Chuto para a frente à maneira Nacional

O português sofre horrores ao longo da sua existência pela sua própria culpa.
Não só não consegue assumir culpas que devia como acha sempre que há uma solução para as coisas.

É resultado da experiência de anos de "deixa andar que tudo se vai resolver" com um misto de alienação total.

O argumento que agora tem sido muito usado em resposta ao Orçamento de 2012 é que o Governo devia negociar com a Troika o prolongamento do prazo para que não fosse tudo tão brusco em termos de sacrifício.

Adiar. Este é o mesmo povo e os mesmo políticos que querem CORTES JÁ!!!

Se fizessem um pequeno exame de consciência veriam que o adiar os problemas foi precisamente o que nos trouxe aqui.
No sentido de manter as coisas sempre como estão adia-se. Ou prolonga-se o prazo de um empréstimo até ao limite do inconcebível porque não nos podemos privar de nada.

Este pedido de renegociação vem precisamente do partido que quando era governo aceitou o plano da troika. Não nos esqueçamos quem era governo e quem negociou em nome de Portugal as condições que nos foram impostas.
Podia ter percebido (eles melhor do que ninguém) que no estado em que as coisas se encontravam seria difícil cumprir o plano em 3 anos. Mas não o fez. Queria o dinheirinho para pagar os salários e não ter garantida antecipadamente um derrota eleitoral. Aceitou tudo, disse que sim a tudo como um miserável que precisa do dinheiro para não morrer à fome.

Agora acha que cabe aos outros renegociar um prazo maior. Sem ter nada em troca para levar para mesa de negociações. Exactamente o que fez o governo Sócrates que foi negociar com uma mão cheia de nada.

A desonestidade desta gente é total. Deixaram o país falido e agora cantam de galo como se o que estivéssemos a viver não fosse um reflexo directo da bandalheira que foram os governos do PS nestes últimos anos.

A outra coisa que me começa a causar alguma comichão é o constante "pedido" de esclarecimento acerca do "desvio". Desde Helena Roseta a A. J. Seguro, todos parecem ter dificuldade em perceber os números da derrapagem que já foram amplamente explicados. Querem aparentemente que vá alguém a casa explicar em Excel para onde foram os 3.4 mil milhões de desvio nas contas de 2011.
Se não percebem o conceito de 70% do orçamento gastos em 6 meses, então talvez as suas capacidades intelectuais estejam aquém daquilo que seria desejável para quem rege os destinos deste país.
Não são burros mas querem fazer passar-se por burros. O que é ainda mais grave. É que fazerem passar-se por burros para por em causa as contas que já foram publicitadas só tem uma classificação - desonestidade intelectual.

É absolutamente irrelevante dizer que o buraco existe por causa da Madeira ou por causa da miserável execução orçamental do 1º semestre. Vem das duas coisas. E depois? Isso faz dele um buraco menor? Isso faz com que o deficit no fim do ano não tenha de ser 5.9%?
Este exercício é apenas mais um caso em que em vez de se tentar resolver o problema se tenta assacar parte do problema a uns e a outros.

Aliás, desde que um destes dias falou o comissário da EU que o PS começou logo a dizer que o buraco não era culpa deles. A outra parte, a da Madeira, já era culpa do PSD. Assim, duma parte do buraco quem tem culpa são outros incertos, e da outra parte é o PSD.

Mas há um buraco, caramba. Que tem de ser colmatado.
Tenho a impressão de que estes cretinos que grassam na política acham que se o país for ao fundo eles se conseguem safar de alguma forma. Muitos conseguirão certamente porque puseram dinheiro ao fresco e até se podem dar ao luxo de viver no exílio dourado. Mas a maior parte, tem mesmo de ficar cá a gramar o confisco.
Obviamente que uma coisa destas não se faz por mera maldade. Para alguém propor medidas destas é preciso haver algo de muito errado. E nós sabemos o que é... O país está falido. Foi levado à falência por políticas dementes e incompetentes. Não fui eu que o levei á falência e provavelmente não foi o leitor.
Mas infelizmente parece que a única possibilidade é que sejamos nós a pagar e o Estado tem o poder de o fazer e vai fazê-lo.
Talvez houvesse outra forma. Talvez a negociação do apoio pudesse ter sido diferente. Ou talvez não. Afinal estávamos numa posição de indigência perante a Troika. Tal como estamos hoje, pelo que me parece que a negociação de extensão de prazos sem ter nada para mostrar me parece condenada ao fracasso.

Uma palavra também para o nosso Presidente da República que agora se veste de anjo e pede ao país que desenvolva o sector do mar e agrícola.
Dado que me parece que Cavaco possa ter Alzheimer acredito que o faça sem se aperceber, mas a verdade é que a destruição sistemática do sector primário e de toda a cadeia de secundário que dele dependia foi feita e começada por ele.
A sua visão dum país moderno foi muito conveniente para quem aceitou de igual forma o dinheiro que vinha de fora sacrificando o futuro de um país. Quis a vida que ele ainda assistisse à sua obra no lugar mais importante do país.
Apesar de saber que um PR tem de fazer discursos de circunstância  é um bocado chocante vê-lo pronunciar-se exactamente sobre aquilo em que ele foi o percursor.

Mas cá vamos, como um doente que em vez da cirurgia pede que lhe tratem das maleitas com aspirina porque detesta a perspectiva de ter de passar pelo pós operatório. Muito à maneira portuguesa esta gente acha que se tiver mais tempo... tudo se há-de compor.

Quanto à esquerda pouco há a dizer. Estão em negação. Querem manter tudo como está e já invocam mesmo as conquistas de Abril.
Nada melhor que uma crise para fazer sair os cadáveres da tumba. Estes partidos vivem do descontentamento e passaram mal quando o dinheiro fluía a rodos e havia uma sensação de que éramos todos ricos. Reduziram-se a uma expressão eleitoral quase nula.
Hoje ressurgem das cinzas e apesar de realisticamente não terem nada para oferecer persistem a bater na mesma tecla.
Não há muito que se possa fazer agora que não temos dinheiro a não ser criticar quem está no poder e protestar. É que já nem dá para propor nada em alternativa. Ainda que não o queiram admitir muitos deles sabem que o país está falido.
A tão almejada política intervencionista do Estado em todos os domínios económicos não é possível sem dinheiro.
Claro que se dissermos a alguém do Bloco ou do PCP que não há dinheiro dizem logo na volta que há sim senhor. Basta TAXAR as transacções de bolsa e TAXAR os ricos e nivelar tudo o que seja salário mais alto público ou privado num valor que lhes pareça bem. Em suma uma sociedade socialista em toda a regra.
Pomos toda a gente a receber o mesmo ou na melhor das hipóteses faz-se um plafonamento. Problema resolvido.

Imbuídos deste espírito vão para a rua gritar e fazer greve. Que por acaso é mesmo o que o país precisa neste momento. Um dia inteiro sem se produzir NADA.
Felizmente a expressão que estes partidos têm na sociedade é mínima. Haverá quem faça greve obviamente mas como de costume haverá quem não a faz. Numa altura em que os rendimentos estão completamente deprimidos um dia sem receber é demais para muita gente.

A maior parte das pessoas ainda não percebeu que vamos EMPOBRECER. E claro está estas forças políticas vivem precisamente neste meio. Quanto pior estamos, melhor para eles em termos políticos.

Mas o que é triste é que em vez de nos unirmos para tirar o país do buraco estejamos a debater se afinal há buraco. Portugal tornou-se numa gigantesca assembleia de condomínio em que se discute o cócó de cão à porta do prédio em vez de tratar do telhado ou dos elevadores avariados.