Asnos

Suponho que aquilo a que se chama luta política não seja mais do que a arte de manipular e distorcer as coisas por forma a ter benefícios com essa manipulação.

Esse benefício pode ser ganhar o poder. Atrás do qual vem o acesso sem restrições e sem grande escrutínio a dinheiro, influência (mais dinheiro) e mais poder (mais dinheiro).

Não me parece que a desesperada tentativa de chegar ao poder se faça por razões altruístas ou a pensar no bem comum.
A verdade é que durante os últimos 38 anos o bem comum pareceu afastado dos propósitos dos nossos fantásticos governantes.

E 38 depois do 25 de Abril cá nos encontramos nós numa situação de mendicidade (pela 3ª vez) junto de organizações internacionais que nos emprestam dinheiro para que o país não entre em colapso.

Nunca como desta vez a situação foi tão desesperada. Não só estamos numa situação de mendicidade como nos colocamos numa posição em que a recuperação é quase impossível.
Destruimos os nossos sectores produtivos sem olhar às consequências. A agricultura, as pescas, a indústria pesada, a exploração de recursos naturais, a produção de aço etc etc, foram todas abandonadas com a ideia (perfeitamente imbecil) que saía mais barato importar tudo isso.

A grande questão é que para importar "convém" que se ganhe dinheiro para isso exportando alguma coisa. E nunca esse pequeno detalhe foi tido em consideração. Só agora estamos numa situação desde há muitos anos em que o desequilíbrio entre as exportações e as importações se reduziu consideravelmente.

Podia dizer que este governo recebeu o país num estado catastrófico. Mas foi este governo como teria sido outro qualquer. Prefiro dizer que o governo anterior deixou este país num estado catastrófico.

As contas não eram muito difíceis de fazer. Era preciso atingir objectivos de redução de deficit inacreditáveis para um país em recessão económica.
Mesmo em situações de maior abundância, os governos anteriores conseguiram a proeza de acabar o ano com deficits da ordem dos 9 %. Reduzir para 4.5 em 2 anos num país em recessão é praticamente uma tarefa impossível.

O partido Socialista, turba cleptómana, corrupta e incompetente, passa metade dos seus dias a tentar alhear-se da responsabilidade da situação em que nos encontramos. Finge que não é nada com ele.

Alguns ainda dizem que o PSD e o CDS também assinaram o acordo. O que nenhum teve ainda o atrevimento de dizer foi que esses partidos foram incluídos na negociação do acordo. E não se atrevem porque não foram. Assinaram um acordo negociado entre a Troika e o governo PS, por uma questão de unidade nacional e de compromisso perante a troika.

Diz o PS que o governo vai além do acordo. Outros dizem que o acordo já foi alterado.
Mas o que não se alterou foi o compromisso de alienar empresas do estado e de aumentar a carga fiscal ao mesmo tempo que se flexibilizariam as leis laborais e se preconizava uma desvalorização salarial.
Tudo isso foi negociado, e acordado pelo PS.

Com gente normal que não fosse demasiado incompetente ou não estivesse em estado de desespero, seria evidente perceber que isso iria deprimir ainda mais a nossa economia e que isso ia causar um efeito psicológico na população que provocaria uma retracção ao consumo ainda maior. Tudo isso significaria que tudo o que estamos a viver seria previsível.
Se, como disse, não estivéssemos a falar de perfeitos incompetentes desejosos de desaparecer do local do crime.

É portanto duma hipocrisia enorme falar de políticas de emprego e crescimento como alternativa á desgraça, quando se sabe que não se gera emprego com as empresas a fechar ou a reduzir efectivos. É óbvio que não há crescimento num cenário destes e que mesmo depois de a curva bater no fundo o efeito acontece em diferido.
Falar destas "políticas" de forma vaga e não substanciada é um exercício de uma má fé gritante e a revelação de que não há nenhuma cabeça naquele partido de nabos que tenha uma solução com medidas concretas para fazer aquilo que diz ser a solução. E percebe-se. Não há milagres. E não os há porque não há dinheiro para o Estado criar emprego inútil e artificial como o PS sabia fazer tão bem e como o PSD soube fazer com os fundos da CEE.

A única coisa concreta que o PS sabe dizer é que o IVA dos restaurantes não devia ser 23%. Suponho que devam comer fora com frequência.
Havia manifestamente restaurantes a mais. Desde há uns anos para cá não havia famoso que achasse que não ia enriquecer abrindo um restaurante gourmet.
Faliram esses e falirão outros porque agora a clientela é muito menor para cada um. Mas isto não foi um problema só do IVA. Isto foi um problema da retracção ao consumo. Se o PS não sabe isso leia os artigos parvos do Público a tentar fazer passar a moda da marmita como uma coisa chique. A "moda" da marmita chegou muito antes do IVA a 23%.

  • A outra coisa que o PS soube fazer muito bem foi inventar "casos":
  • O caso da nossa semelhança com a Grécia com a diferença de que eles já iam uma ano á nossa frente na desgraça (a julgar pelo vatícinio nem para adivinhos de feira serviriam)
  • A subserviência de passos Coelho a Merkel (alguém chegou a chamar a passos Coelho o Gauleiter português - Creio que foi aquele asno do Nicolau Santos)
  • O caso da folga orçamental (se havia folga deviam ser mais brandos... tipicamente socialista...)
  • O caso do ir além da troika (se havia folga... fizeram demais)
  • Hollande como salvador (vê-se com quem ele alinha. Não é com este pateta socialista português certamente)
  • O IVA dos restaurantes como  a salvação do país (deve ser um sector com um peso na economia verdadeiramente importante)
  • O rasgar do acordo (com a contribuição do Senil-ador Soares)
  • Emprego e crescimento (vindos do nada)
  • O prolongamento do prazo ou a alteração do limite máximo do deficit (foi uma choradeira de semanas)
  • O caso RTP (mais ralados com a forma do que com o conteúdo)
  • A reversão da propriedade da RTP (caso acontecesse o que tinha sido dito... e como se o pudessem fazer com essa facilidade)
  • A falha dos objectivos (deve ser por causa do IVA dos restaurantes...)
  • A não aceitação de mais austeridade (fartaram-se da porcaria que provocaram, aparentemente)
  • Os fogos

Não houve um caso que o PS, pela mão do seu patético líder, tivesse trazido á discussão que se possa dizer que seja substancial ou minimamente quantificável ou implementável. São apenas palavras vazias, modas de uma semana que têm apenas como objectivo desgastar a imagem do governo e dos partidos que o constituem.
Nem quero imaginar o que seria uma situação destas nas mãos do PS com Seguro como primeiro ministro. E parece-me que nem eles conseguem imaginar.

Quando um partido faz toda a sua argumentação à volta do adiamento do prazo e do relaxamento do deficit e depois diz que o governo falhou precisamente porque sem alargamento do prazo ou sem relaxamento do limite não consegue atingir os valores em causa, ou é um partido liderado por estúpidos ou gente que não é tão estúpida assim mas que é duma desonestidade intelectual de ir às lágrimas.
Se bem que usar a palavra intelectual quando nos referimos a Seguro é como dizer que Sócrates era engenheiro civil e percebia à brava de economia.