Porquê empenharmo-nos? Porquê?

Muita gente me pergunta de onde vem o meu empenho nas questões relacionadas com a política.

A resposta é simples. Ora leiam...

Tive a sorte de viver grande parte da minha vida numa democracia. ou pelo menos assim pensava.

Como muitos da minha idade dei como adquirido que o regime seria perpétuo. Ignorei muitos sinais e pensei que podia sonhar com uma progressão natural do nível de vida para mim e para os meus filhos.

Foi isso que pensei quando comecei a trabalhar no fim dos anos 80. Na minha cabecinha  jovem e ingénua essa era a ordem natural das coisas.
Tínhamos passado por um período em que o furor revolucionário se tinha esvaído e em que o país ia finalmente deixar de ser periférico numa Europa em crescimento.

Rapidamente percebi que só o esforço e o mérito não chegavam. Era preciso mais qualquer coisa. Mas mesmo dando atenção ás questões políticas e sociais que me rodeavam ainda acreditava que o sistema tendia para o equilíbrio e que esse equilíbrio seria a aproximação do nível Europeu.

Assisti à bolha da Internet durante os 90 com alguma preocupação. De repente o  país tinha deixado de se preocupar em criar e achava que podia viver simplesmente dos "investimentos".

Começou a loucura do consumo. Estava a crescer desmesuradamente no fim dos 90. Quem não tivesse um carro de luxo (coisa que parecia impossível a pessoas da geração dos meus pais)  não era ninguém. Foi aqui que comecei a realmente a preocupar-me com o que podia esperar-nos.

Achei que tinha de ter uma palavra na escolha do meu destino. Já tinha filhos e isso muda radicalmente a forma de olhar para o futuro. Já não somos só nós. São também aqueles que pusemos no mundo. Temos uma responsabilidade para com eles.

Com Guterres fiquei assustado. Mais ainda quando o meu trabalho me fez conhecer por dentro a administração pública central.
Fiquei aterrorizado com o nível de displicência e de incompetência que grassava por todo o lado.
Conheci "rosas" em lugares destacados da adm. pública. Não sei o que mais me fazia detestá-los. Se era a sua completa incompetência se a sua desonestidade. Todos tinham um outro "negócio" lateral.

Conheci professores universitários que usavam recursos das universidades e que os "vendiam" nas suas "empresas". Conheci directores de serviços que tinham negócios de "consultoria" que lhes forneciam serviços.
Conheci directores que se rodeavam de "estagiários" que traziam das suas turmas nas Universidades onde lecionavam.

Durante anos percebi até que ponto se podia minar o aparelho de Estado retirando dele todos os que tendo algumas competências não eram da "cor" certa. Neste processo, o fingir que se faz é muito mais importante do que o fazer.
Até porque assim o esforço é menor e a retribuição no fim continua lá.

Gente desta minou o estado com Guterres e o seu partido cleptómano. Comparava-os a uma praga de gafanhotos. Destruíam tudo à sua passagem. Secavam tudo.

As iniciativas eram apenas determinadas por questões de ego ou de rivalidade. Não havia realmente um objectivo concertado e estratégico. Os serviços estavam à mercê dos medíocres dos preguiçosos e dos egocêntricos.

Muitas vezes cheguei a casa enojado com o que via durante o dia de trabalho. Mas não era só pelas atitudes a que assistia, mas por perceber até que ponto a mentalidade vigente era aquela e com enorme tendência para alastrar.
Bastava ter alguém amigo a passar a voz de que alguém era um excelente profissional para que de repente todos achassem isso. O sentido crítico perdia-se completamente.
As empresas contratavam profissionais apenas olhando para CV's completamente aldrabados. Nem seuqre se davam ao trabalho de confirmar algumas das coisas mais fáceis de verificar.
Vivíamos no meio duma enorme fraude. E era óbvio nessa altura que iríamos pagar essa fraude de forma muito contundente.

Era claro para mim que a atitude de afastamento às questões da política não podia continuar. Não me podia ficar só por ir votar de vez em quando. E só quando dava jeito.

Quando Sócrates chegou ao poder navegando na mentira e mistificação do deficit fiquei realmente apavorado. Lembro-me de pensar com espanto como raio uma estimativa confirmada pelo Governador do Banco de Portugal podia ter precisão até ás centésimas (6.83% ???).

Ele era a encarnação da mediocridade e da demagogia que tinha conhecido por dentro durante os governos de Guterres. Era o pior que o partido tinha para dar. Mas a cobardia e o deslumbramento de Durão Barroso deixou a porta escancarada para um mentiroso entrar. Santana foi apenas um episódio. Mas foi "espancado" até à exaustão pelos media.
Sócrates juntamente com outros ineptos conhecidos que obviamente se lhe juntaram, como Lacão, Assis ou Silva Pereira lançaram as bases para aquilo que temos hoje.

Fiquei ainda mais assustado. Infelizmente tinha razão.
Vi rapidamente que aquilo que me parecia possível (um colapso do país), ainda que distante, se tornava iminente.
Nunca pensei que perante a possibilidade da destruição de um país pudéssemos ter um governo que respondia apenas com propaganda e com mentiras adiando sempre para amanha as tão necessárias mudanças.

Podiam tê-lo feito se não tivessem querido encher os bolsos de empresas amigas (e seguramente os seus) com PPP's ao mesmo tempo que mostravam "obra feita" para ganhar as eleições seguintes.

Sócrates sempre soube que não seria ele a pagar tudo isto. Sempre soube que no estado em que o país se encontrava, a melhor forma de sair ileso era a de ser ele a provocar uma ruptura com a oposição.
Ele não é propriamente um burro. Ele é sim, alguém especialmente inteligente que sempre se encostou à espertice mais que ao mérito.
Tudo na vida foi conquistado assim, desde a sua mais que suspeita licenciatura até ao lugar de 1º ministro. Cedo percebeu na sua vida que mais valia pedir desculpa depois de mentir do que ser honesto logo à partida.

Perante tudo isto, ser empenhado é um imperativo de consciência.
Fazer tudo para por estes tipos na rua é um dever de cidadania. Não se pode ficar especado à espera que os outros resolvam os problemas. É preciso agir.
É preciso ser exigente. Com os governantes, com nós próprios, com os nossos filhos. Se defendemos o mérito e o esforço temos de ser os primeiros a dar o exemplo.

Quando os meus filhos (já em idade de votar) me dizem que não sabem o que fazer, remeti-os para os programas dos partidos que estão na liça. Tentei obviamente defender o meu ponto de vista mas dou-lhes a opção de escolha.  No entanto sou responsável pela sua formação e não poderia deixar de lhes passar o que estes 6 anos de PS significaram para a minha família. Nos esforços que tivemos de fazer para enfrentar o aperto de cinto.
Naquilo que foi a violação mais bárbara dos princípios democráticos. Desde a tentativa de silenciamento da imprensa até à tentativa de subordinação do poder judicial.
Disse-lhes tudo isto e mais.

Tenho uma visão política muito mais informada do que um jovem de 19 anos. É meu dever dizer-lhes os meus motivos para tomar uma opção. E muito francamente é mesmo preciso fazê-lo sob pena de que uma parte da história recente seja perdida.

Não omiti nada do que foi o Bloco de Leste, ou do que é a ausência de componentes fundamentais dum estado social solidário num país como os EUA.

Não é o tipo de informação que eles sintam necessidade de procurar. É-lhes muito mais fácil embarcar cegamente no paleio de demagogos dissimulados como Louçã ou de lobos com pele de cordeiro como Jerónimo. A verdade que eles lhes servem é uma versão muito especial da verdade.
Antes de alguém se achar um jovem comunista, é bom que saiba o que foi a Stasi ou a NKVD e o KGB. É bom que saiba o que são as grandes linhas de mudança da sociedade levadas a cabo por Ceausescu Kim Il Sung ou Mao.

Se vocês não o fizerem, ninguém o fará por vós e apenas uma pequena percentagem dos jovens vê para lá do seu umbigo.
Estão á rasca depois de terem curtido no secundário e terem ido parar a um curso superior inútil. Estão decepcionados porque vêm o seu sonho de uma vida de glamour sem esforço ir pelo cano abaixo porque aprenderam uma montanha de inutilidades num ensino pouco exigente.

É o nosso papel evitar que isto seja assim. Os princípios da empatia, do mérito, da humanidade e da honestidade começam em casa. Isso quer queiramos quer não é o nosso 1º dever de cidadania.

O 2º é não deixar que gente sem estas qualidades seja eleita para gerir este país.

Better to fight for something than live for nothing.
George S. Patton.