O berbicacho de Passos
Marcelo Rebelo de Sousa é um jurista. Um jurista com pretensões a ser um doa grandes juristas nacionais, daqueles que poderiam ter assento num Tribunal Constitucional.
Mas talvez por ser uma "puta" intriguista nunca lá porá os pés.
O caso do episódio de Passos é mais um daqueles casos em que uma coisa que não acontece se torna numa realidade pela exaustiva repetição de todos os entrevistados nas televisões.
O contexto em que Passos refere o salário mínimo é muito claro. Seguro acha que subi-lo iria incentivar a economia. Está obviamente por provar este efeito mas é mais do que evidente que isto poderia ainda agravar o desemprego.
Imagine-se um qualquer negócio já com a corda na garganta. Que tem de retirar da sua magra facturação o salário de um ou dois empregados. Imaginemos que tem 2 ou 3 empregados a salário mínimo.
Quem é que pode achar que num cenário destes um aumento de salário mínimo significa diminuição do desemprego? O que é que um pequeno empresário já esmagado até ao limite vai fazer se os seus encargos subirem? E por arrasto a segurança social a pagar?
É neste contexto que Passos responde ao idiota do Seguro que a subida do salário mínimo não significaria aumento do emprego. Quando muito o contrário seria verdade.
Mas o que não houve foi uma expressão de um desejo de que isso acontecesse. Em nenhum momento. Passos referiu o caso da Irlanda mas disse claramente que pelo desnível em relação à nossa realidade isso seria impossível em Portugal. Nem sequer o fez com um ar de desânimo como se fosse isso que desejasse fazer.
Limitou-se a responder à imbecilidade e oportunismo sem fundamentação de Seguro.
Borges veio depois dizer aquilo que é óbvio. Se o custo do trabalho for mais baixo (salário mínimo incluído) isso poderia significar um aumento do emprego. É tão simples e tão matematicamente verdade que não há nada que se lhe possa apontar.
Não se está a valorar o salário mínimo do ponto de vista da sua suficiência ou da justeza da medida. Está simplesmente a dizer-se que se o custo do trabalho for mais baixo é mais provável que o emprego aumente. É tudo.
Se Borges deve ou não vir dizer isto, é com ele. Eu acho que o nosso país não gosta de ser enfrentado com soluções pragmáticas e frias. Gosta de viver convencido de uma série de enganos e prefere as mentiras piedosas. Como tal, prefere manter-se iludido até a coisa explodir.
Borges, sabendo isto devia abster-se de dizer estas coisas.
O que não podemos é à falta de afirmações iguais de Passos vir dizer que Borges diz o que Passos queria dizer.
E o que não podemos é ter um eminente jurista a fazer chicana política, sabe-se lá com que motivações, a dar por consumado o facto de Passos ter dito o que não disse.
Já não é a 1ª vez que Marcelo faz isto. Acrescente-se que o acho um eterno cobarde que se refugia no "paleio" para não ter de demonstrar os seus dotes de grande político. A sua suposta sapiência maquiavélica enjoa-me profundamente.
Pode ser muito inteligente, coisa que me sinto tentado a acreditar. Mas na verdade não passa dum intriguista da pior espécie que usa o palco mediático para propósitos muito pouco claros. Gosta de ser um master puppeteer.
Já não é a primeira vez que ajuda a sedimentar uma mentira. Pode não o fazer directamente mas não é capaz de chegar a um palco como a TVI e dizer alto e bom som: Não foi assim que a coisa que passou.
Ao omitir esta abordagem ajuda de facto a sedimentar a mentira.
Já é pelo menos a terceira vez que o faz. Com Ferreira Leite fê-lo uma vez e com Passos lembro-me de pelo menos dois casos.
Não percebo se Marcelo quer agradar a alguém, ou se espera vir a ser 1º ministro. Mas com as suas insistentes mostras de falta de honorabilidade não me parece que tenha grande futuro político.
O que infelizmente temos de sobra é gente a falar demais sobre aquilo que devia ficar calado. Ou porque nem sabe o que está a dizer ou porque diz os maiores disparates com motivações da maior baixeza. Mas falam. Os Pachecos, os Capuchos, os Marcelos e toda a tropa fandanga que ajudou, e de que maneira, a enterrar este país-
Porque nunca tomaram as medidas que deviam, porque sempre estiveram confortavelmente instalados a viver da coisa pública e crise foi coisa que nunca conheceram, porque são simplesmente cúmplices da bandalheira que Sócrates levou a um ponto de glória.
O berbicacho de Passos é que está rodeado de gente com dor de cotovelo, sem coragem para assumir aquilo que ele assumiu e com receio de que as suas benesses e boa vida tenham de chegar ao fim.
Esse sim é o berbicacho. Não é esta treta do salário mínimo. Não é o facto de agora que estamos num absoluto estado de ruína alguém se lembrar que se for aumentado o salário mínimo temos a solução para todos os males.
Porque é que este asno do Seguro não se lembrou de propor ao seu camarada Sócrates que fosse cumprida a meta do salário mínimo prometida por ele com os parceiros da concertação social? Onde andava esta desgraça mumificada quando Sócrates passou por cima de todas as soluções que podiam ter evitado tudo isto? A fingir que era deputado?