A solução para a criminalidade
Passou do furto mais ou menos banal a uma actuação constante de gangs em assaltos a bombas de gasolina, caixas multibanco, agências bancárias e mais recentemente roubos de grande envergadura a carrinhas de transporte de valores.
Claro que os media ainda dão uma sensação de maior caos, ao passarem notícias constantes em prime time deste tipo de acontecimentos.
Será que o destaque dado corresponde à importância e à estatística? O governo encarregar-se-à de manipular a estatística, mas a verdade é que foram roubadas caixas Multibanco de dois tribunais durante este Verão, coisa nunca vista, juntamente com um número elevadíssimo de ocorrências deste tipo.
Mas, ontem à noite, no Frente a Frente da SIC Noticias a solução foi encontrada por António José Seguro.
Quase me engasguei com a demonstração de lucidez e pragmatismo do comentador, e fico seriamente tentado a pensar que se isto é o melhor que a política tem para nos dar, estamos perdidos.
No decurso da conversa, que mais uma vez passou pela segurança ficaram-me algumas frases notáveis, e que definem bem a sumidade que temos o prazer de ver na televisão.
Quando interpelado sobre a omissão do 1º Ministro no debate na Assembleia disse mais ou menos isto.
"O 1º Ministro falou de segurança. Reafirmou a sua confiança nas forças de segurança"
Isto é de facto extraordinário. Depois das tentativas (e algumas conseguidas) de manietar a independência do MP nas investigações criminais, quer funcionalizando o MP quer pondo a polícia de investigação criminal sob a tutela do executivo, e depois da aprovação dum CPP que limitou a aplicação de medidas de coação que retirassem criminosos da rua, o 1º ministro diz agora às Forças de Segurança - "Força, acreditamos em vocês!!!" Bravo. Mais um problema resolvido.
Mas foi falando destas banalidades até que rematou com uma pérola.
Há uns anos atrás os índices de criminalidade em Nova Iorque eram elevadíssimos. Em poucos anos (ainda assim uns bons 10 anos) e na altura em que Rudolph Guilliani era mayor, iniciou-se um processo que deu como resultado uma drástica redução da criminalidade, fazendo com que NY passasse a ser uma das cidades mais seguras dos EUA.
A par da contratação de efectivos, e dum apertado policiamento de proximidade (a prevenção é melhor que a reacção) a polícia de NY conseguiu conter fenómenos de criminalidade lendários na cidade. A adopção da política de tolerância zero para com criminalidade menor, foram segundo ele (mayor) a explicação para um decréscimo acentuado da criminalidade.
Claro que há quem discorde e atribua a descida a outros fenómenos, mas a verdade é que houve uma certa coincidência entre a acção e a reacção. Se foi um acaso, foi um acaso feliz.
Mas António José Seguro, disse que a queda de criminalidade se devia a um acordo com os media. Para cada notícia de um crime, os media passavam depois 3 acerca das coisas que a policia teria feito bem.
Foi mais ou menos esta a mensagem, e eu fiquei a pensar se AJS pensa que nós somos mentecaptos, ou se cometeu um deslize e revelou a forma superficial e ligeira com que os políticos vêm as coisas que são um problema. Resolve-se com os media.
Se a televisão disser que está tudo bem, então está tudo bem. A manipulação das cabeças e a propaganda no seu melhor.
O que é mesmo preocupante é que numa elevadíssima proporção, é isso que acontece quando é preciso resolver um problema. Anuncia-se a resolução do problema, e os envolvidos continuam a tê-lo. Mas quem vê televisão acha que ficou resolvido.
Fiquei pasmado. Nunca pensei que nas mais "altas esferas" houvesse gente com ideias tão simplistas.
O que me parece é que estes indivíduos já nem acham que precisam de disfarçar. Estão de tal forma habituados a fazer passar qualquer porcaria, que aos poucos foram achando que nem havia necessidade de falar para gente inteligente. Afinal se a maioria é estúpida bem podem aceitar o prejuízo de perder o respeito dos mais inteligentes. Vai daí falam para estúpidos porque esses sozinhos já dão para a maioria absoluta.
A solução para os problemas passa de uma certa forma por ter um certo controlo na forma como a informação é veiculada. Uma agência de informação (ou várias) é obviamente fundamental neste processo.
Não é exactamente censura, é mais manipulação da informação de forma absolutamente despudorada.
Mas, até podemos aceitar que entre os políticos não há melhor e temos de viver com isto. O que já me choca é que entre os jornalistas a coisa parece ser pior.
Então não é que depois desta tirada, a jornalista de serviço não pergunta nada. Nada!
Será que foi apanhada de surpresa, ou que tal como AJS não faz a mínima ideia do que está a falar?
A questão é que AJS sabe do que está a falar e sabe que nem o público nem o jornalista vão perceber ou sequer tentar rebater estas parvoíces.
Ele sabe que basta ser isto e estar bem relacionado para ter acesso aos corredores do poder.
Na verdade, o povo que vota é meio tolo e há-de sempre ser meio tolo.
Os espertos sempre se podem ir aproveitando da situação.
Viva a Democracia...