Manifestações épicas

Não há dúvida que devemos ser um país sem grande concorrência no que diz respeito a obras grandiosas.

Temos uma praça em Lisboa capaz de albergar toda a população do país.

Mas o mais estranho é que perguntando a diferentes pessoas em alturas diferentes no tempo, este número varia tremendamente. Mas a praça tem sempre a mesma área.

Quando a realidade é decepcionante chamam-se os "especialistas" da comunicação e faz-se uma vitória retumbante.

Segundo o DN, 1.5 milhões manifestaram-se contra a Troyka em todo o país. Afirmação suficientemente vaga para ser absolutamente incomprovável. Mais ainda, em vez de cruzar com os números da PSP, o DN limita-se a dar eco aos números da organização. Sem dúvida um critério objectivo e completamente normal para uma imprensa séria e equidistante.

A única pista de que as coisas podem estar muito longe desta "realidade" é quando se começam a comparar imagens...


Talvez pelas obras que ocorreram no Terreiro do Paço a sua capacidade tenha aumentado tanto que agora é simples colocar na praça 2 ou 3 milhões de pessoas, enquanto que há 2 anos 80 mil enchiam o espaço.

Ou melhor ainda porque não estender a manifestação à Turquia? A manif foi tão grande que transbordou para Ankara (ou Istambul).


De acordo com um pequeno artigo no Público até se foi ao ponto de colocar uma imagem a circular que foi feita na Turquia em Janeiro de 2012.

Porque é que esta questão do volume é tão importante para estes organizadores?

Porque é a única razão que podem invocar para reclamar uma demissão do governo. Seria supostamente a legitimidade das ruas a sobrepor-se à legitimidade constitucional, que a própria manifestação diz defender.
E não é com 150 mil que se muda um regime. E como não parece passar muito disso, inventa-se. Há aqueles que começam com a contabilidade imbecil de dizer que havia tantas pessoas ra rua de Ouro e tantas no Restauradores etc etc.

Podem dar-lhe as voltas que quiserem. Não houve 1.5 milhão de manifestantes. Em frente à AR meia dúzia de gatos pingados vigiados por meia dúzia de polícias a quem falta a coragem de agir a não ser que haja um bom grupo de agitadores sem nada a perder. O mesmo foguete chocho do costume.

O aproveitamento propagandístico deste tipo de acontecimentos não vem do indivíduo que acredita que os partidos são todos iguais e que é necessária uma alteração do sistema. Ele vem precisamente dos partidos mais à esquerda que capturam este tipo de manifestações querendo fazer acreditar que toda aquela gente defende uma causa sua. Eles infiltraram o movimento dos precários e todas as iniciativas não partidárias a que assistimos neste último ano. Há sempre um ranhoso do bloco ou do PCP a tentar capitalizar o descontentamento dos outros. Infelizmente não entendem que eles são tão odiados como os outros. Eles são, à semelhança dos deputados dos outros partidos, um grupo de medíocres que se viram colocados num dos cargos de mais alto prestígio de país apenas porque lamberam as botas certas.

Não esqueçamos que a representatividade destas forças políticas é marginal. E que curiosamente desce em cada acto eleitoral. No entanto querem fazer-nos acreditar que ha um milhão e meio de portugueses que estão com eles. Mais ou menos como Manuel Alegre se achava dono da consciência de um milhão de portugueses.

É um remake do período pós revolucionário de 1975 em que tudo era muito pra frentex e muito "anti fassista", mas quando se chegava às eleições o voto mostrava uma coisa diferente. O balanço de poder era sempre (e continua a ser) entre 3 forças.

A esquerda "pseudo revolucionária" é como o comic relief num momento de desespero. Sai à rua, diz umas coisas, quer destruir tudo e não tem soluções para nada. Desde os Arménios às Blandinas Vaz aos "artistas" como LM Cintra ou intelectuais como Rosas. Inconsequentes, instalados, patéticos, anacrónicos.

Por cada um dos que saiu à rua haverá muitos mais que não o fizeram. E não é porque não estejam a sentir o garrote. É simplesmente porque não querem ser capturados por políticos oportunistas de baixa craveira. Eu não quero que ninguém fale em meu nome. Eu falo por mim.

Não sou adepto da máxima "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". Não existe transitividade nesta relação. A esquerda quer fazer acreditar que sim, mas isso não é verdade.

No dia em que tivessem uma hipotética vitória, começaria o corte de gargantas entre eles. Sempre foi assim em toda a história do comunismo.

Valha-nos a consolação de que vão para casa todos contentes a pensar na sua extraordinária capacidade de mobilização, orgulhosos dos títulos dos jornais com números falsos, beberricando um capuccino muito burguês, já a pensar na próxima "luta".

Hoje nota-se que está tudo muito melhor. Não nota?