Breve retrato de um país de papagaios
As "coisas" têm um período de graça. Tudo funciona assim.
O caso mais notório é a política.
O português funciona da seguinte maneira:
- Vai votar
- Se o seu partido ganha faz uma festa do caraças. Vai para o Marquês, sai para a rua a buzinar e anda com um sorriso dias a fio. Aproveita para ser sacana com os que votaram nos que perderam. Note-se que não festeja a vitória do seu partido. Festeja a do partido em quem votou, porque um português não tem partido. Isso é para os corruptos dos políticos que são filiados e são uns "mamões"
- Durante uns tempos apoia sectariamente tudo o que o governo decide e farta-se de dizer que ainda deviam fazer mais. As sugestões vão desde o levemente sensato ao delírio mais extremo que se pode imaginar
- Começa a ficar desapontado com o governo porque ele não está a "trabalhar" suficientemente depressa.
- Quando algumas decisões o começam a afectar, começa a mudar de opinião. Já se queixa de "algumas" coisas mas a maioria até esteve bem
- No caso de o governo tomar alguma medida que o começa a afectar verdadeiramente começa a estrebuchar. Ocasionalmente já manda uma bocas alinhadas com os que tinham perdido as eleições. A coisa começa a ficar 50/50. Escolhe alguns membros do governo para ridicularizar. Na maior parte das vezes escolhe uma vítima sobre a qual se dizem "coisas" É um alvo fácil e fica bem estar alinhado com os descontentes.
Como os descontentes começam a perder o medo de falar alinha nisso e concorda algumas vezes. - Chega ao ponto em que há uma medida que o afecta mesmo directamente. Pode ser uma subida de impostos (é a razão favorita) ou a reacção um "rumor" ou notícia. Aí indigna-se contra os que estão no poder e com o poder como um todo. Começa a perder a fé no sistema e apela à revolução. As propostas com que se sai já não são sequer razoáveis. São na maior parte das vezes totalmente delirantes. Comenta todos os assuntos sem saber nem a generalidade nem o detalhe. Já acredita em todos os meios de comunicação que algum tempo antes dizia que não eram credíveis.
- Passa por um período de fúria e desilusão. Fica deprimido e diz que são todos iguais. Perde a noção de causa efeito e começa a criticar por tudo e por nada. Vê na televisão um Audi a sair com um ministro e irrompe numa fúria homicida porque "aqueles cabrões a passear-se com o meu dinheiro". Esquecendo-se que também tem um Audi à porta e que sempre que pode o dinheiro dele não foi parar aos bolsos do fisco. O arranjo que o canalizador fez "lá em casa foi sem IVA, porque já estou farto de pagar para estes fdp"
- Entra num período depressivo e de resignação. A qualquer coisa que se diga sobre o Governo tem sempre um comentário espirituoso e sacana "esse panas*** do ***", "esse devia demitir-se porque ninguém sabe o que anda a fazer", "licenciado? Esse? Licenciado sou eu que fiz o curso no Politécnico do Baixo Minho em Ciências da Religião com 10.."
- Aguarda resignado que não se lembrem que ele existe. Aguarda pelo próximo "cabrão mentiroso" que o consiga convencer a votar no seu partido.
- Vai votar. Desta é que é... (voltar ao início)
Se quiserem aplicar isto ao futebol, é quase igual. Substituam "ir ao bolso" por "derrota" e "governo" por "treinador".
Isto diz bem da consciência política de um país e explica bem porque é que em 38 anos nos roubaram como se tiram chupas a meninos.