A liberdade
A Universidade Católica resolveu recomendar aos alunos que se apresentem decentemente vestidos nas suas instalações, de acordo com aquilo que se exige a pessoas que estão no Ensino Superior e sobretudo numa universidade privada da igreja.
Saltaram imediatamente a terreiro bloggers que viram no curtíssimo documento um incitamento à delação, uma repressão da liberdade individual dos jovens e uma intrusão inaceitável nos seus gostos e na sua vida privada.
É curioso como estes argumentos são sempre usados de cada vez que uma empresa ou uma outra qualquer instituição comete o "deslize" de sugerir um código de vestimenta.
Como se fosse razoável para alguém que frequenta uma universidade privada, cara e prestigiada, apresentar-se de chinelas de enfiar no dedo, calções e uma qualquer t-shirt com os mais bizarros dizeres.
Pergunto-me se algum dos estudantes de dessa universidade no curso de direito, tem o atrevimento de se apresentar assim a uma oral.
No meu tempo ia-se á orais de gravata e fato para os homens e com algum cuidado na vestimenta no caso das raparigas.
Aliás, no meu tempo seria impensável alguém andar a passear-se pela cidade de chinelas de enfiar o dedo. Isso estava quanto muito reservado para a praia. Perdeu-se completamente o sentido de decoro. Perdeu-se a noção de que a nossa liberdade acba quando começa a dos outros.
Só há direitos. Deixou de haver deveres.
E se no caso presente a sugestão é deveras branda, eu diria que sendo a universidade uma instituição privada, pode muito bem decidir a terminação da frequência de um aluno que não se apresente vestido de forma decente.
Assim o fazem outras universidades de prestígio por esse mundo fora.
Se os meninos querem ir de xanatas e camisolinha de clube de futebol, talvez seja boa ideia pensarem em ir para uma outra universidade do Estado onde os responsáveis se coíbem de qualquer gesto que se possa confundir com uma violação do politicamente correcto.
Todos os dias me deparo com gente vestida de formas que me levam a pensar que ou têm problemas de visão ou que não têm qualquer espelho em casa.
Rapazolas com calças com a virilha ao nível dos joelhos, moçoilas com uns pneus de meter medo aos 14 anos a sobressair entre uma t-shirt manhosa e uma saia claramente 3 números abaixo. E xanatas. As malditas xanatas brasileiras. Flip Flops como lhe chamam os Americanos. O pináculo da ordinarice na vestimenta.
Obviamente os pais destas criaturas nada se preocupam com a aparência dos filhos. Provavelmente compram-lhes roupa cara que os faz parecer porcos e descuidados.
Estes jovens irão aprender da pior maneira quando chegarem ao mercado de trabalho (se alguma vez o fizerem). As primeiras impressões contam tremendamente. A forma como nos tratam decorre quase directamente da 1ª impressão. Muitas vezes isso muda com o tempo e com o convívio com as pessoas, mas para isso é preciso que haja mais que uma oportunidade.
Já fiz entrevistas a candidatos que se apresentam de forma incrível. Numa situação de responsabilidade e extremamente importante para eles - um emprego. Se vão a uma entrevista de emprego como vão beber umas bejecas na tasca da esquina mais vale que fiquem pela tasca da esquina.
Entrevistei um com uma carapinha rasta, feita de tranças num cabelo que não devia saber o que era uma lavagem havia anos. Cheirava mal. Um misto de suor e cheiro a pé. O que era espantoso já que estava de xanatas. Com os pés completamente encardidos.
Era um génio (nas suas palavras...). A um génio tudo se atura não é?
Com piercings que fariam disparar qualquer detector de metais num aeroporto. E no fim dizia-me que não "curtia" a "cena" da autoridade. Preferia ser ele a decidir o que fazer e quando fazer.
Perguntei-me quanta erva é preciso fumar para ir a uma entrevista de emprego naquele preparo e esperar que alguém o contrate... Quem é suficientemente corajoso para por um piolhoso daquele calibre a trabalhar numa empresa?
Nunca mais me esqueci da criatura. Assumo que hoje ainda andará à procura de emprego.
Preferem fingir que a sociedade e as regras de comportamento esperadas não existem. Sejam elas certas ou erradas, existem.
E ou se aprende a viver com elas ou se fica de fora. E as mudanças sociais nunca foram feitas por quem esteve à margem da sociedade. Do lado de fora a olhar para dentro. Nunca se esqueçam disso.