A triste história

de Carlos Castro e Renato Seabra...

Decorrida uma semana da tempestade mediática que se seguiu à morte violenta de Carlos Castro, depois de toda a poeira assentar chegou o momento de eu escrever alguma coisa acerca do tema.

Fazer comentários a "quente" é uma péssima ideia. Traz à tona tudo de mau e preconceituoso que se possa ser a julgar pelos comentários abundantes nos vários jornais on line.
Acho cada vez mais que os jornais têm uma sarjeta on line onde todos descarregam a porcaria que trazem dentro de si. Porcaria essa que nunca se atreveriam a mostrar publicamente ligada ao seu nome. Só que a coberto do anonimato tudo é permitido.

Choca-me especialmente a intolerância com que alguns vêm a relação desigual em termos de poder e de idade entre os dois intervenientes do caso, mas achem de alguma forma natural quando isso se passa com pares heterossexuais. Salvaguardando as devidas distâncias não passa de mais um caso de um adulto "maduro" com tendências lúbricas negando (ou não) o facto de que a outra parte possa estar com ele apenas para obter aquilo que doutra forma não conseguiria. Neste caso projecção mediática.

Quer num cenário quer noutro o que se dá em troca é sexo. Sabe-se lá com que repugnância ele é dado, mas muitas das vezes é essa a moeda de troca. Neste caso não há certezas. Tenho para mim que o crime derivou precisamente da repugnância que o elemento mais jovem sentiu ou por ter dado sexo em troca ou pela perspectiva de ter de o dar. Os detalhes do crime apontam para um motivação sexual bem evidente que só pode estar relacionada com isso.

Não me espanta que RS alimentasse essa fantasia na cabeça de alguém que era manifestamente alienado no que diz respeito à percepção dos sentimentos dos outros em relação à sua pessoa. Em entrevistas de Carlos Castro foi bem patente a percepção totalmente distorcida de que todos os homens se apaixonavam por ele. Até na tropa o pobre homem partia corações por todo o lado.
Faz lembrar aqueles tolos que passam a vida a ver sinais (inexistentes) de que as miúdas estão todas desesperadas por eles (o que tu queres sei eu.... lembram-se?)
A simples ideia de que um jovem bem parecido com atributos suficientes para ser modelo se aproximasse da triste figura que era Carlos Castro por causa duma paixão é simplesmente caricata. Se ele fosse homossexual seria bem mais fácil vê-lo associado a alguém mais jovem e mais bem parecido. O problema é que se calhar uma pessoa com esse perfil não tem o peso que CC tinha na "sociedade".

Seja como for o affaire acabou muito mal. Com um crime hediondo com requintes de psicopatia.
Mas os efeitos secundários não ficaram aquém da explosão inicial.
Desde uma clivagem entre comentaristas anti homossexuais e homossexuais ao aproveitamento quase nojento de gente que o detestava, houve de tudo.
E terminou com o deitar das cinzas de Carlos Castro numa grelha de ventilação do Metro em Times Square.
É difícil pensar num fim mais indigno. Deitar as cinzas de quem adorava Nova Yorque numa grelha que dá para o "submundo" apesar das proibições.
Muito pouca dignidade em tudo isto sem dúvida nenhuma.
Comparável à forma como CC fez carreira a "comentar" a vida dos outros. Chamar a isto jornalismo é por a chancela de "qualidade" numa das actividades mais desprezíveis que se pode exercer num jornal ou numa publicação qualquer.
O jornalismo que agora o classifica de "jornalista" desceu ao nível dele. À sarjeta. Em vez que má língua acerca de quem foi a uma festa mal vestido criaram um peep show à volta da morte de um escritor de má língua. Parabéns senhores jornalistas. Se faltava alguma coisa para sabermos até que ponto o jornalismo desceu neste país, esta é a prova final.

Quanto a Renato Seabra, como homicida que tudo aponta que seja, que cumpra a pena de prisão que lhe compete. Seja ela numa penitenciária ou num hospital psiquiátrico.
Quanto às gentes de Cantanhede que dão as mãos por um homicida, gostaria de saber o que pensariam se:
A vitima não fosse um homossexual
Se a vitima fosse uma pessoa de Cantanhede

Esta dualidade na solidariedade é triste. Um filho da terra que mata e mutila uma pessoa não é digno de solidariedade. É digno de defesa em julgamento, de todos os direitos que se dão a um arguido, mas nada mais.
Gentes de Cantanhede,
Se fazeis uma linha de mãos dadas por um homicida confesso, como podeis bradar contra os corruptos, os ladrões, os violadores e contra todos os outros criminosos?

Sr. Ministro da Justiça
Faça as novas prisões em Cantanhede. Este é um povo claramente apostado na reabilitação dos piores criminosos. Faça lá a prisão mais segura do país e ponha lá todos os homicidas e psicopatas que estão encarcerados. Acredito do fundo do coração que Cantanhede vai apreciar. Pelo menos há 400 tolos que vão adorar.