O que vai ser de nós?

Depois de ler as "propostas" do PS e do PCP para a solução da crise fiquei deprimido.

É mais ou menos consensual que este Governo podia fazer melhor do que está a fazer. Refém de maus hábitos e de lobbies com muito poder, não consegue realmente atalhar naquilo que precisa de ser mudado.

Não sou, ao contrário de muitos, apologista de que se deixem os bancos falir e como tal não me repugna que o Estado ajude a banca a recapitalizar-se. O contrário significaria um colapso generalizado do país.
O risco de falência de um banco afecta grandemente as pessoas. A começar por aquelas que nele têm as poupanças de uma vida e que passariam subitamente a não ter nada.
Se multiplicarmos isto por 3 ou 4 bancos, os riscos de uma catástrofe social resultante do colapso do sector financeiro seriam enormes.

Acho no entanto que o regulador deve fazer o necessário para que a banca não entre em loucura como o fez durante o boom imobiliário e não tenha de ser necessário "safar" repetidamente bancos gulosos e mal e porcamente geridos.

Mas apesar de tudo isto o Governo poderia facilmente atalhar nas coisas que são injustificáveis. O financiamento às fundações devia ser liminarmente terminado. Tudo o que fosse fundação a viver de fundos do Estado, com objectivos difusos ou não declarados deveria ter as suas verbas cortadas pura e simplesmente.

A simplificação de serviços e organismos do Estado com a fusão em organismos eficientes e desburocratizados seria muito bem vinda.
A concentração da multidão de empresas públicas e municipais fantoches criadas apenas para assegurar poleiro a amigos dos partidos deveria ser uma prioridade máxima.

Este sector é responsável por um desbarato de dinheiro sem fim. Os seus quadros, pagos bem acima daquilo que são os valores normais no Estado e contratados ao arrepio de qualquer escrutínio público deveriam simplesmente ser dispensados. As suas carreiras contributivas deveriam ser contadas como as de outro trabalhador qualquer.
Há enormes barreiras legais e informais para que isto não se faça. Mas devia ser feito. São centenas de milhão por ano que temos de sustentar sem qualquer justificação prática que não seja o sustento de um grupo severamente incompetente que roda de lugar em lugar desde há dezenas de anos.

Há mais que podia ser feito. E houve muita coisa que já foi feita que se aplaude. Mas não chega.

E não sou daqueles que acha que um ministro das finanças deve ser avaliado pelos seus poderes de adivinhação em vez de ser avaliado pelo seu trabalho diário na salvação dum país falido.

É absurdo pensar que num país com uma economia absolutamente fictícia, como era o nosso até 2011, se pode enfrentar uma crise desta dimensão sem haver uma retracção do consumo e do emprego.

Qualquer ajuste seria assim fosse quem fosse que estivesse no poder. O nosso problema é estrutural e não se resolve com umas formações da treta para desempregados (para fingir que estão empregados enquanto "aprendem") ou com estágios mal e porcamente pagos para jovens recém chegados ao mercado de trabalho.
Este tipo de sugestões é o que o PS propõe. Mais uma vez às custas de verbas da EU ou dos cofres do Estado, tal como foram as Novas Oportunidades ou outros programas anteriores.
Feitos e concebidos para a estatística. Sem qualquer resultado prático.

É também indiscutível que o nosso sector público precisa de uma revolução. Há muita gente boa na função pública. Muita mesmo. Mas há muito parasita que sentindo-se absolutamente seguro quanto à sua perpetuação no lugar, não sabe sequer o que é trabalhar.
Já tive de interagir com o sector público dezenas de vezes e a esmagadora maioria das pessoas com quem trabalhei eram medíocres, desinteressadas e absolutamente inúteis. Desde directores ao mais miserável técnico.
Mas também encontrei gente excelente. Desmotivada por ver á sua volta uma multidão de parasitas que vão sobrevivendo por simpatia ou amizade com superiores ou simplesmente porque ninguém se lembra deles ou ninguém sabe bem o que eles fazem.
Estes bons profissionais vão ficando no sector público e nos dias que correm não podem mesmo correr o risco de optar por sair. Percebo-os. O que eu não percebo é que no Estado não se faça uma limpeza dos maus elementos e se premeie os bons elementos. A constituição não o permite.

E esta situação permanecerá com um PS no poder. Será ainda agravada seguramente. Com o PCP pou o BE nem vale a pena falar.
Quando se houve alguém dizer que o Estado não pode tocar nos professores com horário zero porque têm direitos adquiridos pergunto-me como é que se pode gerir um país com este tipo de coisas.

Seria razoável ter médicos no SNS sem doentes para atender? Ou juízes sem trabalho para fazer na sua comarca? Não. E isso não acontece. Porque é que isto acontece com estes professores?
Se não fosse a crise e a saída de muitos alunos do ensino privado, o ensino público teria um decréscimo de alunos todos os anos. Terá para o ano outra vez. E hoje já há dezenas de professores sem nada para fazer.
Porque ao longo dos anos foram tendo redução de horário e foram sendo cada vez mais bem pagos.
è legítimo ter professores com turmas enormes a ganhar menos que professores com horário zero e com um salário bem mais elevado? Porque tem o Estado de abrir concursos para contratar professores todos os anos quando há gente que não dá uma única hora de aulas?

As esperanças de ter alguma coisa de substancial feito pelo PS (dos outros nem vale a pena falar porque o seu discurso é absurdo e desligado da realidade) são nulas.
O PS só sabe governar quando há dinheiro. E acaba sempre com ele. Agora não há. O que vai fazer?
É óbvio que com o que propõe também está a mentir. Não fará o que diz nem conseguirá fazer o que diz relativamente ao emprego e ao crescimento. Simplesmente não está ao seu alcance.

Não temos líderes à altura. Nunca tivemos desde o 25 de Abril. A mediocridade dos lideres políticos de hoje é estarrecedora. Com a excepção de Portas que considero brilhante, todos os outros são homens comuns. Nada de brilho, nada de visão, nada de liderança.
E desenganem-se aqueles que pensavam que Soares ou Cavaco eram grandes líderes. Não o eram. De Soares pouco há a dizer, de Cavaco basta ver a forma como se comporta nos dias que correm para perceber a irrelevância da sua existência.

O que é assustador é perceber que os partidos estão capturados por gente menor, por gente sem estatuto ou saber. São um atoleiro de medíocres que se foi instalando e afastando todos os que lhes pudessem fazer frente.

Temos depois os "barões" e "baronetes" que com uma aura de qualidade que nunca tiveram, falam de cátedra de cada vez que lhes metem um microfone na frente. As suas proezas passadas estamos a pagá-las hoje. A sua falta de coragem e de visão foi-se acumulando e agravando com os que vieram a seguir. Falam como se nada tivessem a ver com o descalabro que nos aconteceu pela 3ª vez.

Quanto ao nosso povo ele está adormecido e completamente alienado. E zangado o que não ajuda nada a pensar direito. Não consegue distinguir, não consegue pensar com um mínimo de lógica e a única coisa que se limita a fazer é "indignar-se". No Facebook, no Twitter e nos comentários dos jornais on line.


É completamente inconsequente e bastas vezes defende coisas que seriam a sua própria desgraça.
Afinal os políticos que temos vêm do nosso povo. Não vieram de Marte nem de Espanha. São o produto da nossa sociedade complacente com o espertismo, com a corrupção e com o fingir que se faz. Andou todo um país a fingir que fazia durante anos.
Há gente que está tão habituada a isto que nem sabe exactamente como é trabalhar. Nunca souberam.

Não me parece que vamos acabar bem. Não vai ser numa geração que se limpa toda esta porcaria. Vai ser depois de eu cá não estar, se for.

É muito evidente que o nosso maior problema somos nós e a nossa incrível falta de capacidade para encontrar soluções para os nossos problemas.