Eu quero ser pedreiro
Sempre tive queda para triângulos e sou mais ou menos ateu. Tem dias...
Mas o que eu quero mesmo é pertencer a uma organização que a coberto de uma suposta rectidão e superioridade moral me proporcione acesso a lugares que só os membros da organização podem ambicionar.
E porquê? Para já porque sabemos que a meritocracia não é uma coisa nossa. Ou se está bem apadrinhado e se consegue ou então o lugar será para um que esteja. Independentemente do mérito.
Como os mais altos lugares estão na mãos de "irmãos" a probabilidade de ter um "padrinho-irmão" é enorme.
É curioso como se olha para a maçonaria como um grupo de gente muito recta e honesta e se descarta de entre eles as maçãs podres como se não fizessem parte do grupo.
É óbvio que a maçonaria foi assaltada por arrivistas e por interesses pessoais desde há muito tempo. É óbvio que a maçonaria é hoje uma forma de subir a escada do poder muito mais depressa independentemente dos bons ideais ou não.
Podem sempre usar a desculpa de que os que estão mais acima conhecem os pretendentes aos lugares do relacionamento na organização. Mas isso apenas perpetua a preferência. E sinceramente não estou a ver alguém a conseguir justificar dentro da organização a escolha de um não maçon em deterimento de um maçon.
É esta a lealdade à causa de que se fala que pode inquinar a imparcialidade e a isenção. O mesmo é válido para negócios entre o Estado e as empresas. Muito mais facilmente será escolhida uma empresa onde esteja um maçon do que uma onde não esteja.
Se os que estão no poder fossem poucos isso era um problema que não se punha. O problema é que pela sua antiguidade e proximidade com o poder, os maçons são o poder. E têm a capacidade de afastar dele os que não o são.
Mesmo que tenha uma longa história e tenha estado por detrás de avanços sociais notáveis, hoje é muito mais um clube onde se exercem influências do que algo baseado nos princípios éticos e morais que lhe deram origem. Tal como os partidos políticos a maçonaria está obviamente cheia de oportunistas. Não é mais que uma estratégia de ambição pessoal e de convívio com poderosos. Com a vantagem óbvia de atravessar o arco partidário do poder. Ora vais para lá tu, ora vou para lá eu.
Quanto à obrigatoriedade de declaração de pertença à organização já me perece muito mais discutível. Está muito perto da obrigação de declarar a orientação sexual para justificar por exemplo a nomeação de pessoas com a mesma orientação (estou obviamente a falar do tão famoso lobby gay). Ou a obrigação de declaração da prática religiosa, como por exemplo a Opus Dei.
Não me parece que seja possível forçar alguém a declarar-se membro de uma sociedade envolta em secretismo. Pode sempre dizer-se que não se pertence e o secretismo da organização fará com que esse segredo fica guardado. A não ser que a organização seja contra as "mentiras" e no caso da maçonaria e olhando para maçons "ilustres" não me parece que isso seja um problema ético que se lhes ponha.
Se o poder não for repartido entre maçons, será entre membros da Opus Dei ou do Benfica ou lá o que for.
Não é por se ser maçon que se é um malandro. E também não é por isso que se é boa pessoa.
Será muito difícil, senão mesmo impossível expurgar uma organização com séculos do poder. Veja-se na história recente a ligação entre o poder e a maçonaria em todo o mundo Ocidental. Acham que é com uma "lei" a Portuguesa que nós vamos conseguir acabar com isso? Com uma lei votada no Parlamento onde a maçonaria tem um peso enorme?
Vá, vamos lá a tratar de coisas que realmente interessem e deixemos os rapazes do aventalinho e do aperto de mão meio pateta.
E já que andamos numa de expor carecas, quer-me parecer que o professor Maltez não se punha a escrever livros sobre a história da Maçonaria nem se atirava à ministra da Justiça como gato a bofe se não fosse ele próprio um maçon convicto.
Talvez fosse bom avançar logo com essa declaração de interesses ou talvez fosse bom que Mário Crespo lhe perguntasse em cheio nas fuças e sem grandes rodeios: "Professor, o sr. é maçon?"
Também não foi preciso. Bastou assistir aqueles minutos de conversa meio atabalhoada para perceber que ele estava ali mais para defender a causa e a grandeza dos ideais do para explicar o que a causa era e qual a seu papel nela.