Sousa Tavares, o fala barato

Quando há uns dias atrás escrevi um post a desancar a falta de rigor e seriedade de Sousa Tavares confesso que pouco mais sabia dele do que aquilo que as suas aparições televisivas me trazem para dentro de casa.

Tinha lido o Rio das Flores e achei-o um livro superficial, pouco apaixonante e muito aquém do alarido que se fez à volta da obra de MST.

Mas depois pensei - Alarido?.... hum... Porque é que houve alarido? Por o livro ser bom ou por outra coisa qualquer?

E fui à caça. Encontrei em duas situações distintas referências a MST que confirmam, e de que maneira, aquilo que eu achava dele. Um desbocado muito pouco preocupado com a realidade e muito pouco apoiado em factos.
A mundo parece ser para MST um casulo em que a única verdade existente é a sua. Não é raro.
O que é raro é os media darem cobertura a alienados deste calibre todos os dias da semana.
Tem tratamento. Hoje já há fármacos que controlam estes problemas psicológicos com verdadeira eficácia. Demora até acertar a dosagem mas chega-se lá.

O 1º caso é este: http://blogtailors.blogspot.pt/2007/11/polmica-pulido-valente-sousa-tavares.html

A critica ao romance Rio das Flores é demolidora. Destaco este excerto apenas porque é exactamente o comportamento de MST nos seus comentários. Completamente desligado da realidade

O uso das fontes e "peças de jornalismo"
Para além das "meditações" sobre política (sob forma de polémica ou não), Sousa Tavares precisa de "encher" o romance, de o "enchumaçar". Para isso, usa fontes. Na história, como na ficção histórica, as fontes devem servir para suportar uma narrativa ou um argumento, esclarecer um ponto obscuro, excepcionalmente para uma descrição com valor alegórico, metafórico, simbólico, analítico ou dramático. Nunca devem servir para uma simples paráfrase ou como uma espécie de reservatório de elementos decorativos, para dar "cor" a um episódio, à maneira do jornalismo de "revista". Infelizmente, é assim que Sousa Tavares sistematicamente as usa. Há passagens que quem se deu ao trabalho de ler a bibliografia percebe muitas vezes donde foram "tiradas". Segue uma lista:
1.º Uma tourada em Sevilha. Sousa Tavares não estava com atenção quando "estudou" a fonte e confunde a capa (ou capote) com a muleta. Daí em diante é o puro disparate.
2.º História abreviada do Palácio Real de Estremoz.
3.º Descrições de vários automóveis.
4.º Descrição do voo de um Zeppelin sobre Lisboa.
5.º Opiniões do embaixador inglês (em 1929) e do sr. R.A. Gallop sobre os portugueses.
6.º Breve história do restaurante Tavares Rico.
7.º O cinema em Lisboa no princípio dos anos 30.
8.º Descrição dos efeitos da crise de 1929 em Portugal.
9.º Descrição de um Zeppelin.
10.º Descrição e história do hotel Copacabana Palace.
11.º Nova descrição de hotéis e de alguns cafés frequentados por intelectuais no Rio.
12.º Preparativos para a Exposição do Mundo Português e obras da referida Exposição.
13.º Economia do café no Brasil.
14.º Descrição e história da fazenda Águas Claras.
15.º Diatribe contra intelectuais brasileiros que colaboram com Getúlio Vargas.
16.º Algumas notas sobre a família Werneck.
17.º Descrição e história da cidade de Vassouras.
18.º Descrição da querela entre Salazar e Armindo Monteiro.
19.º História da demissão do vice-cônsul de Portugal em Vichy (depois de preso pela Gestapo), recomendada por um terceiro secretário de embaixada, Emílio Patrício.

A maior parte destas digressões não tem qualquer função na narrativa: não passa de um ornamento "colado" à narrativa. E a pequena parte que tem uma função podia ter sido reduzida a uma frase ou a meia dúzia de linhas. Sousa Tavares não diz nada indirectamente: não sugere, não insinua, não omite. Não escreve como quem escreve um romance, escreve como quem escreve um relatório: directamente, com a mesma luz branca e monótona para tudo.
Lendo o Rio das Flores, uma pessoa sente claramente quando entrou a "ficha" (de informação) sobre isto ou sobre aquilo. E o peso das fichas torna o livro pueril como um "trabalho de casa". Mas também o desequilibra. A interminável quantidade de páginas sobre, por exemplo, os Zeppelin, a política brasileira (em que Diogo não participa) ou as belezas de Vassouras são meras curiosidades, que estão ali porque estão, e atenuam ou dissolvem a já fraca intensidade do romance.
(...)
Sentenças
De quando em quando, Sousa Tavares gosta de dar a sua sentença. Para apreciar a sua profundidade e a perspicácia, aqui vão algumas:

1.º "... O Corpo Expedicionário Português fora dizimado em dois dias de Abril à mais imbecil estratégia militar de todos os tempos - a chamada guerra das trincheiras..." Morreram 9 milhões de pessoas porque ninguém (pelo menos tão inteligente com Sousa Tavares) descobriu que a guerra de trincheiras era imbecil.

2.º "... numa Europa ainda mal refeita dos efeitos catastróficos da imbecil guerra de 14-18..." E pensar a gente que se gastou tanto tempo a tentar perceber uma "imbecilidade".

3.º "... toda a elite nacional de então, continuava a alimentar a lenda do regresso desse patético rei D. Sebastião - o mais imbecil, incompetente e irresponsável governante de toda a história de Portugal." Isto é o que Sousa Tavares compreende de D. Sebastião e do sebastianismo.

4.º "... o poeta (Fernando Pessoa) retirava-se (...) dedicando-se (...) à escrita da mais extraordinária obra literária que Portugal alguma vez tivera." Nada de discussões.

5.º "A lista dos intelectuais que militaram pela causa da esquerda espanhola era absolutamente impressionante - não havia, praticamente, um escritor, um músico, um filósofo prestigiado, um Prémio Nobel, que lá não figurasse..." Palavra de honra?

Estes juízos não são percalços, são sinais particularmente cómicos da imaturidade e presunção que permeiam o livro inteiro.
Obviamente que isto é uma crítica do livro. Demolidora, sem dúvida, mas denota que as manias de MST no dia a dia são claramente passadas para o livro. MST é um cagador de sentenças que nada se preocupa em verificar a verdade dos factos. O desastre é total.

Num outro caso é uma análise de um escrito do mesmo MST , chamado Fact Check #1 no Blog Blasfémias

E aí está ele de novo a cagar sentenças sem sequer se ralar de mentir despudoradamente

No último mês de Dezembro, Miguel Sousa Tavares publicou um artigo laudatório do antigo Primeiro-Ministro José Sócrates, com o título O Fantasma de Paris,  que tem sido replicado em vários blogues socratistas. Raras vezes vi um artigo com tantos erros factuais. Só na primeira metade do artigo, temos isto:
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 (…) José Sócrates começou a governar em 2004, recebendo um país com défice de 6,2% (…)
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Começou a governar em Março de 2005 e recebeu um défice de 3,4%.
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(…) após dois governos PSD/CDS, numa altura em que não havia crise alguma nem problema algum na economia e nos mercados. (…)
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Portugal esteve em recessão em 2003, e o crescimento do PIB vinha em queda desde 1998.
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 (…) Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix, foram pioneiros na descoberta de truques de engenharia orçamental para encobrir a verdadeira dimensão das coisas: despesas para o ano seguinte e receitas antecipadas (…)
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A antecipação de receitas foi prática corrente dos governos de Guterres – a começar pelo Pagamento Especial por Conta. A principal alínea de desorçamentação – as SCUTS – despesas atiradas para o futuro, foi também uma invenção dos governos de Guterres.
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(…) Em 2008, quando terminou o seu primeiro mandato e se reapresentou a eleições, o governo de José Sócrates tinha baixado o défice para 2,8%, sendo o primeiro em muitos anos a cumprir as regras da moeda única. (…)
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Em 2008 o défice foi de 3,7%. No mesmo ano, a dívida pública (mesmo sem contar com a dívida desorçamentada) estava em 71,6%, acima dos 60% das “regras da moeda única”. Desde que Cavaco Silva deixou de ser Primeiro-Ministro, Sócrates, conseguir os 3 piores défices. Sócrates teve 5 anos em 6 com défice acima de 3,5%. (aconteceu em 3 anos de Guterres).
(…) E quando se chegou às eleições, o défice nem foi tema de campanha, substituído pelo da “ameaça às liberdades” (…)
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Absurdo. Basta recorder este debate: http://www.youtube.com/watch?v=xSCu5lH0tpg
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“…não me lembro de alguém ter questionado, nesse ano de 2009, a política despesista que Sócrates adoptou a conselho de Bruxelas.”
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Entre muitos, muitos outros, lembro o manifesto assinado por 28 economistas.
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“Pelo contrário, quando Teixeira dos Santos (…) começou a avançar com o PEC, todo o país – partidário, autárquico, empresarial, corporativo e civil – se levantou, indignado, a protestar contra os “sacrifícios” e a suave subida de impostos.”
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Muita gente protestou não contra os sacrifícios mas contra a incipiência das medidas. Por exemplo, este blog.
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“Passos Coelho quase chorou, a pedir desculpa aos portugueses por viabilizar o PEC 3 que subia as taxas máximas de IRS de 45 para 46,5% (que saudades!)”
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Não há motivo para saudades. A taxa máxima de IRS continua em 46,5%.
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O resto do artigo é mais opinativo e menos “factual”. Mas compreende-se que partindo de tantos pressupostos errados, as opiniões não possam valer grande coisa.

Sem querer colocar-me ao nível dos autores das duas análises só posso concluir uma coisa : Miguel Sousa Tavares é evidentemente um fala barato sem qualquer preocupação com o rigor no que diz ou escreve. É um demagogo, cínico e deveras desonesto.

O único problema nisto é que nós bem sabemos o resultado de ter na televisão um personagem a comentar a actualidade usando este tipo de pressupostos. Completo engano.
E como seria de esperar, nem todos se preocupam em encontrar a verdade dos factos. Ficam-se pelos sound bytes e chega-lhes. Julgam, condenam e seguem em frente.

É grave alguém assim ter cobertura mediática ao nível de MST. É tão grave como o desbocado Marinho ou o maquiavélico Marcelo. É grave em todos eles, porque usam essa tribuna para levar avante as suas ambições pessoais. Não é um mero comentário desapaixonado e isento. É ser juiz em causa própria. Big Time.
Eles não servem a informação com o seu comentário. Servem-se da informação e do comentário em seu proveito ou dos seus amigos.

MST é um demagogo mentiroso. Mente conscientemente umas vezes, mente sem saber outras. Mas apenas porque acha que a audiência é tão estúpida ou tem a memória tão curta que nunca vai perceber até que ponto ele mente.

Como dizia alguém num comentário que se seguiu a este post no Blasfémias
O miguel quando devia andar a estudar andava atrás das suecas, diz ele, portanto nunca lhe apanhou o jeito e agora nem suecas nem cuecas. Uma bosta de fidalgote tagarela.