Conversa esclerosada para estúpidos

De cada vez que tomo a decisão de ouvir rádio ou de ver televisão dá-me vontade de estrangular alguém.
Hoje de manhã na TSF houve duas coisas que me deixaram profundamente irritado. E por duas razões ligeiramente diferentes.

A primeira foi uma peça (chamemos-lhe crónica) dum jornalista palavroso por volta das 8:45. Ao tecer considerações sobre a greve dos professores, usou um tipo de linguagem muito pouco consistente com o estatuto. Não consigo perceber quando é que os jornalistas acharam que deviam ser a estrela da estação, mas isto já está a passar completamente das marcas.

Quando o jornalista fala de "campanhas insidiosas para culpar os professores" ou qualifica os apelos de Passos como enganadores ou chama "estúpido" ao ministro da Educação, mesmo que seja numa crónica, passaram-se todos os limites de equidistância e isenção. A TSF é agora a voz oficial de qualquer coisa. E essa qualquer coisa sabemos bem qual é.

A segunda situação foi mais uma vez na TSF e foi sobre o pagamento do subsídio de férias que aparentemente não vai ser pago em Junho.

As razões podem ser muito formais, mas nestas coisas a formalidade é importante.
O diploma que responde ao acórdão do TC foi aprovado pela maioria parlamentar na passada sexta-feira e deverá, na expectativa do Governo, entrar em vigor antes de dia 20 de Junho. A solução encontrada passa por fazer o pagamento do subsídio de férias e prestações equivalentes em duas fases.
Se bem se lembram, o acórdão do TC levou a que tivesse de ser feita uma alteração legal para acomodar as diferenças. Acontece que essa alteração só foi aprovada na sexta feira passada. E para que seja processado o subsídio de férias terá de ser ao abrigo desse diploma. Porque lembremo-nos que o  orçamento original foi declarado inconstitucional nalguns dos seus pontos e o rectificativo foi aprovado na semana passada.

Assim, a gritaria de falta de respeito pelo Tribunal Constitucional, a invocação de ilegalidade e outras palhaçadas avulsas, é afinal o respeito pela legalidade.

Esta palhaçada vai ao ponto de o jornal que explica este pormenor colocar com tútulo do artigo :
Governo dá instruções aos serviços para que mantenham corte no subsídio de férias

Por causa disto Arménio Carlos também se pronunciou. E como é hábito fala para estúpidos como ele. Dizia o imbecil que "o estado tem dinheiro. O fundo de recapitalização da banca não foi todo usado..."
Perante declarações deste tipo não há muito a dizer. Já mudou o discurso um pouco porque há uns tempos atrás este idiota dizia "e o dinheiro do BPN?". Ora como sabemos o dinheiro do BPN é dinheiro que NÃO TEMOS. Agora já mudou para o dinheiro que supostamente temos.

Arménio sabe perfeitamente que não pode usar dinheiro do fundo ou da UE como se de um saco se tratasse de onde se pode pagar o que quer que seja. Nem sequer pode fazer isso com rúbricas diferentes do orçamento.
Esta história de ir ao fundo da banca buscar umas massas para ir buscar salários revela uma de duas coisas: Ou Arménio é de tal forma básico que não faz ideia de como um país funciona ou sabe-o (ou pelo menos suspeita) e fala de forma simplória para mais uma vez acicatar os ânimos. Ou seja, há dinheiro mas o governo mau não quer pagar.

Aborrece-me esta ideia peregrina de que a esquerda tem a legitimidade de se colocar no poder quando há um governo de outra cor no poder, eleito legitimamente.
Mas o que mais me aborrece é que usem as estratégias mais velhas da história para minar o funcionamento de um governo. Como dizia o 1º Ministro:
«Jogando com os descontentamentos naturais, sem contudo se apresentar qualquer programa coerente alternativo, intencionalmente procurou fomentar-se um clima deletério; de descrença generalizada, de pessimismo total, assacando todas as culpas ao Governo - a este Governo - esquecendo o passado ainda tão próximo, denegrindo por sistema, entravando ou mesmo sabotando iniciativas em curso, silenciando ou minimizando os aspetos positivos de uma atuação que todos sabem ser feita em condições singularmente difíceis, que se pretende? Derrubar apenas o Governo? Mas como, se parece difícil fazê-lo no Parlamento, que é o único sítio, em democracia, onde se devem derrubar legitimamente os governos? Na rua? Para dar lugar a que confrontações e a que novo surto de anarco-populismo? Desagregando-o por dentro, desencorajando as pessoas e tentando destruir as suas imagens políticas? Para abrir caminho a que tipo de aventuras?»
Notem que esse primeiro Ministro era Mário Soares em 31 de maio de 1984, citado por Rui Ramos no Expresso.