Pudores

O caso Relvas não sai da agenda mediática.

Só para que fique claro, não é alguém da minha simpatia. Creio bem que Relvas é um dos tais que gosta de manobrar nos bastidores, de exercer as influências obscuras que tanto associamos à política.

Está demasiadas vezes envolvidos em pequenas coisas e isso não traz nada de bom a um Governo e a um partido que tem de pugnar por ser o mais sério possível.

Mas os casos mais recentes são empolados a um nível completamente fora da proporção que parecem ter.

Caso 1 - As secretas

O nosso mega espião linguarudo tinha contactos com gente na política. Não é nada que não se esperasse. Na verdade a função obriga a que se informe membros do estado relativamente a esses assuntos.
O que é estranho é que o espião linguarudo o faça quando já não está nos serviços de informação. Ao que parece deixou montada uma cadeia de informação para si e para outros.
Diligentemente reenviava informação a um conjunto de pessoas que em princípio não deviam ser destinatários de tal informação. Muito menos quando ele próprio já não era membro do serviço de informações do Estado.

Terá também enviado sugestões acerca da reestruturação do serviços indicando nomes da sua confiança. Estranho quando se sabe como saiu e porque saiu. Andar a sugerir quem deve estar e não deve estar na posição em que ele próprio estava é no mínimo ridículo. Não sei é será um crime de alguma espécie.

Afinal, a uma escala diferente, é como cada português que passa a vida a dar palpites sobre a composição da seleção Nacional mesmo não tendo sido interpelado para isso.
Parece ser uma mania nacional.

No entanto é importante saber que grau de atenção deu o ministro (que à data não o era) a essas sugestões. Interessa saber se deu alguma atenção aos SMS e emails que recebeu deste fulano eticamente despojado.

Será que Relvas aceitou a sugestões do ex espião para a reestruturação dos serviços? Até agora ainda ninguém disse que sim, pelo que presumo que não o terá feito.
Será que ele respondeu a esses SMS com alguma coisa mais do que uma simples resposta de cortesia? Também ainda ninguém disse que o fez. Será que ele respondeu sequer a alguma dessas mensagens? Não consta...

Assim, bastará a evidência de que nenhuma das coisas foi feita por parte de Relvas para que o assunto seja encerrado no que a ele diz respeito.
Será talvez melhor apurar quem dentro dos serviços continuava a passar informação para o exterior e tratar do caso do ex espião.
Se a informação for confidencial, então isso é um crime. Se não é confidencial é pelo menos uma quebra grave dos deveres dos profissionais dos serviços e  deverá ser tratada no âmbito disciplinar.

Caso 2 - As pressões sobre a jornalista do Público

Aqui Relvas não tem desculpa. Se o fez não o devia ter feito. É que Relvas é ministro e um ministro não pode comportar-se como um miúdo a ameaçar tornar pública na "Internet" (seja lá isso onde for) informação acerca da jornalista.

Mas porque é que isto chega a este ponto? Talvez porque o Público não se canse de rondar o assunto ridículo dos emails e dos SMS. Talvez porque o Público se tenha tornado desde a entrada em funções da nova direcção numa espécie de vanguarda anti governo, explorando à exaustão todos os casos e casinhos, tenham substancia ou não, que envolvam mesmo que superficialmente membros do governo.
São as questões patéticas sobre o ministro da Economia, sobre declarações do Primeiro Ministro e tantos outros casos que podemos ir lendo nas suas páginas.
Ao ponto de a informação já ser mais uma questão de opinião pessoal de quem escreve a notícia do que jornalismo isento e factual.
O Público está a tornar-se numa mega coluna de opinião. E no que a mim me diz respeito, o Público tornou-se numa enorme coluna de opiniões de "merda".

O facto de quase todas as questões importantes não passarem de notícias sem destaque no Público enquanto são exploradas a fundo noutros jornais, diz bem da mentalidade vigente no jornal.
Não há uma única investigação mais profunda sobre a óbvia roubalheira que teve lugar neste país nos últimos 6-7 anos. Quando os casos são falados, são-no de forma muito superficial e quase sem seguimento.
No entanto não passa um dia em que não se dê notícia de qualquer coisa relacionada com o "caso Relvas" e de pressões à sacro santa independência jornalística do Público

Acredito que Relvas tenha dito qualquer coisa mais forte a alguém do Público. Acredito mesmo que tenha ameaçado de blackout. Não seria inédito que alguém bem alto na cadeia do poder o tivesse feito.
Já me custa a acreditar que um fulano sabido como Relvas caísse na esparrela de ameaçar tornar pública informação sensível (ou não) sobre a jornalista. É um deslize que alguém que anda na política há anos não comete a menos que esteja de cabeça perdida.
E convenhamos que a informação que o Público veicula é meramente circunstancial.
Relvas recebeu email. Relvas recebeu SMS.
E o que é que resultou dessa recepção? O email tinha matéria confidencial? Foi respondido com um mero obrigado, ou nem isso sequer?
Foram adoptadas as sugestões do ex espião?

Nada disto parece ter acontecido. E sabemos que o facto de se receber email ou SMS não significa nada de especial, a não ser que o remetente sabe o telefone e o email.
O que nos dias que correm não é nada de estranhar. É como alguém mandar uma carta para minha casa e deduzir-se desse facto que eu estou de alguma forma "feito" com o remetente.

A qualidade de informação do Público e do Expresso tornaram estes dois jornais em lixo jornalístico. Mostram à abundância até que ponto os órgão de informação estão minados de uma corja socialista subserviente que não perde uma oportunidade de fazer favores ao poder passado.

Depois de ler o tom das perguntas da jornalista (publicadas no Publico) acho até de uma delicadeza extrema que alguém as responda.
O tom imperativo, quase inquisitorial das perguntas é só por si digno de vómito.
É em forma escrita um grau de imbecilidade parecido com as perguntas parvas que fazem aqueles jornalistas da SIC que de microfone em riste perguntam as coisa da forma mais imbecil possível
"Sr. Primeiro Ministro, vai demitir o Ministro Relvas?" "Sr. Primeiro Ministro não acha que anda a desrespeitar os desempregados?" e outras pérolas de igual calibre.

As perguntas podem ser feitas de outra forma. E tanto que o podem ser que com Sócrates todos se borravam de medo ao fazê-las. Era mais do estilo "Sr. Primeiro Ministro, o que tem a dizer aqueles que o acusam de ter comprado o diploma?"

Hoje as perguntas ao Governo levam a presunção de culpa. Os ministros têm quase de provar que não é assim. As respostas acabam por vir todas na negativa.
Com Sócrates as perguntas eram apenas o prólogo para mais uma resposta de propaganda. A inocência era assumida na forma como se fazia a pergunta.
Chegaram ao ponto de dar tempo de antena ao vigarista para ir mostrar fotocópias de um curso que ele nunca fez.
Quantos políticos de outra cor teriam tempo de antena de 1 hora para responder a alegações sobre o seu carácter pessoal? Nenhuns.

Até onde se explorou a renegociação de algumas PPP's feita por Paulo Campos que tiveram como resultado o aumento de encargos para o Estado na ordem dos milhares de milhões? Onde estão as notícias de Paulo Campos a oferecer lugares aquela mocinha do do Bloco que diz "Lesboa"?
Onde estão as notícias no seguimento da aldrabice de Paulo Campos com a manipulação de um estudo da KPMG que a KPMG nunca fez?
Tudo isso se ficou apenas pela notícia de abertura. Foi a abertura e o fecho ao mesmo tempo.

Todos esses casos foram apenas levados mais fundo por outros jornais. Nem o Expresso nem o Público pegam nisso. Porque não tem interesse jornalístico? Ou porque não tem interesse "para eles"?

A classe jornalística é duma forma muito generalizada composta por gente pomposa e muito convencida de que tem alguma relevância no grande esquema das coisas.
Acreditam que têm poder de pressão suficiente para que as pessoas (mediáticas) se sintam ameaçadas com o que eles podem dizer ou fazer.
Utilizam o medo de um artigo desfavorável para se manter nas boas graças do poder.
Raramente cedem à tentação de fazer citações cortadas ou retiradas do contexto.
O tipo de ameaça latente em desagradar à imprensa é em tudo similar aquilo que acusam relvas de fazer.
E lá isso sabem eles fazer. Basta saber manipular habilmente um título ou colocar os excertos certos num artigo.

Ser um jornalista sério é algo que implica um grau considerável de contenção. Independentemente das crenças políticas ou das simpatias pessoais, comportar-se como um profissional isento não é para todos.

Foram rareando e são cada vez mais raros. Os que chegam à profissão deparam com gente como esta que se esqueceu do que é fazer jornalismo e acha que é melhor dar a sua opinião.
E obviamente que estes "maçaricos" emulam os comportamentos dos mais antigos. É vê-los a fazer figuras de estúpidos com o microfone na mão e ler alguns dos artigos que aparecem nos jornais.

Os "jornalistas" jovens que eu conheço, são incultos, cheios de soberba e completamente incapazes de ver os dois lados de uma questão. São imediatistas e totalmente engajados politicamente a ponto de isso interferir com o seu trabalho.

Acho a  frase "fazer opinião" abjecta. Em vez de informar e deixar as pessoas formar a sua opinião eles anseiam por "criar uma opinião". Num determinado sentido.
O que é isto senão o espezinhar da ética jornalística? O que é isto se não o reconhecimento de que os jornais (outrora) de referência  se tornaram na sarjeta de sabujos beijadores de cus?

Qualquer gritaria de um jornal, seja ele conotado com a esquerda ou com a direita, é fogo de artifício. Inútil, hipócrita e acima de tudo desenhado para vender papel ou para agradar aos da sua simpatia política.

Não acredito minimamente nas boas intenções desta gente, nem no seu brio profissional. Jornalistas com letra grande deve haver muito poucos. E não são certamente os que andam pelo Público e pelo Expresso.

Isso é coisa do passado.