O sectarismo
E é um pouco mais que o sectarismo dos estúpidos. É o sectarismo de todos os sectores da nossa vida política.
Mas o que me leva a escrever isto é o sectarismo dos estúpidos. E vem a propósito da demissão dos responsáveis pela contratação de swaps tóxicos nas empresas públicas.
O montante da desgraça ascende ou pode ascender aos 3.000 milhões de euros. Estas pessoas assinaram contratos que iam muito para lá da cobertura de risco de subida de juros. Usaram estes mecanismos com enorme ligeireza para obter mais valias.
E espetaram-se estrondosamente. Fazem contratos de casino e esperam ganhar à banca.
Já dois secretários de Estado tinham saído do Governo por terem estado envolvidos neste negócio chorudo para a banca.
Agora chegou a vez daqueles que ainda estavam à frente de algumas das empresas e é porventura a primeira vez que alguém sofre consequências de acções negligentes ou irresponsáveis.
Isto é a todos os títulos uma coisa correcta. É uma decisão acertada a tomar tal como foi em seu tempo não ter candidatos a eleições que estivessem sob investigação criminal (Marques Mendes e o caso Isaltino).
Mas se dos partidos se ouve "silêncio" pela justiça da decisão (a não ser do Bloco que ainda queria mais), do cidadão comum não se espera a mesma apreciação.
E porquê? porque o cidadão comum está mais apostado em especular e condenar do que em saber a verdade dos factos.
Nos comentários a estas notícias o resultado é surpreendente. Criticam o Governo por lhes atribuir compensações pela demissão (!!). Coisa que não aconteceu e é muito pouco provável que venha a acontecer.
Mas o "cidadão comum" não se rala com esses pormenores. Quando impregnado de uma fúria homicida contra alguém, a verdade não interfere nas suas apreciações. Quando se está contra tudo o que de bom que a outra parte possa fazer, não o é.
E como perante os factos não há muito de mau a dizer, a não ser aplaudir, inventam-se factos futuros não confirmados e com toda a probabilidade falsos. Um passo que a oposição ainda não se atreveu a dar.
Critica-se portanto aquilo que o Governo não fez e provavelmente nunca fará para diminuir, e até estar contra, o gesto inédito no nosso Estado de afastar gente responsável por perdas deste calibre.
O passo seguinte seria uma investigação para apurar a negligência ou dolo na assinatura destes contratos. Mas isso cabe agora à justiça. Estas pessoas deviam sentar-se no banco dos réus fosse por crime ou por danos patrimoniais. Até ao dia em que um destes tipos perca a sua casinha e o seu carrinho e seja condenado a um estado de miséria não haverá lições para tirar de casos como este.
Até ver, o gesto é digno de aplauso. Só não o quer ver quem consegue ser mais sectário do que as forças políticas que apoia.
Agora imaginem o que seria o poder "popular" com gente deste calibre, com intelectos de galinha a acusar e julgar os outros.