Estamos confusos?
Afinal os gregos saem à rua e partem tudo, os espanhóis parecem cães danados, os americanos puxam da arma e matam 10, os noruegueses, finlandeses e outros fleumáticos passam-se e fazem asneiras consideráveis. Mas nós não fazemos nada. Nada. É alguma coisa que nos deitam na água?
Fazendo um exame (não muito profundo) a tudo o que vejo à minha volta acho que percebi.
Estamos confusos. E como tal nem sabemos o que fazer.
E não é nada difícil estar confuso com a informação que nos chega. É contraditória e superficial, vive de opiniões e muito pouco de factos e não passa muitas das vezes duma enorme tempestade de ruído na qual nem conseguimos perceber bem o que se passa.
A confusão começa quando se ouve um tal de Barroso numa entrevista por Mário Crespo a dizer que os media são dominados pela direita (???). Segundo ele, uma direita tão reaccionária que nem ela está contente com este governo. Por isso o ataca.
A esquerda ataca tudo. O governo, o anterior governo e o que há-de vir a seguir. Espera ansiosa ter razão: Que o país se desmorone com a austeridade.
O que não deixa de ser caricato porque numa circunstância dessas o que vai sobrar é mesmo a satisfação de terem razão. Não sobrará mais nada.
Depois temos alguém a dizer que afinal as coisas estão a correr bem com as exportações que subiram 13% em relação a igual período do ano anterior. Importamos menos e exportamos mais. Bom sinal.
Mas aparecem os senhores do ramo automóvel a dizer que as vendas dos carros estão pela hora da morte e vai ser uma hecatombe. Talvez as importações a menos sejam também elas uma consequência da menor compra de carros. Isto sou só eu a especular.
Sabe-se que 40% dos desempregados estão ligados ao sector imobiliário. "Industria" única e aparentemente sem fim, que acabou. Isto depois de um tal de Cavaco Silva ter dito enquanto era primeiro ministro que essa indústria era a nº 1 do país. Aí tem sr. Cavaco o que dá rebentar com todos os sectores produtivos do país e deixar a construção em 1º lugar. Chega a uma altura já nenhum português precisa de casa. Já temos 1.5 por português.
Isto para logo de seguida algumas imobiliárias de grande dimensão virem dizer que há retoma no mercado de habitação (??). Com os bancos a conceder muito pouco crédito. Devem ser o portugueses que pouparam tanto dinheiro neste último ano que já podem comprar casa sem precisar do banco para nada.
Hoje também a Ministra da Agricultura resolve arranjar um fundo para os agricultores não estarem sujeitos a problemas naturais ou outros que ponham em causa as suas produções. Sabemos bem que se o granizo destruir um pomar de maçãs, os portugueses que as produzem ficam contentes porque recebem o dinheirinho pelas maçãs e os outros ficam satisfeitos em ter pago as maçãs e não as comer. O mesmo acontecerá com carne que não comerem, com os tomates, os cereais e as hortaliças. Separa-se o gasto em alimentação daquilo que se come. Podemos manter o gasto e não comer nada. O gasto em produtos alimentares foi pagando numa qualquer taxa inventada para compensar os agricultores. Que no fim não produziram alimentos por uma razão qualquer a que são alheios.
Se a política agrícola comum é uma estupidez pegada, estas ideias nacionais não se ficam nada atrás. Em vez de reflectir o risco nos preços dos alimentos, pagamos uma taxa para compensar esse mesmo risco. Já alguém se lembrou de uma coisa chamada seguros de colheita? Nós pagamos o seguro é?
E que tal uma taxa para um fundo que compense os portugueses que tenham problemas de saúde?
Ah, é verdade já pagamos. E o fundo obriga-nos a pagar outra vez se precisarmos. Esquema bem bolado.
Soubemos também que ter obras de escolas a custar o dobro do que estva planeado é uma coisa normal e desejável até. Na verdade é uma festa. E o que se sabe é que o custo por metro quadrado dessas obras só foi um pouco mais caro que o planeado. Então a diferença entre o custo do metro quadrado e os mais de 100% de derrapagem foi gasto em quê? Se não foi no custo do metro quadrado ter-se-à evaporado?
Não temos tido notícias da desgraça que foi colocar o golfe com 23% de IVA. Não se tem ouvido falar de campos de golfe a fechar. Ou então se fecham fazem-no silenciosamente. Mas o que eu vejo é que o nosso turismo (e não é o do golfe) continua a achar que vivemos num país de gente rica e abonada pedindo preços absurdos e incomportáveis para uma família. Ainda mais que neste país muitas delas ficaram sem um ou dois subsídios de férias. Mas continuam a dizer que estão cheios na Páscoa, no Verão e se calhar até no Inverno. Esses parecem não estar a passar por crise nenhuma. Só o golfe.
A seca severa já passou. Nunca mais se ouviu falar disso e o país já se estava a preparar para tomar banho uma vez por mês. As chuvitas de Abril resolveram o problema por inteiro. Já deve haver abundância e água. Que vai subir de preço. Por uma questão de equidade. Por uma vez na vida gostava que a equidade fosse para abaratar qualquer coisa em vez de ser para a tornar mais cara. Se calhar se se deixassem de merdas e não privatizassem um serviço fundamental como esse, se se livrassem de toda a parasitagem que vive nessas supostas "empresas" talvez conseguissem gerir a coisa pública de forma mais eficiente e isso poderia baixar o custo desses recursos.
É quase impossível descortinar o que quer que seja num país de chorões, de mentirosos e de tolos. É uma overdose de informação inútil que consegue manter toda a gente desinformada. De tal forma que a única coisa que nos resta é esperar que a desgraça não nos chegue na forma de desemprego ou doença. Talvez por isso poucos se manifestem. Devem pensar que se o fizerem, e com o proverbial azar nacional, Deus ou o Diabo olhem para eles e digam - Olha, ali está um que eu não tinha reparado. É para já...