
É uma questão de fé. Porque de todos os pressupostos de Seguro basta falhar um para que nada do que vem a seguir seja exequível.

Há nestas discussões 3 grandes grupos.
Os que sabem ver os números e que normalmente estão calados
Os que não sabem ver os números ou os tentam negar e distorcer, e que normalmente falam demais
Os que ouvem o segundo grupo e repetem como papagaios a "frase da semana"

Infelizmente a política em Portugal tem vivido dos dois últimos grupos. Os nossos destinos têm sido decididos por estúpidos e geridos por incompetentes e desonestos.
Imaginem em 30 e tal anos o dano que isto não faz a um país. Imaginem onde poderíamos estar como país se não tivéssemos umas elites políticas abaixo de cão e um eleitorado de sarjeta.

Lembram-se de Guterres e a percentagem do PIB? Eles são TODOS assim. Como não esperar que um medíocre que apenas se distingue pela articulação das palavras seja melhor?

Daniel Oliveira é a materialização de um estereotipo.
É aquele tipinho que virou comunista pelos 80, estudou numa Universidade que deu e dá abrigo a gente exactamente do mesmo estilo não se sabendo bem o que estudou e com que aproveitamento. Andou pela imprensa para aqui e para ali.
Jornalista. Que é mais ou menos onde vão parar os enjeitados da vida. Os que não acabam direito, os que não acabam economia, os que nem acabam jornalismo. O jornalismo é uma espécie de último reduto dos que não acabam nada.
Mas espanto dos espantos tem mestrado sem ser licenciado, Na Lusófona. Mestrado directo. Sem passar pela casa de partida.
É daquelas pessoas a quem o facto de ter o dom da palavra o fez convencer-se que é intelectualmente relevante.
Por causa da liberdade política de que gozamos neste país sempre pode "falar" em órgãos de comunicação como não deixaria os seus opositores fazer se fosse ele o poder.

É o exemplo típico do fulano de "esquerda".
É o "camarada" que defende as causas fracturantes.
Tal como Pina Moura, antigo correligionário no PCP o fez muito antes, arrasta a asa ao PS.
Farto que está de se perder em discussões estéreis com os dinossauros do Bloco sem nenhuma perspectiva de poder.

Daniel acabará a beijar o cu de um qualquer secretário geral do PS. Acreditem no que vos digo.
Neste momento já branqueia sem pudor a desgraça governativa socialista. Omitindo factos, números.

E é gente como ele que se arroga de ter alguma superioridade moral?