Eu sabia...
Mas eu sabia.
Eu sabia que a destruição do sector primário e secundário da nossa economia iria ser pago por alguém.
Que o desbarato de dinheiros públicos desde que entramos para a CEE acabaria por ter uma factura pesada para alguém pagar.
Que o ser bonzinho e enterrar tudo e todos com subsídios acabaria por ter um fim
Que o transformar de serviços do Estado em "empresas públicas" com os seus staffs de administradores inimputáveis acabaria por gerar dívidas e tornar inviáveis incontáveis serviços que devem ser obrigação do Estado
Sabia que o acumular de dívida para fazer obras faraónicas ia resultar num desastre para as finanças públicas
Que o aprovar de construção por parte das autarquias olhando apenas á receita do IMI e das licenças de construção ia acabar por tornar os centros das cidades em desertos. Que iria ocupar todo e qualquer pedacinho de solo com construção causando um desastre urbanístico de proporções bíblicas.
Só não sabia quando.
Comecei a ficar com verdadeiras suspeitas de que a desgraça se aproximava em 2008 com o colapso do subprime. Por essa altura já se notava um abrandamento considerável no mercado da construção. Mas ainda se assistia a alguma loucura de concessão de crédito à habitação.
A sucessão de planos de estabilidade e crescimento (ah ah ah) dos governos Sócrates começava a mater a mão nos nossos bolsos. Mas mesmo assim o Estado ainda se deliciava em estourar biliões em parcerias de estradas, hospitais e afins. Renegociava contratos sempre a perder dinheiro.
Eu sabia que íamos pagar isto. E íamos pagar com língua de palmo.
Não estou de acordo com as medidas deste governo para "resolver" a situação. Primeiro porque sei que o hábito neste país é que quando se tira alguma coisa nunca mais se devolve. E depois porque creio bem que falta a coragem de atacar a sério aquilo que é a responsabilidade criminosa dos governos anteriores, com as suas rendas no valor de milhares de milhões de Euros anuais para pagar toda a loucura despesista dos últimos 15 anos.
Até as taxas de juro da nossa dívida soberana atingirem valores absurdos.
Tivemos dois governos que se endividaram a taxas de 2%, 3%, 4% e mais, para manter a mama estatal de inúmeras empresas num país com um crescimento anémico que não chegou muitas vezes ao 1%.
Isto foi feito por um 1º ministro e por um Ministro das Finanças que não passava dum capacho do 1º, professor universitário de elevados pergaminhos.
Hoje, este governo apresenta-nos uma conta incrível para pagar. Esmifra o país para conseguir 500 milhões a mais num ano. Bastava re-avaliar uma PPP de uma estrada ou de um hospital para conseguir quase na íntegra esse valor.
Paulo Campos foi responsável por um agravamento de rendas em mais de mil milhões de Euros para o Estado. Em cima do que tínhamos que pagar.
Guterres lançou obras escusadas a começar a pagar mais de dez anos depois de sair do Governo.
Cravinho batia no peito todo ufano dizendo na AR que iam fazer ainda mais Km de auto estrada que Ferreira do Amaral.
Comparados com estes loucos, Ferreira do Amaral foi um amador.
Mas o que mais me enoja de tudo isto é o fingimento por parte do PS de que nada disto tem a ver com o que fez quando era governo.
Não só é responsável pelos últimos pregos no caixão destes país, como assinou metas de ajustamento que sabia que nunca se conseguiriam sem um torniquete fiscal em cima de toda a população.
Passos Coelho pode bem ter perdido definitivamente grande parte da sua base de apoio. Muitos porque se tinham convencido que não tinham de sofrer mais, outros porque mesmo sabendo que isso iria acontecer discordam completamente da forma como os sacrifícios caem sempre em cima dos mesmos.
O PS diz que está contra a austeridade. Também eu. Mas pelos vistos consegue apontar menos soluções do que eu. Coisa estranha para alguém que podia muito bem estar á frente dos destinos deste país. Para alguém que geriu miseravelmente este país sempre que a oportunidade se apresentou.
A incompetência nas avaliações, as decisões para "fingir" que se faz e a completa tomada do Estado por interesses privados foi uma constante Socialista. Que nos trouxe aqui.
Passos Coelho tem responsabilidades na escolha destas medidas sim senhor. Não tem é qualquer responsabilidade nas causas que levaram a ter de as adoptar. Honra lhe seja feita, não toma decisões por razões eleitoralistas. Não pode. Se o fizer o país entra em colapso e em vez de os funcionários públicos e pensionistas terem uma redução de 7% de salário, passarão certamente a ter uma redução de 100%.
Estamos completamente sujeitos à boa vontade de quem nos empresta dinheiro. Pode gritar o Bloco e o PCP que não pagam porque sabem perfeitamente que nunca terão de o provar. Falar de fora é facílimo. Olhar para as contas dum país em falência e tentar manter as coisas a funcionar é muito diferente.
A atitude completamente alienada da esquerda (PCP e BE) é o costume. São contra. São sempre contra. Mas não têm soluções e são sobretudo cúmplices da bandalheira despesista do PS. Mais grave ainda, pediam ainda mais despesa.
Dói-me de várias maneiras ver o que estamos a passar. Porque tal como muitos outros tenho de ajustar a minha vida às novas circunstâncias, mas sobretudo porque sabia que esta situação ia chegar e olhava para a nossa classe política e os via a assobiar alegremente para o lado como se o futuro nunca chegasse.
Chegou e estamos metidos num bruto sarilho.