Vá lá, decidam-se
O português ora defende o ladrão, ora defende o polícia. Não se percebe.
Duas notícias em dois jornais diferentes são um bom exemplo disto. Numa delas dizia-se que um processo por um roubo de 9 Euros e pouco provocava um gasto no sistema judicial de 700 Euros.
Passamos a gora a medir o cumprimento da lei pelo lucro ou prejuízo que dá julgar um ladrão.
Ou seja, poderíamos fechar os olhos a tudo o que fossem furtos ou roubos de menos de 700 Euros. Assim o estado não os gastava e ficávamos quites. Suponho que seria uma excelente forma de descongestionar os tribunais.
O único "pequenino" problema é que ninguém gosta que o roubem mesmo que a quantia em causa seja bem menor que o custo da justiça. Afinal o cidadão roubado já está a pagar todo o sistema judicial quer ele actue ou não. Ou querem dizer-me que o gasto no processo não é o mesmo se o magistrado do MP, Juíz e funcionários estiverem sem sem fazer nada ou estiverem a trabalhar? E como é que eles podem estar sem fazer nada numa situação de completo assoberbamento dos tribunais?
Ou seja, os 700 Euros são o tempo convertido em salário de todos os agentes. Correcto? Eles ganham à tarefa? O que é que isto é senão estatística falaciosa?
Quando o Sindicato dos Juízes envia para o MP os dados relativos aos gastos, sem qualquer cobertura lega e como tal ilegais, dos gabinetes ministeriais de José Sócrates ouvem-se também vozes discordantes. "Porque é que ainda andam a perseguir o homem?". Aqui o roubo parece ter ultrapassado bem o limite dos 700 Euros. Então se não vamos atrás nem dos pequeninos nem dos grandes, vamos atrás de quem? Dos criminosos assim assim?
No fundo estamos a dizer que os dois extremos da escala do crime são para deixar intocados. Uns porque custam muito dinheiro e os outros... bem, os outros porque não.
E são estas mesmas pessoas que depois pedem a pena de morte por enforcamento com arame farpado dos políticos corruptos, dos banqueiros gananciosos e demais criaturas indignas?
Mas afinal em que é que ficamos? Para que precisamos de justiça de lei e de polícia?