Proteger do fracasso?

Ouvi hoje um bocado do forum TSF sobre os exames nacionais do 4º ano.

As opiniões dividiam-se. Uns eram a favor de uma avaliação e outros, sobretudo os pais eram contra.

E porque é que eram contra? Na maior parte das vezes or argumentos são absolutamente patéticos e reveladores da sua própria incapacidade de inculcar nos filhos o sentido de responsabilidade que se exige a um pai.

Bem sei que nesta idade responsabilidade é algo de muito "pesado". Uma criança não é por definição responsável. Mas numa família com um mínimo de capacidade para educar, a criança já foi exposta a situações em que tem de fazer determinadas coisas. Porque são a sua obrigação. Uma delas é ir às aulas e estudar.

A verdade é que muitos pais largam as crianças na escola e esperam que a escola faça aquilo que era a sua obrigação. A escola ensina e os pais educam. Esses são os papéis destes dois intervenientes.

Infelizmente a maior parte dos pais não acompanha os filhos no seu ensino, nem tão pouco na sua educação. São impreparados do ponto de vista escolar e nos mais básicos princípios de educação.

Ultra protegidos acabam por ser totalmente desresponsabilizados pelos pais. E isso paga-se.

Quando ouvi alguns pais dizer que ir para outra escola fazer o exame era tirar os filhos do seu ambiente fiquei possesso. É uma desculpa completamente esfarrapada. É algo que porventura os míudos nem sequer interiorizam como sendo um problema. É-lhes inculcado por quem os devia preparar para enfrentar desafios. Nem que esse desafio fosse uma simples avaliação de conhecimento.

Gerações de portugueses fizeram o exame da 4ª classe. Nunca veio nenhum mal ao mundo por causa disso. Mas agora parece que temos de ter todos os cuidados em não traumatizar as crianças. Claro que se lhes perguntarem eles dirão que preferem brincar. Mas se um pai ou uma mãe não consegue fazer um filho perceber a importância de estudar e ser avaliado, então não está a cumprir o seu papel.

Mesmo não havendo exames obrigatórios, muitos miudos foram avaliados para entrar para estabelecimentos de ensino privados. Às vezes mais do que uma vez numa semana, para maximizar as hipóteses de conseguir um lugar num bom colégio. E muitos conseguiram. Se assim não fosse os colégios não tinham estado cheios até há um par de anos atrás.

Os pais que preferem ver os filhos passar de ano sem qualquer avaliação do seu conhecimento são eles próprios uns irresponsáveis. E por isso acham que a forma correcta de educar um filho é protegê-lo de tudo, até de si próprio.

A falta de orientação e de seguimento das suas capacidades resulta numa imaturidade absoluta aos 17 ou 18 anos. Falta de rumo, incapacidade de decidir. E muitas vezes uma marca indelével que fica para a vida toda.

O facto de não haver exames até aqui não significa de maneira nenhuma que isso era uma boa opção. Era apenas a opção dos adeptos do eduquês prontamente apoiados por pais que preferem que o fillho passe em vez de aprender.

Por isso quando me dizem que esta é a geração mais qualificada de sempre dá-me uma certa vontade de rir.
Deparo-me com jovens licenciados com um grau de "verdura" e de irrealismo que seria alvo de gozo quando eu tinha 18 anos. É algo que não se espera numa pessoa com 23 e com um grau académico. Por vezes mestrado.

Estes pais são o resultado dum laxismo que se implantou depois do 25 de Abril. Resultado da mentalidade anti avaliação.  Porque ao avaliar se estabeleciam diferenças entre os que eram bons e os que eram menos bons e isso não servia os objectivos da ideologia dominante na educação.

Estes pais que passaram por sistemas de ensino completamente subvertidos na sua base são hoje aqueles que acham que os filhos são feitos de cristal. Que acham que se a criança for a outra escola fazer um exame ficará marcado para a vida. Estão a produzir inúteis incapazes de lidar com a frustração e com a pressão. Estão a criar pessoas que à primeira contrariedade desistem ou entram em pânico.

A avaliação, coisa que pedem para tudo e todos, senão veja-se a opinião vigente de que se devem avaliar professores, juízes etc etc, é algo que não se deve aplicar a mais ninguém. Mesmo que seja uma avaliação do conhecimento que seria suposto terem adquirido ao longo do ano.

E quanto aos telemóveis. Acho completamente absurdo que crianças desta idade tenham telemóvel para começar e parece-me ridículo que os telefones não lhes sejam pura e simplesmente retirados durante o exame. Termos de respnsabilidade parace-me completamente despropositado.

Infelizmente quando uma coisa destas acontece lá aparecem a agitar o fantasma o antigamente, como se fazer exames fosse fascista.
É ridícula a forma como se chegou a esta histeria por causa de uma coisa tão simples. Or argumentos contra os exames ou contra a logística dos mesmos é duma pobreza argumentativa digna de débeis mentais. E neste particular os pais estão à cabeça deste movimento de idiotas. Esperemos que os filhos consigam ser um pouco diferentes dos progenitores. Ou então a geração seguinte vai conseguir ser ainda pior do que esta.