Os media (2)

Ontem descobri um mundo que desconhecia. E vistas bem as coisas, é um mundo que passava bem sem conhecer.

Ao ver o Público Online deparei com um link directo para um artigo sobre um blog. Fui parar à secção life & style.
Era então um artigo sobre uma blogger que vive (ganha dinheiro) com o seu blog que é nem mais nem menos que um dos mais visitados do país.
Jornalista, jovem e com um blog de sucesso. Uma receita estranha para um sucesso tão grande.

E comecei a ler uns posts.
A minha mandíbula foi descaindo até já não poder mais.
Só pensava como era possível um blog assim ter 20 mil visitas por dia! Em desespero de causa comecei a procurar qualquer coisa mais substancial. Dei com uma tag que dizia "artigo de opinião". Bem, pensei, as pessoas fúteis tambem podem dizer qualquer coisa de jeito.
A opinião era sobre um produto de maquilhagem para as pestanas. Desisti. Saí.

Fiquei atónito.
Quando pensamos porque é que somos como somos, seja o país seja o mundo, seria bom que pensássemos porque é que é tão fácil sentir apelo pelo fútil e pelo efémero.
O consumo, o dinheiro. Comprar "coisas". Muitas coisas.
No caso desta rapariga é roupa e sapatos.

E faz-se um blog sobre isto, e ganha-se dinheiro. Nada de produtivo, nada de relevante. Apenas superficialidade.
Quando se pensa que existe gente que trabalha desalmadamente, em trabalhos duros e penosos que mal consegue ganhar a vida para sobreviver, é incrível pensar que alguém possa ganhar a vida a escrever sobre sapatos que custam quase um salário mínimo, roupa da marca A ou B e se tire a si próprio fotografias para que o mundo veja como lhe fica bem a roupinha que "comprou". Que encha um blog de fotos suas para sabermos como saiu à rua nesse dia.
Claro que o jornal promove isto. Tem pinta e estilo e até é uma colega de "classe".

É "tão giro" ler as atribulações de alguém que não consegue resistir a comprar MAIS um par de sapatos.

É quase ofensivo ler num mesmo jornal artigos sobre famílias que vivem numa crise extrema, e a promoção de um blog de alguém que é sem dúvida nenhuma um produto dos tempos de consumo desenfreado e sem sentido.
O contraste total.

Será feliz? Certamente que sim. Enquanto não tiver consciência da completa inutilidade do que faz e tiver comentários de gente igualmente vazia a louvar o "espaço" será feliz certamente.
Num dia um que tenha uma epifania em que o seu casamento de sonho passe a pertencer ao lado mau da estatística, em que o maridinho não ofereça sapatos, perceberá provavelmente que uma vida deitada fora a fazer isto é um desperdício total.

Preferia que a autora escrevesse sobre coisas mais sérias? Assim à primeira sim... Mas depois de ver os posts e de perceber um pouco o que vai naquela cabeça, definitivamente NÃO!
Devem estar a aparecer uns sapatos novos da colecção Outono/Inverno e não queremos que a jovem se disperse e perca as coisas "fantásticas" que vêm aí falhando na sua tarefa "informativa" na blogosfera.