As réplicas
Depois de revelado o pedido de Cavaco Silva e da filha para a venda das acções que detinham, despachado pelo próprio Presidente do Conselho de Administração da SLN, seria de supor que a coisa ficasse por aqui.
Mas não.
Como um bom demagogo não se preocupa nada com o facto de a verdade interferir com a sua interpretação dos acontecimentos, vejo hoje Manuel Alegre dizer que o simples facto de as acções terem sido vendidas a 2.40€ é só por si um acto de favorecimento e de participação na gestão danosa do BPN.
Como se não bastasse, Louçã apresenta um contrato de venda das acções da SLN de um outro pequeno accionista em que os ganhos são de apenas 5%.
Claro que a venda foi realizada mais tarde mas, na cabeça de Louçã que como sabemos é um economista de mão cheia, isso ainda deveria significar porventura ganhos maiores. Sendo assim não era possível o ganho de 140% de Cavaco Silva e da filha.
Isto é típico de quem tem uma mão cheia de nada. Primeiro atira-se com o simples facto de ele ter tido acções. Depois de sabidas as datas de aquisição e venda e esgotado o potencial de associação a 2008 e à descoberta da falcatruas, parte-se para os ganhos. Agora o facto de o assunto ter sido tratado por Oliveira e Costa associa-se automaticamente com um acto de gestão danosa e a colaboração com a mesma.
Isto tem reminiscências dos processos estalinistas e das purgas da revolução cultural. Não há defesa possível. A cada explicação cava-se mais fundo nas assumpções de culpa e nas especulações de envolvimento.
Da ala extrema esquerda o "papa" virtuoso que nomeia a mãe para assessora do grupo parlamentar do BE (é verdade, também existe nepotismo na extrema esquerda e não é pouco) avança com uma tese bastante inconsistente de que o valor a que foram vendidas as acções teria sido inflacionado artificialmente por Oliveira e Costa.
Mas ao que parece houve acções re-compradas pela SLN a valores mais altos em 2003 (2.61). Vejam lá de quem eram as acções para saber quem mais beneficiou de favorecimento e participou na gestão danosa do BPN.
Em suma, uma trapalhada. Já escrevia ontem que tinha sido boa ideia a campanha de Alegre ter verificado uns factos antes de partir para a insinuação e acusação difamatória. Mas não o fez e agora ele e Louçã fazem aquilo que sabem fazer melhor - figura de parvos.
Na verdade há novas t-shirts na campanha de Alegre. A primeira foi vista em Louçã
A campanha de Alegre anda à volta disto. A cada dia que passa tenta cobrir com mais lama o candidato que lhe faz mais frente e esquece-se do fundamental. A cada dia que passa demonstra mais a falta de superioridade e de sentido de estado que um Presidente deve ter. Coadjuvado pela criatura mais pomposa e assertiva que a extrema esquerda alguma vez pariu o retrato é de fazer cair a cal das paredes. O incapaz ajudado pelo cego. Só que o incapaz e o cego são manipuladores e mentirosos compulsivos.
Mas melhor ainda, Alegre vê-se enredado na sua própria teia. Um textozito de duvidosa qualidade literária sobre armas de caça de luxo (Purdey) é usado pelo BPP numa campanha publicitária e paga com um cheque de 1500 Euros que ele mandou devolver. Isto foi de manhã.
À tarde sabe-se que afinal foi feito um depósito em conta nesse valor e que Alegre passou um cheque pela sua própria mão que mandou a secretária devolver à BBDO.
Duas coisas estranhas:
Não é normal mandar entregar cheques em mão. Estas coisas fazem-se pelo correio. É no mínimo bizarro transformar a secretária num moço de recados e fazê-la ir entregar o cheque em mão.
Ah é verdade... não é normal um modesto deputado ter uma secretária... Ou é?
Não é normal não saber se o cheque foi descontado. A saída de 1500 euros duma conta bancária para um cidadão que vive do seu magro salário de deputado deve fazer uma mossa que se note. A julgar pelo desnorte no controle da sua conta bancária, aposto que Alegre também não sabe quanto paga à secretária ou sequer se lhe paga.
Resta saber se a declaração que o banco passou para efeitos de IRS terá sido entregue com a declaração desse ano.
Ora raciocinem comigo.
Se ele não incluiu essa declaração porque não teve esse rendimento (ele pensava à data que o tinha devolvido, logo não ia entregar um declaração de um rendimento que não teve) e de facto o cheque não foi descontado, Alegre mentiu ao fisco ocultando 1500 Euros de rendimentos.
Mas o mais curioso é que ao participar numa campanha publicitária violou o estatuto de incompatibilidades dos deputados que não podem fazer publicidade paga ou gratuita. Aqui ele diz que a assembleia nunca lhe disse nada. E eu respondo que a assembleia é talvez o maior antro de parasitas do país e está certamente bem fornecida de vigaristas. Ou já ninguém se lembra da recepção a Paulo Pedroso por parte dos mui nobres deputados que até mobilia partiram?
O facto de eles não terem dito nada pode significar que são completamente incompetentes em fazer a aplicação das normas que aprovam ou, muito pior, sabem e não fazem nada. Hoje coço-te as costas amanhã coças-me tu as minhas...
Mas o que eu realmente gostei de saber é o desejo francamente burguês de ter não uma, mas duas Purdeys.
A arma de caça feita à mão e à medida que pode custar tanto como um automóvel. Um par? Não lhe chegava uma?
Como é que Louçã reagirá a isto?
Saber que o seu candidato anseia por armas de caça (que matam os bichinhos que de certeza Louçã ama) e logo as armas escolhidas pela realeza (que Louçã abomina).
E se no texto Alegre diz que o salário de deputado não chega para uma Purdey, como é que não dá pela diferença de 1500 Euros na sua conta bancária? E que salário paga ele à pobre secretária que manda ir entregar cheques em mão à BBDO? Terá sido para poupar na franquia da carta?
Pois é... o poço da virtude não é mais que um poço de outra coisa. Um poço daquilo que ele tenta atirar para cima dos outros...