A lixeira crescente
Tem sido crescente a constante emissão de opinião por parte de jornalistas (e refiro-me obviamente à televisão) que não conseguem disfarçar uma simpatia politica ou mesmo uma tendenciosa forma de pensar.
Nos últimos dias (semanas) o tema recorrente tem sido a Segurança.
Anda tudo num corropio porque agora o cidadão anónimo e honesto pode muito bem sair para trabalhar e não voltar mais a casa, vitima de um bando de carjackers a caminho de roubar mais uma ourivesaria ou bomba de gasolina.
O que é incrível é que os sinais estavam escarrapachados à frente as suas caras desde há mais de um ano, enquanto estavam entretidos a ouvir embevecidos a diatribe do mediático Marinho Pinto acerca da forma prepotente e arbitrária com que os magistrados mandavam inocentes para a prisão.
Um individuo que disse que não sabe como um juiz pode dormir descansado depois de mandar gente para a prisão. Curiosamente ele parece dormir descansado depois de livrar criminosos da prisão, mas não é isso que está em causa.
Individuo este, que vem agora, e contra corrente, dizer que o CPP está óptimo e ainda é cedo para fazer balanços (ao fim de um ano em que houve um pico de criminalidade raramente visto).
Há um ano atrás foi feita uma reforma ao CPP (Código de Processo Penal) e que tinha como grandes pontos de alteração, as limitações à aplicação da pena de prisão preventiva como medida de coacção e mais umas quantas alterações na sua duração máxima. Ao mesmo tempo e mais ou menos à medida de uns quantos pedófilos com preferência pelas mesmas vitimas, a figura de vários crimes repetidos com a mesma vitima passaram a ser um crime continuado, com uma moldura penal substancialmente inferior ao cumulo juridico dos vários crimes separados.
Não era preciso ser especialmente inteligente para perceber até que ponto esta "piquena" alteração era feita à medida de gente a contas com a justiça. Obviamente que as alterações ao regime da prisão preventiva também visam proteger algum "camarada" caído em desgraça.
O que era também óbvio é que muita gente iria sair para a rua como resultado destas alterações. E assim foi nos meses seguintes à entrada em vigor da nova lei, que entrou em Setembro de 2007.
Uma enorme quantidade de presos preventivos e de presos a cumprir pena sairam para a rua. Já reabilitados foram todos inscrever-se no Centro de Emprego mais próximo.
Oops. Se calhar não foram... Se calhar à falta de meios de subsistência e num país que alegremente não pode prender gente assim, continuaram as actividades criminosas que já os tinham posto atrás das grades.
Os partidos envolvidos nesta linda porcaria (pacto para a Justiça) estavam totalmente conscientes dos efeitos colaterais de tal medida (estariam? Ou será apenas gente completamente irresponsável desfasada da realidade Nacional?) e assim PS e PSD aprovaram esta reforma, tendo o PSD apenas referido a precipitação da sua entrada em vigor.
Alerta para o PSD:
Fazer pactos para a justiça, economia ou outra coisa qualquer em que uma das partes tem maioria na assembleia legislativa é uma BURRICE. No fim, e muito ao jeito do diálogo deste PS, é votado e aprovado aquilo que a maioria quiser, deixando o PSD hipotecado e co-responsável de TUDO o que viu ser aprovado mesmo que estivesse contra.
O PSD perde toda a legitimidade para voltar atrás naquilo em que esteve envolvido. Ou perderia se houvesse espinha dorsal na política. Coisa que não existe. Mas, seja como for, desde que medidas destas sejam revogadas seja por que razão for, já serve...
Claro que neste clima de brandura para com o criminoso, olha-se agora o Estado como uma entidade capaz de violar os mais fundamentais direitos do cidadão.
E claro está, que o nosso caro Paulo Pedroso colocou uma acção contra o Estado por prisão preventiva ilegal.
E ganhou.
O Estado foi condenado a pagar mais ou menos 100.000 Euros de indemnização por prisão ilegal.
O que é verdadeiramente curioso é que ninguém tenha a coragem de analisar a sentença que lhe conferiu esta indemnização para perceber se não é ela também um erro grosseiro. Aparentemente e pela reacção do MP, deve ser uma bela peça jurídica.
Claro que nenhum dos outros condenados e libertados que tivesse interposto acção semelhante teria um resultado tão bom a seu favor, a não ser talvez Carlos Cruz.
Claro que, alguém como Ferro Rodrigues que disse as mais incríveis barbaridades acerca do caso (interceptado em escutas telefónicas), como por exemplo "estou a cagar-me para o segredo de justiça" ou revelando as tentativas de condicionamento dos magistrados do MP encarregues do caso, só poderia estar contente com tal decisão.
Pouco importa se as escutas eram legais ou ilegais.
Uma coisa pode não ser admissível em Tribunal mas o facto é que foi dita pelas pessoas em causa num determinado contexto e isso nem os próprios têm a falta de vergonha de negar.
O que é triste é pensar até que ponto indivíduos como estes vão gerindo as nossas vidas, o nosso dinheiro e tomando as decisões estratégicas para este país. Ou melhor dizendo, a falta de decisões estratégicas.
Tudo é feito de forma casuística, em resposta a uma descida de popularidade ou no sentido de dar "um jeito" a um amigo de longa data que tem "uma empresa".
No meio disto tudo aparecem depois os idiotas úteis. Esperançados em benesses eventuais e capazes de ser ainda mais desavergonhados que os "patrões".
Deixei de acreditar completamente na informação que nos chega. Os media, sobretudo os áudio visuais regem-se por critérios de imediatismo e uma procura incessante de pseudo escândalos.
Não há uma reportagem de fundo, de investigação. Nada. Aridez total.
Temos apensa especialistas em generalidades a dissertar acerca da forma como as coisas deviam ser feitas. Temos "fazedores" de opinião acéfalos a debater quem esteve melhor num debate.
"Fulano de tal esteve melhor porque deu a ideia que sabe do que está a falar"
"Fulano esteve pior porque a escolha do fato não foi feliz e na verdade as pessoas já estão fartas do discurso do está tudo mal" ou ainda "Dou 10 valores a Sicrano porque devia ter pensado que Beltrano podia ter feito algo que ele devia ter feito e não fez"
E é assim que vamos vivendo. No meio desta modorra estupidificante, condicionados por jornalistas de meia tigela que fazem o que lhes mandam (e a dada altura acreditam que são bons e até passam a ter opinião sobre tudo) e por políticos espertalhocos que SABEM que basta anunciar uma porcaria qualquer para serem postos num pedestal. E porque sabem que nenhum jornalistazeco de meia tigela se vai preocupar em perceber se o anuncio corresponde à realidade e como tal nunca ninguém vai saber.
Um dia destes li uma peça acerca do Silêncio como estratégia de comunicação. O caso MFL e a sua dosagem homeopática de conversa era tema de debate. Claro que para os jornalistas é mau que ela não fale. Preferem de longe um incontinente verbal (tipo Marinho Pinto) do que alguém que fala apenas quando tem algo significativo para dizer.
Estamos tão habituados a políticos com verborreia, que até estranhamos alguém que fala apenas quando sabe o que diz e que o faz apenas quando acha que o deve fazer.
Creio que alguém deveria escrever uma peça acerca da imbecilidade como estratégia de comunicação.
Iria ter casos práticos a rodos. Começando peloGoverno (Agricultura, Economia, Administração Interna).
Feitas as contas o que preferem?
Ter um tipo que decorou as alíneas todas de todas as leis do país a debitar paleio inútil (Adm Interna), ter um incontinente verbal que se vangloria de salários baixos.... na China, ter um incompetente que está em negociações de redução de quotas de produção e em resposta à crise alimentar diz que os nossos agricultores devem plantar mais, ou alguém que está simplesmente ... calado?