A Renovação do Parque Escolar - Uma Obra Essencial
Quase 250 arquitectos produziram um manifesto defendendo a Parque Escolar e o seu programa de renovações de escolas por esse país fora.
Não surpreende. Numa altura em que a escassez de trabalho é óbvia, ver desaparecer algum rendimento do atelier desta forma inesperada deixa a cabeça a latejar a qualquer um.
Mas talvez fosse boa ideia estes arquitectos lerem um outro manifesto - Maldita Arquitectura.
Nesse pode ler-se claramente a forma como muitos dos arquitectos instalados na praça foram os responsáveis pela proletarização da classe num mero espaço de 10 anos. Desde os tempos da Arquitecta sem palmarés Helena Roseta que acabou a ser bastonária da recém criada Ordem que esta situação estava à vista.
Já nessa altura o trabalho era escasso e as promessas feitas por Roseta e pela ordem de acabar com o famigerado Decreto Lei nunca se materializaram. Em vez disso inventou-se um sistema limitador da entrada de profissionais no mercado de trabalho.
Com a chegada de arquitectos formados em Universidades privadas o problema agravava-se ainda mais. Solução? Roseta propunha um exame a todos para poderem exercer a profissão. Depois um estágio.
O que temos hoje são arquitectos a ganhar à hora o preço que uma mulher a dias não ganha a lavar escadas. E como o trabalho é pouco é uma sorte ganhar 4 ou 5 Euros à hora em vez de estar no desemprego.
O Afluxo de estagiários aos ateliers lixou a vida doos que lá estavam e custavam algum dinheiro mais. Um estagiário podia ser de borla. Era viável ter um atelier a trabalhar com uma esmagadora maioria de estagiários esmagando os custos de forma sensível.
E quem fez isto aos Arquitectos foram os outros arquitectos. Que agora já nem assim conseguem ter o ganha pão assegurado. A parque escolar foi providencial numa altura crtítica. Mas agora acabou-se.
Mas o que é mais vergonhoso é que se defenda um projecto que não consegue conter os custos de uma forma totalmente absurda. O preço por escola nova ou por intervenção é de tal forma alto que num país civilizado colocaria imensas questões acerca da honestidade.
Já vieram as duas ministras de má memória a dizer que os requisitos mudaram a meio com o aumento da escolaridade obrigatória etc etc. Mas então porque é que em face das novas circuntâncias não se recalculou o orçamento? Porque se deixou ficar o planeamento anterior sabendo que essa alteração do condições o tornaria totalmente inadequado?
Talvez porque esta argumentação seja uma treta. Custa-me muito a crer que uma escola que se planeia para acolher alunos até ao 12º ano sendo que até ao 9º era ensino obrigatório mude radicalmente o programa se todos eles tiverem de ficar até ao 12º.
Em condições normais quantos sairiam logo a seguir ao 9º ano completo? Esse delta justifica derrapagens da ordem dos 400% tal como afirmado por Nuno Crato e corroborado pelo TC?
Obviamente que não. E obviamente que foram pagos trabalhos que nunca foram feitos. Se isso não tivesse acontecido, uma inspecção à obra por um arquitecto minimamente competente teria evitado escolas novas fechadas por inundações no 1º ano de funcionamento como aconteceu.
A Parque Escolar foi mais um espécie de privatização de um sector do Estado que TEM de ser público. Pelos defensores da Escola Pública.
Deram-se milhões a construtoras amigas deixando esta cair umas migalhas para estes arquitectos que veem agora os seus magros proventos desaparecer. O mercado de construção está de rastos e não há esperança de que recupere nos próximos anos. E se recuperar vai construir o quê, aonde e para quem?
A juntar à falta de lisura para com os colegas mais novos vem juntar-se a mais pura falta de honestidade.
Contestam números apurados por auditores profissionais. Mas ninguém contesta que houve derrapagem. Mesmo que ela fosse de 66% por escola é suficientemente mau para se aceitar. Se o orçamento muda por alteração de programa essa alteração tem de estar orçamentada. Revê-se o orçamento.
É como se estivéssemos a usar o OGE de 2000 em 2012 e esperar que o dinheiro aparecesse.
Talvez seja hora de os arquitectos perceberem que não é por o país ter dois premiados que todos os outros são sérios, competentes e com prestígio. Se assim fosse tínhamos mais premiados e não temos.
O que eu vejo é que a arquitectura com a qual os alemães, franceses e nórdicos têm todos os cuidados seja para um prédio de habitação seja para um grande edifício institucional é tratada neste país por todos, arquitectos incluídos, como uma espécie de vaca leiteira que vai dando leite até morrer. E que se lixe quando a vaca morre desde que eles retirem a sua quota parte de leite. A quota parte que acham justa para si e para os seus ateliers. Não é certamente a quota parte justa para os estagiários a trabalhar quase de borla que realizam quase todo o trabalho.
Srs. Arquitectos: Sabem bem o que podem fazer com o manifesto. O mesmo que fizeram com a ética e com a decência e solidariedade entre profissionais.