E mais uma vez...

Se comprova a excelência das planeadores nacionais.

Fiquei fascinado ao ouvir a explicação do MAI acerca da falha de serviço nos sistemas de apoio às eleições.

Cidadãos que aderiram ao Cartão do Cidadão viram-se impossibilitados de descobrir em que mesa de voto deviam exercer o seu direito de votar.

Chegados à mesas descobriam que o sítio de sempre afinal tinha mudado e que agora tinham de dirigir-se à Junta de Freguesia para saber o novo local.
Em cada assembleia poderia (aliás, deveria) existir um PC com um Smart Card Reader e uma forma de poder pelo menos informar esses cidadãos.
Pode ter acontecido que eles até votassem nessa assembleia, mas não havia forma de os procurar nas listas na falta do nº de eleitor.

Mas não. À boa maneira Nacional Burocrática tinham de ir à junta de Freguesia.

Ao tentarem fazer isto deparavam-se não só com filas de espera mas também com a impossibilidade de o saber, porque os pedidos em massa puseram os sites em baixo.

O director geral afirmou que isto se devia a um número anormal de pedidos.
Duh!  Um prémio para este génio por favor.
É como aparecer alguém da SIBS a dizer que a rede foi abaixo no Natal porque houve muita gente a fazer pagamentos. Como se não pudessem antecipar esse tipo de comportamento.

A explicação poderemos encontrá-la em mais uma enorme falta de planeamento. Como se pode dizer que a responsabilidade é só dos cidadãos quando sabemos e podemos planear antecipadamente a forma como eles se vão comportar?
Como é possível que perante uma eleição em que é expectável que muita gente fique sem saber onde vota e não se reforce a capacidade de resposta dos sistemas?

Há coisas que são previsíveis: Filas nas estradas do Algarve e para o Algarve em período de férias, uso da rede Multibanco no Natal, uso das redes de telecomunicações no Natal e Ano Novo devido aos SMS enviados, sistemas das finanças nos últimos dias dos prazos.
Sites ligados ao processo eleitoral em dia de eleições...

Não prever isto e não planear para isto é um atestado à incompetência total dos responsáveis por estes organismos. Não às equipas, que não raro lutam com a incompreensão das chefias e com o seu total alheamento da realidade. Mas um responsável de serviço que fizesse uma cagada destas numa empresa com sistemas criticos iria ter muita dificuldade em manter o lugar.
Imaginem um responsável se IT do Continente a ter de enfrentar a ira do Belmiro de Azevedo por ter deixado em baixo o sistema das caixas...

Ainda me lembro há uns anos (ainda nos tempos de Guterres) que se lançou um site (alojado nos Serviços de Informática do Min da Justiça) que iria ter em tempo quase real os resultados das eleições (não me quero enganar mas acho que foi das autárquicas que "levaram" Guterres a demitir-se). Claro que os génios não se "lembraram" que ao ter um site assim, que ele iria ser bombardeado pelas televisões e pelos portugueses com acesso, que apesar de não serem muitos já eram uns bom milhares.
Adivinhem o que aconteceu... O site aterrou na primeira hora. "Levantou-se" no outro dia de manhã.
Sabem o que aconteceu ao responsável? Nada.

Deve andar por aí num organismo estatal qualquer a bater no peito cheio de orgulho e a dizer que ele foi o 1º que fez isso em Portugal. E é verdade. E foi também o primeiro a mostrar a nível nacional o quão básico e negligente se pode ser. Apesar de todos os avisos espetou-se em cheio no chão.



De cada vez que as tecnologias de informação estão envolvidas o estrondo é enorme: Eleições, Portagens, Impostos, Concursos etc etc.

Não será um caso flagrante de ter as pessoas erradas nesses lugares? Não será um caso flagrante de torrar milhões em consultorias que pura e simplesmente não fazem aquilo que deviam? Pelos exemplos que eu conheço, esse é exactamente o problema....

Quer-me parecer que é. Ao fim de tanto tempo e de tantas asneiras nesta área, quer-me parece que é.

Este Cartão do Cidadão que levou tantos portugueses a esperar em filas para o poderem obter, não é mais que uma tolice no seus aspectos práticos. Não haver um plano B é totalmente idiota. Se com um número apenas eu pudesse ser identificado este belo cartão ainda faria sentido (BI, Carta, NIF, Passaporte, Eleitor etc etc). Mas para que quero eu um cartão que tem um número e que depois no chip tem todos os outros números? E para que o quero se quem precisa de saber essa relação não tem um simples leitor de Smart Cards? Passo a levar um portátil com um leitor de cada vez que vou a algum lado?

Dantes, com os meus documentos, poderiam saber toda a informação. Agora, só com um cartão, poderiam saber ainda mais... partindo do principio que haja um PC com ligação à Internet.

Os meus parabéns para as cabeças pensantes deste país. Ficámos atrás dum país do 3º mundo no que diz respeito à condução logística dum processo eleitoral.

Isto é bem mais do que idiótico. Isto é o exemplo acabado da incompetência, negligência e total desresponsabilização das entidades que gastam milhões em ideias como estas para se ter resultados assim.
Desta vez tornou impossível a muitos portugueses votar. Nem que fosse apenas um já seria grave, mas aparentemente foram muitos mais que manifestaram a intenção de votar e não o puderam fazer.

Parece haver falta de tudo neste "estado". Inteligência, competência, vergonha e responsabilidade.
Algo está mal, muito mal.

PS. Uma pequena sugestão... Imprimam no cartão os números que podem ser lidos do chip. À falta de leitor há um Plano B.
Mas pergunto eu... Se o chip (que não sei quantos Kb leva) não tem o número de eleitor, BI, NIF, SS, para que serve verdadeiramente? Já é um bocado estranha a sua utilidade se não existe uma consolidação de números.
Porque não podemos votar com o nº do BI? Para que serve o número de eleitor? Porque não posso ter um nº de identificação fiscal que é o mesmo do BI? Tantas perguntas que se calhar só têm uma resposta: è muito complicado e os diversos organismos nunca aceitariam...