Será que o PSD tem razão?

Aparentemente sim. Mas só aparentemente.

A verdade é que com a demissão do Ministro Rui Pereira nada se resolveria.
A incompetência não está neste caso ao nível do ministro mas sim do Director que se desresponsabiliza completamente com este falhanço patético dos sistemas de apoio ao acto eleitoral em dia de eleições.

A incompetência do ministro só existe na medida em que aceita as explicações totalmente infantis ao responsável da área e não o convida a demitir-se.

Aliás, um responsável com algum brio, apuraria a razão dos serviços ficarem indisponíveis numa situação destas, assumia as suas responsabilidades e punha o seu lugar à disposição.
Ainda posso compreender que o site da CNN tenha ido abaixo num dia como o 11 de Setembro. O site foi bombardeado de todo o mundo para obter notícias.
Mas estes serviços?

Estes serviços nunca teriam uma carga sequer semelhante a uma situação dessas. Se cada português com cartão de cidadão fizesse um pedido durante o dia seriam 4.4 milhões de pedidos. Divididos pelas horas do acto eleitoral seriam 440.000 por hora o que dá qualquer coisa como 122 pedidos por segundo.

Destes 4.4 milhões com cartão do cidadão, muitos ainda têm o seu nº de eleitor e não precisaram. Outros já tinham sabido antecipadamente e não esqueçamos que houve 53% de abstenção.

Façamos um pequeno exercicio:
Assumimos que houve abstencionistas com e sem cartão de eleitor. Rachamos ao meio.
2.2 milhões  de portadores de cartão do cidadão votaram.
Assumamos que 20% não sabia o número de eleitor e precisou de saber - 440.000.
Estes 20% precisaram de saber ao longo das 10 horas de abertura de urnas.
44.000 por hora, o que dá 12.2 pedidos por segundo.

Quanta abstenção significou esta falha? Não sabemos e nunca saberemos.

Não acredito que tenha havido esse numero de pedidos nem de perto nem de longe. Claro que no contexto de um pedido há uma série de hits por página, e query a base de dados, mas mesmo assim o sistema arreou completamente.

A pergunta que fica é até que ponto a redundância do sistema funciona (se é que existe) e que espécie de testes de carga foram feitos nestes sites e BD's de suporte.

Aposto que não deve ter sido feita muita coisa nesse particular. Não acredito que tenha sido feito qualquer teste de stress nestes sites.
Na maior parte das vezes o sistema é feito por entidades externas que não estão muito preocupadas com a qualidade do que entregam. Estão mais preocupadas com o prazo (quando estão).

Cabe ao cliente definir quais os critérios para a aceitação e, em casos como estes, definir valores de carga a suportar pelo sistema. Também não acredito que estes responsáveis saibam sequer estimar estes valores ou que coloquem esse tipo de requisito no caderno de encargos.

Com esta "vaga" das tecnologias da informação o estado tem deitado milhões pela janela fora sem se assegurar que o que está a comprar tem qualidade. Ao mesmo tempo descontinuam-se processos manuais o que faz com que não havendo o processo "high tech" não haja nada.

Este tipo de coisa é absolutamente inadmissível. Se a consulta era feita por alguém nas juntas de freguesia quantos pedidos em simultâneo poderiam acontecer?

Imaginem o que seria se as operadoras de telemóveis não planeassem para os SMS da véspera de Natal e de Ano Novo.
Nestes dias passam dezenas de milhões de SMS nas suas redes. Um número que é muitas vezes superior à média diária. Na maior parte das vezes num pico horário muito mais curto.
Se estes sistemas falhassem em dias assim? O que acham que aconteceria aos responsáveis desses sistemas? Uma palmadinha nas costas e um "deixa lá"?

Não houve de facto qualquer cuidado em pensar no pior cenário. Deixar os canais públicos (Internet) e os usados pela juntas de freguesia sem isolamento (aparentemente todos acedem ao mesmo sistema público e quando está em baixo está para todos) é duma falta de visão atroz.

Há-de haver um fornecedor envolvido certamente. Mas o responsável pela àrea deveria ser demitido pura e simplesmente. O MAI deveria perceber o que tem andado a comprar e a adjudicar a entidades externas com as assinaturas destes (ir)responsáveis.

Não vale a pena pedir a demissão do ministro se todos os "altos" funcionários forem da estirpe destes. A porcaria irá continuar e metem lá um tolo qualquer a substituir o tolo que já lá está. Deixem o homem em paz que ele volta à Universidade quando o PS perder as eleições.

Actualização 26-01-2011: O director-geral da Administração Interna e o director da Administração Eleitoral pediram a demissão na sequência dos problemas registados no passado domingo durante as eleições devido às dificuldades que milhares de eleitores tiveram em votar. 
Vá lá... uma atitude de alguma qualidade. De facto, perante um estrondoso fracasso dos dois, a única consequência possível era a de pedir a demissão assumindo as responsabilidades pelo ocorrido.
A inexistência de leitores de cartões nos mais diversos organismos e nas mesas de voto (neste caso particular) são uma falha organizativa indesculpável. Se não há orçamento para isso não se lançam programas como este do cartão do cidadão sem acautelar todas as consequências que isso pode vir a ter.
Planeia-se em antecipação, criam-se planos de contingência e evitam-se coisas como as que aconteceram.
Resta agora saber qual a quota parte de responsabilidade de funcionários mais acima (Ministro, Conselho de Ministros etc etc) relativamente à forma como deram condições a estes organismos para o acto eleitoral.

Sei que este governo é useiro e vezeiro em lançar coisas pela metade tentando depois tirar dividendos políticos das "extraordinárias" medidas que implementa. Muitas delas coxas de nascença como se revela em alturas de crise.
Não espero que este Ministro tire daqui algumas conclusões. Espero sim que se agarre ao lugar como o fez várias vezes em que esteve metido em broncas que levariam qualquer responsável político a pedir a demissão. Pode ser um excelente professor de direito, mas devia estar no seu gabinete de catedrático a pensar naquilo que os professores catedráticos pensam. E na maior parte das vezes pensam na forma de satisfazer o seu ego aceitando lugares de ministro, uma vez que ser catedrático apenas dá algum reconhecimento no meio académico.
Quando saiu para o mundo real, o mundo das decisões e da capacidade de realização revelou-se desfasado, incongruente e completamente incapaz.
Está bem para este governo em que provavelmente até se pode destacar pela positiva. Tal como o ministro do Ambiente (temos um não temos?)