Nada que não se esperasse

O tão falado caso Freeport está agora em julgamento. E tal como se previa, findo o domínio silenciador do malfeitor e dos seus sequazes, as coisas começam a vir a lume.

Uma testemunha declarou hoje que Manuel Pedro lhe havia confidenciado que o Ministro do Ambiente, o sr. Sócrates, tinha pedido uma "gratificação" de meio milhão de contos para desbloquear a situação resultante de um estudo de impacto ambiental que dava um parecer negativo ao empreendimento.

No último concelho de ministros do governo PS do sr. Guterres, a alteração foi aprovada e o Freeport teve luz verde para seguir.

Claro que perante estas declarações já saltaram a terreiro aqueles que acusam a oposição e os juízes de estar a mover uma perseguição ao "melhor 1º ministro desde o 25 de Abril". Como, se por acaso, um juíz durante o interrogatório a uma testemunha pudesse induzi-la a dizer esse tipo de coisas ou a evitar que as dissesse.

Resta saber se é verdade. E é por isso que o tribunal tem de dar como provado em julgamento este tipo de factos. A prova testemunhal é sempre complicada, sobretudo quando há uma versão e imediatamente o seu contraditório. Ou, pior ainda, quando a testemunha diz uma coisa em fase de inquérito e diz outra em julgamento. A do julgamento é que vale no nosso sistema legal.

Mas isto que os seguidores acéfalos de Sócrates dizem não é mais do que a manifestação da mais completa confusão entre os 3 poderes do Estado de direito. E essa confusão não vem por analogia ou hábito com o que se passava no tempo da antiga senhora. É assim que eles concebem o sistema judicial.

Enquanto Sócrates esteve no poder, tentou cercear a capacidade do poder judicial. A tentativa de funcionalização da Magistratura fazendo-a depender (ainda que indirectamente) do poder executivo foi manifesta. A manipulação da opinião pública, que nada sabe de justiça nem consta que tenha alguma vez entrado numa biblioteca, legitimava esta guerra subterrânea contra o poder judicial.

Não foi só Sócrates. Ele terminou a vendetta começada por gente como Ferro Rodrigues que à data se encontrava na oposição. Ouvir um candidato a 1º ministro dizer numa gravação que se "está a cagar para o segredo de justiça" faz-nos pensar que tipo de gente e que tipo de princípios morais e éticos possui para poder assumir um dos cargos mais altos do país.
A julgar por Sócrates esse tipo de gente não passa de um grupo de vulgares burlões, bem falantes e habituados a esquemas que farão tudo o que seja preciso para sair a ganhar.

Séculos de história do direito, de evolução da estrutura de um Estado são jogados à rua por estes vigaristas com poder que têm como único objectivo meter a mão no saco do dinheiro e ajudar os seus amigos a fazê-lo. Que importa que o poder judicial não possa depois guardar o guarda? Isso devemos perguntar ao povo estúpido que toma partido contra a magistratura porque "ouviu dizer" que eles têm 3 meses de férias e recebem subsídio de alojamento.

O povo não se importa com essas minudências. E nem percebe que ao apoiar a destruição da lei quando os do seu partido estão no poder, está a fazê-lo para quando os do partido de que não gosta lá estiverem.

Uma coisa é a minha convicção pessoal e outra é a do tribunal.
Mas a minha convicção é que um indivíduo que sempre viveu de esquemas, desde a assinatura de favor de projectos de merda, até negociatas com aterros e diplomas oferecidos, poderia muito bem achar que já estava numa posição de "cobrar" mais pelos seus serviços. E o lugar de ministro com o poder que dele advém vale bem meio milhão de contos de reis.

Se assim não for como podem explicar que alguém que vivia apenas do magro salário de 1º ministro, sem fortuna conhecida, possa comprar baratíssimo dois apartamentos numa das zonas mais nobres de Lisboa e viver hoje em Paris com uma renda de casa mensal de 7000 Euros no bairro dos diplomatas?
Se como diziam as contas do Correio da Manhã o sr. tem gastos da ordem dos 15 mil Euros por mês (mínimo) são 180 mil Euros líquidos para gastar por ano. O que equivaleria a um rendimento bem considerável se fosse rendimento de capital, com a sua taxa liberatória de 25% ou, pior ainda, rendimento do trabalho. Que por acaso não se lhe conhece desde que enveredou pela política.

É gente desta que descredibiliza completamente a classe política. Sobretudo quando o faz logo a seguir a ter falido um país inteiro.

Mas o que é fascinante é ver gente a bradar por causa do Audi comprado no governo Sócrates para o Ministério da Segurança Social enquanto que estes sinais estão na sua frente e os nega compulsivamente.
Mas, segundo os cegos, é apenas uma manipulação do partido do Governo e dos Magistrados.
Se bem nos lembramos até Stalin e Hitler tinham seguidores que dariam a vida por eles.

Graças a Deus que estas bestas nunca terão o poder de julgar ninguém.
Infelizmente há outras bestas, desde a academia ao mundo empresarial e da finança, que são suficientemente sectários e corruptos para pactuarem com gente como Sócrates. E é isso que torna tudo muito mais assustador.

Tenho quase a certeza que Sócrates nunca irá pagar por estes crimes. Mas pelo menos que se saiba da boca das testemunhas a estirpe de vigarista e corrupto que tivemos como 1º Ministro. E nunca nos esqueçamos que houve gente que votou 3 vezes num indivíduo assim. Gente que anda hoje pelos blogs e pelos comentários de jornal a defender um tipo destes sem qualquer pudor ou manifestação de inteligência.