Memória curta

É aquilo que melhor descreve o que sinto quando assisto a uma tentativa reiterada de branqueamento do passado.

Os media, os comentadores, os políticos, todos o fazem.

Não temos um orçamento base 0 mas temos um ano 0. E esse ano parece ser 2011, mais exactamente a seguir à eleições que deram como resultado a saída do PS do poder.

Fala-se hoje como se o passado não existisse. Como se aquilo que passamos hoje não fosse um reflexo directo do que fizemos durante os governos de Sócrates, Durão, Santana e Guterres.

As raízes do mal podem ser traçadas até 15 anos atrás. Ou até mais.

Mas a verdade é que chegamos a eleições com um país completamente endividado, com uma população a fazer um nível de vida impossível e com uma total falta de visão estratégica do país.
Isto paga-se. A questão é como se paga e não há assim tantas formas de isso acontecer.


Recessão, desemprego, insolvência familiar e empresarial, desagregação social, caça às bruxas, aproveitamento político demagógico. A receita completa.

Mas o papel do PS e de alguns dos seus notáveis em todo este processo é estarrecedor.
Quando ouvimos um Mário Soares dizer coisas como diz, ou quando ouvimos um Seguro afirmar que está disposto a ir para a rua, quase parece que toda a responsabilidade do que se passa é exclusivamente deste governo.
Mário Soares mostra mais uma vez a sua falta de espinha dorsal. O PS não se pode desobrigar de um acordo que assinou e sobretudo que causou. O PS é numa enorme percentagem o responsável único pelo descalabro nacional. Causou-o, escondeu-o e assinou um acordo que nada tem de socialista para se safar do buraco.
Porque sabia que era mais fácil omitir o teor do acordo e deixar isso para o governo que viesse a seguir.

As reformas estruturais com o consequente corte em direitos laborais, redução de gastos na saúde e educação, alienação de empresas estratégicas foi assinado por um PS que proclama ser agora contrário a estas medidas.

A falta de palavra já é algo intimamente ligado aos políticos. Mas o nível de falta de palavra de Mário Soares é chocante. É a total falta de pudor e de vergonha que sempre o caracterizou. Mas agora a idade e a necessidade obsessiva de ser "ouvido" retirou o filtro, e estas barbaridades saem-lhe da boca sem qualquer controlo.

Na minha opinião, o PSD não diz suficientemente alto e bom som de quem é a responsabilidade. Tem algum decoro e mostra um certo esforço de apaziguamento ao fazê-lo.
Mas o PS não tem essas barreiras morais e éticas. O PS que minou o Estado de ladrões não tem esse tipo de pudores.
Para eles fugir a um acordo, passar responsabilidades suas a outros e fingir que não é nada consigo, é apenas business as usual.

A manipulação é o dia a dia deste PS. Quando fala no PEC apresentado a Bruxelas sabe bem a carga pejorativa que o termo tem. E essa carga pejorativa é responsabilidade do próprio PS.
Mas um PEC e o que o PSD comunicou a Bruxelas são coisa bem diferentes. Sobretudo porque ao estarmos sob ajuda externa não há PEC. Muito mais do que PEC temos o acordo que temos de cumprir e que é avaliado trimestralmente.

A outra enorme manipulação é desatar aos gritos porque as previsões são piores do que as de há uns meses atrás. Muito à maneira PS, as previsões tornam-se de imediato realidades e como tal pode confrontar-se o governo com elas. Tal como as suas previsões fantasiosas e optimistas eram tomadas pela realidade. Sempre optimistas e sempre fantasiosas. E como se viu, sempre irreais.

O PS dá-se mal com a realidade. Prefere escondê-la para que se descubra quando já estão outros no poder. A verdade e o PS estão em polos opostos.

Se vamos empobrecer é porque durante 6 anos o PS endividou o país em nome do povo sem qualquer resultado prático que não fosse o de proporcionar milhões a si próprio e aos seus amigos.
Este empobrecimento forçado foi consentido e aceite no acordo que o PS negociou e assinou.
Não nos esqueçamos que as negociações com a Troika foram levadas a cabo exclusivamente pelo PS. Os outros partidos assinaram no fim. Mas a negociação estava feita. A única coisa que podiam fazer era não assinar.
Mas fizeram-no para que existisse um consenso político alargado que evitasse coisas como assistimos na Grécia em que um louco diz que não paga sabendo que no dia em que isso for real não entra nem mais um Euro na Grécia.
Caso esta atitude da Grécia fosse para a frente , os salários da função pública grega seriam pagos pela última vez em junho.

A Alemanha já avisou o Governo Grego - Se desrespeitarem o acordo não há mais dinheiro.
Podem fazê-lo e fá-lo-ão. A nação economicamente mais forte da Europa pode ditar as condições em que empresta o dinheiro. E quando se tem um louco a dizer que não vai pagar, mais louco seria o emprestador se lhe desse mais dinheiro.
O que é grave é que estes políticos brincam com a vida das pessoas. Ficam à beira de impor a todo um povo a miséria total. E nessa circunstância as pessoas bem podem rebelar-se e sair à rua. Continuarão miseráveis na mesma.

O PS deixou-nos precisamente numa situação semelhante. E agora um sem vergonha como Soares acha que o PS se pode desobrigar de respeitar o que assinou. Se isto não é a maior demonstração de falta de carácter de Soares, não sei o que será. É como gritar plenos pulmões. "Eu fui 1º ministro e Presidente deste país e não mantenho a minha palavra nem acho que os outros a devam manter".

Se Seguro está preparado para sair à rua, eu sugeria que viesse com Sócrates e que passasse perto de minha casa. Gostaria de lhe fazer saber o que penso dele e dos seus camaradas.
Gostaria de lhe fazer saber que o empobrecimento que também me afecta a mim, lho imputo totalmente a ele a ao seu partido de criminosos.

Nunca será demais lembrar que o PS, este PS, é responsável pelo buraco monumental em que nos meteram. O desvario das PPP's, da Parque Escolar, do ensino tornado uma mera convenção com coisas como as Novas Oportunidades ou a carga burocrática estúpida e inútil causada pela avaliação mentecapta dos professores, o ataque às instituições judiciais, a corrupção e o abuso de poder etc etc etc.
Tudo isso é obra do partido de Seguro.

Que nunca se esqueçam.