O preço a pagar por uma informação miserável

O Sol conseguiu ontem ter online ao mesmo tempo duas notícias contraditórias. Hoje a única notícia acerca do assunto que permanece "no ar" é a do aumento da dívida aos bancos em 10 mil milhões de Euros.

Isso contraria o que ouvi ontem na TSF acerca do assunto, seguido do comentário de um economista a confirmar esse número.

Uma vez que esta informação sai do Boletim do Banco de Portugal achei por bem ir à procura desse boletim.

Aqui está o link directo para a parte respeitante à dívida do Governo - Boletim A15

De facto, e salvo melhor interpretação, a dívida à banca vem a cair desde Abril (em milhões de Euros)

Mas vejam o Boletim para perceber em modo gráfico a evolução da Dívida geral do Estado aos vários contrapartes.

Valores cumulativos de dívida a bancos e outros (nacionais) desde Junho 2011.
Fonte: Banco de Portugal

Espanta-me de sobremaneira que não haja um mínimo de rigor por parte dos media relativamente a este tipo de assuntos. Recebem uma notícia e alegremente a amplificam e repetem até à exaustão.
Com "supostos" especialistas em economia nas suas hostes deixam passar as coisas mais disparatadas ou introduzem tal confusão nos números e na notícia que os rodeia que é impossível ao comum cidadão perceber se é um sinal positivo ou um sinal negativo.

Numa era de informação fácil e acessível (se se souber procurar) o trabalho de um jornalista devia ser muito mais cuidadoso. Sob pena de qualquer comum mortal poder ser muito mais fiel à verdade e aos factos do que alguém faz da informação a sua profissão e que devia fazer do rigor e da qualidade o seu objectivo máximo.

Parece não ser o que se passa. Desde um jornalismo manipulador e sectário ao jornalismo pura e simplesmente incompetente, de tudo se passa. A única coisa que não se passa é informação de qualidade.

Não admira pois que as discussões saiam do domínio do factual e passem para o domínio do delírio.

Costuma dizer-se que um "número convenientemente torturado diz aquilo que quisermos". O problema é que o número é o que é. Por mais prismas que o queiramos olhar ele não muda. É exacto é implacável e imutável. É um número. E por definição um número é concreto.
Todo o floreado interpretativo que se lhe queira por em cima não o altera. O que isso pretende conseguir é alterar a percepção que temos de um mesmo facto. É na maior parte das vezes desonesto porque nos pretende enganar, demagógico porque pretende conduzir a nossa reacção distorcendo os factos, e inútil porque a realidade é a que é e não muda por causa da interpretação que se lhe dá.

Para aqueles que acreditam andar informados só lendo o jornal online de eleição ou ouvindo o amigo ou colega supostamente bem informado, isto é uma lição.

Nunca soubemos tão pouco com tanta "informação".
Mas isso deixa de ser um problema porque o mundo acaba a 21 de Dezembro.
Não é isso que os media dizem quando falam do fim do calendário Maia?
Não há mais calendário, logo deixa de haver mundo...