Ricardo Costa e a isenção
Foi o que hoje aconteceu com Ricardo Costa pela mão de um colega na SIC.
O homem está de cabeça perdida. Qualquer um estaria se soubesse que esmiuçaram toda a sua vida e a colocaram em 16 páginas.
Só que Ricardo Costa nem sabe bem contra quem é que está, nem quem é o causador desta "cabeça perdida".
A sua argumentação é fenomenal. Segundo ele, querer reduzir isto a uma questão de guerra empresarial é deitar areia para os olhos.
Toda esta gente que tanto bate no peito e defende a presunção de inocência é a primeira gritar e a presumir a culpa quando é o alvo das questões.
E a ligação não é porque existam indícios de culpa. É porque não existem indícios de inocência.
Até prova em contrário Ricardo Costa acha que a culpa é do 1º ministro. Porquê?
Porque apesar de o dossier estar na mão de um tipo que trabalha na Ongoing (ex SIED) e ter sido encomendada por este a um ex PJ, existiu uma relação entre governos passados e estes indivíduos de que este é agora culpado.
Não sabemos a altura em que foram feitos os relatórios de Balsemão e Costa. Se foi feito durante o mandato deste governo os autores já não trabalhavam para orgãos do Estado. Se ainda estavam, então era o governo PS que estava no poder. Seja como for o culpado é sempre este 1º ministro.
Ricardo Costa quer tão desesperadamente colar este episódio ao PSD que atropela o mais básico do comportamento dum jornalista. A isenção. E fá-lo sem qualquer pudor.
Aquilo que era uma não declarada antipatia por Passos Coelho é desde hoje uma verdade confirmada.
O que é infantil é presumir que esta porcaria que vem agora à tona de água é única. Não deve haver ninguém de alguma relevância neste país que não tenha pelo menos uma ficha nestes serviços.
Isso pode ser a mando de um governo ou pode até ser por iniciativa de um chefe de serviço. Aliás, percebemos bem até que ponto isso pode ser vantajoso na sua passagem para o sector privado. Ele não foi para a Ongoing pela sua elevada experiência no mundo dos media. Foi pelo que sabe ou pelo que pode conseguir saber.
O que me surpreende é que estes espantados jornalistas e políticos quando foram confrontados com as tropelias que Silva Carvalho andava a fazer (que levou à sua demissão) durante o governo de Sócrates não tenham amplificado legítimas preocupações para lá da simples indignação e da exigência de um período de "quarentena" até funcionários deste tipo poderem ir para o privado.
Foi com este governo que se mandou investigar as acções deste indivíduo. Que se bem se lembram envolveram a listagem de contactos telefónicos de um jornalista obtidas pela companheira de um funcionário desses serviços que trabalhava na Optimus.
Isso que está confirmado e consta da acusação do MP é talvez a única coisa de que Relvas não é acusado. A única coisa substancial até agora.
Relvas e Passos são acusados de tudo. As acusações de Relvas são dignas de figurar num hall of fame
- Acusado de ter contactos com o "espião" por ter recebido email e SMS
- Acusado de ser ter encontrado com ele. Uma vez num evento social (festa de anos) e outra no âmbito de uma reunião antes de 5 de Maio quando a empresa a que pertencia estava a tratar de negócios com a Ongoing
- Acusado de ter pressionado uma jornalista. A notícia saiu nonetheless
- Esta não foi bem uma acusação mas sim uma tentativa de colagem de Relvas ao relatório sobre Balsemão. Tentativa essa reiterada enfaticamente hoje por R. Costa em relação ao seu relatório
- Acusado de ter mudado de versão nas 2 comissões
As perguntas de hoje na comissão roçavam o delírio e o insulto. Um deputado do PCP chegou a perguntar qual foi o teor das conversas entre os dois na festa de anos e na reunião de negócios. Antes de o ministro ser ministro...
Chegamos ao modo mais Estalinista de ver as coisas. As perguntas/acusações já vão ao ponto de dizer "querem fazer-nos acreditar que só conversaram de questões banais de actualidade?".
Até o podem ter feito ou não. E se só falaram de banalidades? Porque não? Uma das vezes foi numa festa de anos, caramba.
Quanto ao recebimento de um email, é notável perceber até que ponto estes deputados são info excluídos. Um mailing não tem por norma os membros da lista de destinatários. É uma mailing list...
E mesmo num mail interpessoal existe o BCC para esconder de cada destinatário todos os outros.
Tudo isto chega ao ponto de ser tão ridículo que a acusação muda e altera-se a cada passo. Incapazes de acusar de tráfico de influências, porque toda a acção do ministro parece contrariar a tese de estar a fazer favores a Silva Carvalho, ficam-se pela insinuação e por dizer que há coisas "nebulosas" que há promiscuidade com o sector privado e coisas semelhantes. Na verdade não querem deixar passar a oportunidade de criar um escândalo mesmo que não tenham qualquer coisa de substancial para o fazer.
Claro que noutros escândalos bem mais gravosos para o Estado metem a cabeça na areia e assobiam para o lado. Tivemos 6 anos de promiscuidade entre o poder e o sector privado e isso parece passar-lhes ao lado. Até a fortíssima suspeita de que Sócrates recebeu luvas não passou de uma noticia no dia do julgamento que está a decorrer.
Hoje na SIC notícias o jornalista no frente a frente fazia a seguinte pergunta: "Se for comprovado que o SMS que Relvas recebeu indicia algo de ilegal, não se justificaria a sua demissão?".
Claro que sim.
Se alguém inventar a fusão fria não ficam os países produtores de petróleo em maus lençois?
Absolutamente.
O problema dos cenários hipotéticos é serem hipotéticos. E o nosso jornalismo adora comentar sobre cenários hipotéticos. O que do ponto de vista jornalístico é uma aberração.
Mas a verdade é que a maior parte dos nossos jornalistas são uma aberração. Não sei o que lhes ensinam na escolinha de comunicação social, mas pelo resultado devem também os professores ser umas belas aberrações. Ah, é verdade, escolinha de comunicação social na qual Ricardo Costa não terminou a licenciatura (fonte Wikipedia)
Estou mortinho para ver o Expresso da Meia Noite. Quero ver o grau de falta de discernimento a que Costa e o seu sidekick Nicolau vão descer.