O Desvio
A triste realidade é incontornável. A cada cêntimo que nos foi tirado em impostos, os governos anteriores gastaram -no todo e ainda pediram emprestado para gastar mais.
Um poço sem fundo sem transparência e sem resultados.
Passos Coelho quer evitar a todo o custo desresponsabilizar-se apontando a pesada herança como limitadora da sua governação.
Mas é impossível não o fazer. Sobretudo quando essa pesada herança motiva um desespero de angariação de receita para o ano de 2011.
O desvio orçamental anda pelos 2 mil milhões de Euros. E este tipo de desvio não se pode só resolver com cortes na despesa durante o ano de 2011. Esses cortes que serão inevitáveis só têm expressão meses depois da sua implementação. Por outro lado a receita é imediata, ainda que correndo o risco de causar mais recessão e abaixamento do consumo com consequências directas na receita fiscal.
Mas mesmo assim, a cada medida nesse sentido o governo é acusado de que as medidas não têm expressão e foram meramente simbólicas.
Assim foi com a dimensão do governo, ou com a não nomeação de novos Governadores Civis, ou com a poupança que pode significar o aumento de um grau de temperatura num ministério.
É tudo simbólico. Mas com estas poupanças todas somadas poderemos chegar a um valor que é tudo menos simbólico. Muito rapidamente as coisas podem começar a ter valores da ordem dos milhões de Euros.
O problema é que o polvo e de tal forma grande que só perceber o que se gasta é uma tarefa de meses. Todos os dias se percebe que há algo de errado num ministério. Sejam os negócios ruinosos com o património do Ministério da Justiça, sejam contratos absurdos de serviços ou parcerias com privados que garantem milhões em lucros em prejuízo do Estado.
Quando este levantamento for feito e, queira Deus, quando houver coragem para acabar com os abusos, o país poderá começar a ver que o Estado mais não era do que a caixa onde milhares e milhares de pessoas e entidades levantavam os seus belos maços de notas. Em troca de nada.
Na conferência de imprensa do Ministro das Finanças percebeu-se até que ponto este ministro é diferente de Teixeira dos Santos e do seu optimismo bacoco e deslocado.
As suas cautelas nas previsões, a sua calma quase desconcertante e a forma como passa a ideia de que sabe o que está a fazer, contrasta com o tom fantasista de Teixeira dos Santos. Fica evidente que este ministro percebe que cada medida pode causar efeitos colaterais contrários, enquanto que com Teixeira dos Santos, os efeitos colaterais pareciam nunca existir.
De tal forma foi essa a maneira de orientar o país, que mesmo nos últimos meses duma governação criminosa, se conseguiram pulverizar os objectivos da execução orçamental.
Como se esse desvio não viesse a ser notado quase imediatamente a seguir. Como se os expedientes de esconder obrigações do Estado para com fornecedores não fossem expostos meses depois.
Parece coisa de miúdos. Não consigo perceber como é que Sócrates achava que isso nunca viria à superfície. Provavelmente achava que se ficasse mais um mandato conseguia ocultar e resolver o problema durante mais 4 anos.
Os governos anteriores tudo fizeram para esconder e manipular a informação, mantendo os portugueses num estado letárgico durante anos. Enquanto o seu ascendente nos órgãos de comunicação foi uma realidade, vivíamos num oásis. Essa fantasia acabou da pior maneira. Ainda que tenhamos hoje um PS apostado em desviar as atenções ou em fazer apelos ao silêncio por causa dos mercados.
Gente como Assis e como Seguro assistiu a toda a bandalheira do lado de dentro. Sabia que ela existia e era cúmplice com ela.
Hoje, quando postos perante a dura realidade, tenta negar as evidências ou pega em detalhes absurdos para desviar as atenções.
É necessário que se diga o que o PS fez ao país durante os 6 anos de Sócrates e durante os anos de Guterres. Tornaram o país praticamente inviável.
Não houve uma única reforma estruturante do Estado que tivesse sido levada a cabo. Fingia-se que se fazia e fingia-se que se era competente a fazê-lo.
Essa realidade foi posta no colo de Passos Coelho e deste governo. A quem agora atribuem culpas mesmo que se saiba que está no poder há um mês.
Ora é porque ainda não há medidas de corte na despesa, é porque vai aumentar o IRS este ano, porque deixam de se usar gravatas no Ministério do Ambiente do Mar e do ordenamento do Território, porque se corta nos Governos civis, ou porque tem muitos secretários de Estado no Ministério da Economia.
A imprensa continua a não conseguir evitar mostrar a sua simpatia pelo PS de Sócrates. A mesma imprensa que no fim do seu "reinado" disse as piores coisas dele e da sua governação.
Seja como for, se Passos Coelho não pode ou não quer falar da pesada herança, eu posso.
O que temos pela frente é o resultado da incompetência, desonestidade e puro roubo do Estado levado a cabo por Sócrates, pelos seus ministros e pelos seus amigos.
Roubou-se ao longo destes anos mais do que se pode imaginar. O Estado distribuiu dinheiro a quem não devia e tirou a quem tinha direito a ele.
Mentiram, ocultaram e manipularam as contas do Estado e a informação. Num país virtualmente falido gastou-se dinheiro em contratos ruinosos para o Estado, sabendo que a situação, se durasse, iria causar a falência do país.
E é isto que este Governo tem de endireitar. Com o nosso dinheiro.
É isto que o PS, Assis e Seguro temem que entre na cabeça dos portugueses. É disto que eles têm um real pavor - que apareça alguém que consiga ser competente, honesto e trabalhador e que exponha aos olhos de todos a porcaria que eles são.
A única coisa que sabem dizer perante as declarações de que o buraco é imenso é de que isso é contrário ao interesse nacional porque pode ter repercussões nos "mercados" internacionais.
Não deixa de ser curiosa a receita quase infantil proposta por este PS. É curiosa porque é a mesma de sempre.
De cada vez que alguém apontava as asneiradas que faziam era acusado de anti patriota, pelos efeitos perversos que isso podia causar nos mercados internacionais. Como se os mercados não olhassem para o avolumar de dívida ao ritmo demente dos governos de Sócrates.
Aquilo que os mercados vêm hoje é um dívida colossal de um país que em nada se reformou e que passou anos a fingir que fazia alguma coisa. Que gastou muito mais do que tinha para brindar os votantes com inutilidades ao mesmo tempo que metia milhões nos bolsos de empresas que vivem quase exclusivamente da mama estatal.
Qualquer pessoa com dois dedos de testa (e não precisa de ser analista financeiro) percebe que o risco de falência do país era enorme com o crescimento da dívida e com um crescimento da economia absolutamente estagnado durante 10 anos.
Entre o absoluto vazio das declarações de Seguro e a argumentação imbecil de Assis, o PS continua o mesmo. Mentiroso, sem substância e agarrado a uma matriz ideológica que deixou de ter nos anos 80.
Pretender que o PS é de esquerda, ou que as suas políticas são de cariz "mais social" do que quaisquer outras que o PS+CDS possam por em prática, é passar um atestado de burrice aos eleitores.
A ideologia defendida por este PS (tal como noutros partidos, acrescente-se) é a cleptocracia. O enriquecimento rápido e desmesurado à custa dos contribuintes. O tráfico de influências e a promiscuidade entre o sector empresarial e a política. A troca de favores por lugares simpáticos nas empresas sobre as quais se decidiu.
Isto sim é a ideologia da maior parte dos partido neste país, com o PS numa honrosa linha da frente. Ter dois candidatos à liderança de um partido que se caracterizam por ter vivido da política toda a sua vida adulta diz muito do que é o PS dos nossos dias.
Percebe-se bem a estirpe de líderes que pode um dia tomar decisões no nosso país.
Fonte: Henri Cartoon